Brasil cresce, mas inflação continua sendo vilã da economia

Jornal O Norte
28/12/2007 às 11:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:27

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Economistas dizem que crescimento do Brasil foi medíocre tendo em vista as riquezas naturais do país e avanços nos setores da indústria e da agricultura. O crescimento foi de aproximadamente 4,5%, apesar de a inflação ter chegado a 4,3%, ante os 4,0% previstos pelo governo federal. 

Segundo o Relatório de Inflação divulgado nesta quinta-feira, em 2008, a previsão passou de 4,2% para 4,3%.

- O comitê avalia que, desde a divulgação do último Relatório, o balanço de riscos para a trajetória esperada da inflação tornou-se menos favorável, tanto do ponto de vista dos fatores externos como dos internos, afirma o Banco Central no relatório.  

Segundo o BC, ao contrário do que ocorreu em 2006, quando o comportamento da inflação foi favorecido pela - trajetória excepcionalmente favorável- dos preços dos alimentos, a inflação em 2007 tem sido afetada pelo -choque negativo- em escala global desses mesmos preços.

O crescimento foi de apenas 2,9% em 2006, mas o governo federal esperava que em 2007 o quadro mudasse e o PIB- Produto Interno Bruto pudesse alcançar 4,7%, mas não foi possível. O Brasil só ficou na frente do Haiti, que segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística cresceu somente 2,5%.

Na análise sobre crescimento da economia brasileira, no primeiro trimestre deste ano,o resultado da pesquisa do PIB frustrou as expectativas do governo, mas não surpreendeu os economistas. O governo estimava que o PIB alcançasse 3% e o mercado financeiro, 2,7%. No contexto América Latina, o Brasil ainda ficou atrás da Argentina que registrou um crescimento de 8%.

Para alguns especialistas o resultado do PIB trouxe alguns dados positivos, como a expansão de 6,3% na taxa de investimentos, de 4% no comércio e de 3,8% no consumo das famílias.

Conforme noticiou a agência Brasil, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo ressaltou que o resultado do PIB no último trimestre de 2006 - de expansão de 1,1% -já indicava que o crescimento de 2007 seria bem maior e poderia chegar nos 4,5% projetados pelo governo federal para o período.

- Com o PAC- Programa de aceleração do crescimento temos muitas informações positivas. Cabe lembrar que o Banco Central estima um crescimento de 3,8% para o PIB deste ano. Já o mercado financeiro espera avanço de 3,5% - assinala.

Revisão da estatística

A agricultura assim como a indústria contribuíram, para o aumento do PIB desse ano, e confirmou as expectativas do governo. A estimativa de crescimento do PIB para 2007 foi revista de 4,7% para 5,2% desde o último Relatório de Inflação, divulgado em junho de 2007. O BC estima crescimento menor para o próximo ano (4,5%).

Em relação à economia mundial, o BC ressalta que, desde a divulgação do último Relatório de Inflação, o cenário global sofreu – deterioração- cercado por maior incerteza. Apesar disso, a instituição frisa que o dinamismo da economia deve continuar ao longo dos próximos trimestres, favorecido por diversos fatores, como a expansão do crédito e do emprego.

O economista e professor do curso de administração da Unimontes, Márcio Antônio Alves Veloso diz que apesar de o crescimento ter sido pífio se comparado a outros países em desenvolvimento, o Brasil ainda pode melhorar nos próximos anos. Enquanto países como a China, Rússia, entre outros crescem 10% ao ano e outros, como a Argentina, 8%, o Brasil ficou com crescimento na casa dos 2,9%, em último levantamento divulgado no primeiro semestre.

- Isso não é mal do jeito que muitos especialistas estão falando. Se o país continuar com crescimento trimestral de 1,1% a chance de o Brasil sinalizar para um crescimento de 4,5%, se somados os quatro últimos trimestres será uma conquista. Portanto, pode-se dizer que nos últimos quatro trimestres o país avançou 3,8% e se continuar nesse ritmo as perspectivas são as melhores.

Márcio ainda falou que o país pode comemorar a queda dos juros que não tem caído na velocidade esperada, mas tem reduzido. Segundo ele, essa queda pode ser verificada se comparar a média histórica dos juros de 1995 a 1998, que perfazia a casa dos 22%, e de 2003 a 2006, quando a taxa caiu pela metade, ficando em 11%.

Quem se destacou

Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, o maior destaque foi a agropecuária (7,2%), seguida pela indústria (1,8%) e pelos serviços (1,2%).

Em relação ao terceiro trimestre de 2006, o maior destaque foi a agropecuária, seguida pela indústria e pelos serviços.

Na atividade industrial (5%), o destaque foi a indústria de transformação (5,7%), beneficiada pelo desempenho da fabricação de produtos químicos, máquinas e equipamentos, material elétrico e do setor automotivo. A construção civil cresceu 5%, seguida pela eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (3,8%). Por fim, a indústria extrativa mineral atingiu 2% de crescimento, em grande parte decorrência do aumento de 1,3% na produção de petróleo e gás e de 11,8% na produção de minério de ferro. 

A taxa de agropecuária, que registrou crescimento de 9,2%, pode ser explicada em grande parte, segundo o IBGE, pelo desempenho de alguns produtos como o trigo e a cana-de-açúcar, com estimativas de crescimento de produção, neste ano, de 59,3% e 13,1%, respectivamente.

Capital fixo

A formação bruta de capital fixo também tem apontado melhoras devido à renovação do parque industrial e da aquisição de máquinas e de equipamentos para produção. Esse setor apareceu na pesquisa com crescimento de 6,3%.

Para o economista empresas como a Novo Nordisk e a Coteminas, que atuam no mercado internacional e estão em atividade em Montes Claros, a renovação do parque industrial é sempre cogitada a fim de melhorar o produto e oferecer mais qualidade para o consumidor final.

O Programa de aceleração do crescimento continuará, na visão dele, como outro ponto que pode contribuir para a economia brasileira, apesar da morosidade em colocá-lo em prática, afirma.

Como o Norte de Minas tem aptidão pela fruticultura certamente, conforme Márcio, a região contribuiu para o crescimento da agricultura.

- O único problema é que o PIB brasileiro apresenta surtos; um crescimento não sustentado todos os anos. Em 2005, o PIB nacional ficou em 2,3%, e em 2006, 2,9%, o que mostra que não é difícil voltar a cair se não houver uma forte política econômica do governo - conclui.

CRESCIMENTO ESPONTÂNEO

A economia brasileira cresceu 5,7% no terceiro trimestre do ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. O crescimento superou o trimestre anterior, que ficou em 5,4% - até então, a maior alta desde 2004. Naquele ano, o crescimento no segundo trimestre havia sido de 7,5%, e no primeiro semestre, de 6,4%. Na comparação com o trimestre anterior, o PIB brasileiro cresceu 1,7%, na série com ajuste sazonal, mantendo a trajetória de crescimento iniciada no primeiro trimestre, segundo o IBGE.

O PIB reflete a soma de todas as riquezas produzidas por um país durante um determinado período. Entre julho e setembro, essas riquezas somaram R$ 645,2 bilhões. No segundo trimestre, foram R$ 630,2 bilhões. Segundo o IBGE, o PIB acumulado dos últimos quatro trimestres também registrou o maior crescimento desde 2004. Nessa comparação, o PIB cresceu 5,2% no terceiro trimestre de 2007. A última alta acima de 5% havia sido registrada no terceiro trimestre de 2004, de 5,7%.

Outra comparação também confirma o bom resultado do PIB nacional: de janeiro a setembro, a alta foi de 5,3%.

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