(Maurício Vieira/ Hoje em Dia)
Mesmo privatizada e com trechos duplicados, a BR-040 superou os óbitos provocados por acidentes da BR-381, conhecida pelo macabro rótulo de “Rodovia da Morte”. As 75 vidas perdidas no primeiro semestre deste ano colocam a estrada no topo do ranking em Minas. A imprudência dos motoristas é o principal motivo para a inversão nas estatísticas.
Obras de revitalização na 381, que muitas vezes obrigam os condutores a pisar no freio, também podem ter contribuído para o atual cenário. No entanto, o Hoje em Dia mostrou, recentemente, que as intervenções na pista que liga o território mineiro ao litoral capixaba criaram armadilhas. Quem está ao volante precisa trafegar até na contramão para seguir viagem na via, que registrou 65 mortes de janeiro a junho de 2019.
Apesar de atípica, a situação da 040 preocupa autoridades e especialistas. Levando em conta os balanços anuais da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a BR-381 sempre liderou o número de óbitos na malha viária do Estado, desde 2011.
Chefe da assessoria de comunicação da corporação, Aristides Júnior crava que os resultados divulgados refletem a má conduta dos motoristas. Segundo ele, as obras de duplicação da 381 impedem alguns excessos. “Mas a gente observa que na BR-040 as pessoas se arriscam mais com ultrapassagens indevidas, velocidade acima do permitido. Os acidentes, quando ocorrem, são graves”, explica o agente.
Ainda de acordo com ele, as condições da 040, com trechos duplicados e retas contínuas, também favorecem a imprudência dos motoristas. Entretanto, Aristides Júnior acredita que, no fim do ano, há chances de a Rodovia da Morte voltar à liderança. “Historicamente, a BR-381 sempre tem os maiores índices de acidentes e mortes”, disse.Maurício Vieira“Tem dia que espero 30 minutos para atravessar e pegar uma lotação do outro lado. É perigoso demais, fico com medo” (Lourdes Agripino)
Flagrantes na 040
Em um rápido giro pela rodovia, nos mais de cem quilômetros entre Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete, na região Central, vários abusos que aumentam os riscos de acidentes foram flagrados. No trajeto, mesmo duplicado em grande parte, curvas sinuosas exigem atenção redobrada.
Mais de 30 veículos de carga foram vistos trafegando tranquilamente pela faixa da esquerda, desobedecendo as placas obrigatórias – para rodar à direta. Automóveis em alta velocidade e pedestres que desafiavam a própria sorte também são situações recorrentes. Outro perigo é provocado por carros de passeio e caminhões, que cruzam a pista alheios ao tráfego intenso, para acessar ou sair de postos de gasolina e restaurantes.
Para quem mora ou trabalha na região, o receio é diário, como conta o comerciante Wellington Ferreira, de 52. “Meu pai morreu atropelado aqui há quase 40 anos. E eu já vi muitas mortes. É um medo constante”.
Já o frentista Jacinto Vieira, de 37, diz que a distração pode ser fatal, principalmente para os motociclistas. “Venho de moto trabalhar e, depois de ver tantos acidentes, redobrei a atenção. Afinal, fico em uma situação vulnerável”, afirma Vieira.Editoria de Arte
Abusos em alta
A BR-040 tem 773 quilômetros em Minas. Desses, 222 km são duplicados. A extensão da rodovia é outro fator preponderante, reforça o mestre em Engenharia de Transportes Paulo Rogério Monteiro. Para ele, a ausência de canteiro central em alguns trechos contribui. Um dos locais nessas condições fica na altura de Congonhas, também na região Central.
Lá, em 30 de maio, quatro pessoas morreram após uma batida frontal entre um carro e um caminhão. “Nos pontos que não há canteiro, os acidentes são mais graves. A letalidade dos casos aumenta”, diz Monteiro.
Mesmo nos trechos em que a segurança deveria ser maior, devido às obras de melhoria, os abusos acabam tornando a pista perigosa. “Infelizmente, após a concessão, elas (estradas) ficam mais propícias ao excesso de velocidade. Isso, por consequência, aumenta o número de acidentes”, afirma o professor de Segurança Viária do Cefet-MG, Agmar Bento.
Quem também destaca o risco provocado pela incivilidade de quem trafega em trechos duplicados é o especialista em trânsito Márcio Aguiar. “Quanto melhor a condição de trafegabilidade, maior a possibilidade de aumento de velocidade. O que está faltando é fiscalização suficiente para impedir os excessos de velocidade”.Maurício VieiraNo distrito de Pires, em Congonhas, motorista de caminhão faz manobra arriscada para mudar de pista
Relicitação
Em 2017 começou a ser cogitada a devolução da concessão da BR-040, pela Via 040, à União. Segundo a empresa responsável pela rodovia, a “devolução amigável dos contratos” aguarda a regulamentação de uma lei. O processo está a cargo do governo federal. Até que a relicitação ocorra, os serviços continuam.
Dentre eles, segundo a Via 040, obras, manutenção do pavimento, conservação e a melhoria da sinalização. As medidas são realizadas “em pontos que demandam mais atenção dos motoristas”. A concessionária diz ter um núcleo de inteligência que realiza a análise das ocorrências. “Esse trabalho também subsidia campanhas educativas com motoristas e comunidades”.
Também por nota, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) reforçou que a lei que prevê a devolução carece de um decreto de regulamentação. O documento pode ser finalizado nos próximos dias.
(Colaborou Raul Mariano)
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