Brasil e Noruega tentam acertar impasse sobre clima

Giovana Giradi, enviada especial
03/12/2012 às 18:02.
Atualizado em 21/11/2021 às 19:01

As negociações climáticas na Conferência das Partes (COP)em Doha entraram nesta segunda-feira (3) em sua etapa final com os principais pontos que precisam ser resolvidos ainda abertos, o que deixa sua solução para os ministros de Estado. Na tentativa de facilitar o processo, o presidente da COP, Abdullah Bin Hamad Al-Attiyah, convocou o Brasil e a Noruega para fazer consultas com os ministros a fim de tentar destravar os trabalhos.

Seguem dúvidas, por exemplo, sobre quanto tempo o novo período do protocolo deve ficar em atividade, se até 2017 ou até 2020, mas principalmente o que será feito com o chamado "hot air" - uma espécie de poupança de emissões reduzidas que países como Rússia e Polônia possuem, por diminuir mais do que o necessário, e querem agora carregar para as novas metas.

No caso da Rússia, é ainda mais complicado porque o país não quer mais se comprometer com o Protocolo de Kyoto, mas continuar usando a flexibilidade do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, negociando créditos.

"Apesar de não quererem metas quantificáveis mandatórias de redução, eles querem comprar créditos. Essa é uma conversa de alta sensibilidade política e tem de ser resolvidas até o final desta semana", diz o presidente da COP.

Ao colocar no jogo o Brasil, que nas últimas COPs tem desempenhado um papel de resolver impasses, e Noruega, que vai seguir em Kyoto e é um país que tem dado ajuda financeira para ações de redução de emissões, Hamad Al-Attiyah pode ter enfim atuado para mediar os conflitos.

Um pouco mais cedo, a comissária do clima da União Europeia, Connie Hedegaard, tentou minimizar o problema do "hot air", que vem sendo considerado uma ameaça para a continuidade do Protocolo de Kyoto. "Há uma questão, estamos lidando com ela. Temos de entender que há a formalidade e há a realidade. A realidade é que já está na lei da União Europeia que, a partir de 1.º de janeiro de 2013, quem não estiver no segundo período de compromisso não poderá usar isso para negociar."

Financiamento

Assim como aconteceu em outras COPs e também na Rio+20, a questão do financiamento de países desenvolvidos para ações de mitigação e adaptação segue sendo um problema. Em 2012 termina um período de compromisso rápido, iniciado em 2010, que implicava investimento total de US$ 30 bilhões. As nações ricas estão dizendo que cumpriram, mas ainda está sendo avaliado se realmente se tratou de dinheiro novo ou de "reempacotado", como alega a ONG Oxfam.

Para o ano que vem, teria de ser iniciado um novo compromisso, que deve resultar em financiamento de até US$ 100 bilhões em 2020. Em Doha, era de se esperar que fosse ao menos desenhado um mapa do caminho para atingir esse resultado, com a verba sendo distribuída ao longo dos anos.

No fim da semana passada, os países do G-77 (que reúne desde Brasil, Índia e China a nações bem menos desenvolvidas e estados-ilha) sugeriram que US$ 60 bilhões sejam entregues até 2015, mas tanto União Europeia como Estados Unidos, apesar de se dizerem comprometidos com a meta, não estão parecendo dispostos a anunciar novidades. "Estamos comprometidos em mobilizar o fundo para 2020", limitou-se a dizer o chefe das negociações americanas, Todd Stern.

A repórter viaja a convite da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC).
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