Informação é de um estudo da ClearSale; em valores, o total chega a R$ 2,5 bilhões
(Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
As compras feitas pela internet fazem parte da vida dos brasileiros. Muitos comerciantes encontraram no e-commerce — loja que comercializa produtos em um ambiente virtual — uma oportunidade para aumentar os negócios. E muitas lojas físicas já se adaptaram às vendas presenciais e digitais. A prática do e-commerce oferece inúmeras vantagens. Mas os consumidores devem ficar bem atentos para evitar sérios prejuízos. Cresce cada vez mais o número de quadrilhas especializadas prontas para aplicar golpes online e conseguir roubar dados pessoais dos potenciais clientes das lojas virtuais .
Com o crescimento exponencial das vendas e transações por sistemas digitais, o advogado especializado em direito digital Mario Paiva diz que as pessoas mal intencionadas também se adequaram a esse novo formato. Segundo ele, tornou-se um mercado atrativo para criminosos. “As compras realizadas na internet são compras seguras, mas precisam ser acompanhadas de cuidados mínimos por parte do consumidor”, avalia.
Só no primeiro semestre de 2023, o Brasil registrou 2 milhões de tentativas de fraude, segundo o Mapa da Fraude da ClearSale. O estudo mostrou um valor somado que supera os R$ 2,5 bilhões em esquemas aplicados em diferentes segmentos. Esse número representa uma queda de 50,6% no número de tentativas de fraude comparado ao mesmo período do ano passado. No entanto, apesar de quedas nos números gerais, o valor médio das tentativas de fraudes foi de R$ 1.273, crescimento de 4,1% a mais que no primeiro semestre de 2022,
Para o Superintendente Comercial da ClearSale, Matheus Manssur, os dados refletem a baixa do mercado e a queda do poder de consumo dos brasileiros. “A gente sabe que poder de consumo hoje está em queda por conta do cenário do Brasil — e isso acaba afetando diretamente as vendas dos mercados lícitos e também o poder de consumo cai relacionado à compra dos produtos ilícitos. E o segundo fator que a gente coloca é a alta inadimplência e falta de crédito que fazem com que tenhamos pouca dimensão de cartões de créditos”, explica.
A região Norte (2,6%) segue apresentando o maior índice percentual de tentativas de fraudes sobre a quantidade de transações, seguida do Nordeste (2,2%). Centro-Oeste (1,6%) e Sudeste (1,6%), com um empate, fecham o TOP 3. No entanto, ao considerar apenas números absolutos, a região Sudeste, com 47,1 milhões de pedidos, contou com o maior número de fraudes do país. “Quando você olha a taxa de fraude, historicamente, essas taxas são mais altas no Norte e Nordeste, mas isso não quer dizer que são as regiões com maiores tentativas do número de fraudes porque quando você pega o número nominal do Sudeste você tem que o Sudeste realmente é a região que mais tem tentativas de fraudes nos números nominais. A comparação que você faz é que a taxa do Sudeste é menor porque o total de vendas dessa região é muito grande comparado as outras regiões, então a taxa no Sudeste fica um pouco menor em comparação com essas que saem como as top 3”, destaca o superintendente.
O advogado especialista em direito criminal, Guilherme Almeida, revela que o estelionato eletrônico tem se tornado cada vez mais comum. “A marginalidade vai se atualizando ao longo do tempo. Antigamente, tinham aqueles estelionatos de bilhetes premiados onde uma pessoa encontrava outra na rua e oferecia um bilhete premiado e a outra pessoa quando ia na lotérica não encontrava nada. Atualmente, há uma atualização e os criminosos conseguem os dados de uma determinada pessoa e começam a praticar tentativas de estelionatos, às vezes, contra a própria família, pelo WhatsApp. Esse é um dos crimes que mais crescem”, relata.
Os estelionatos cresceram ao longo dos últimos anos pela facilidade que esse tipo de crime oferece. Só em 2022, foram 1.819.409 ocorrências, o que significa um crescimento de 326,3% em quatro anos nessa modalidade, aponta a 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com a pesquisa, 208 golpes por hora estabelecem o estelionato como “o crime da moda”. O funcionário público, Otavio Augusto Nascimento, foi uma dessas vítimas.
“Eu tive meu cartão clonado por mais de uma vez. Tive que fazer boletim de ocorrência, cancelar o cartão no banco. Fiquei um tempo sem cartão e isso causou um transtorno pra mim. Eu tive que aguardar mais de um semana para fazer um cartão novo, contestar compras junto ao banco que foram realizadas pelos estelionatários. Situação muito ruim”, detalha.
Para o advogado especializado em direito digital, Mario Paiva, muitas fraudes poderiam ser evitadas com alguns cuidados. “A grande maioria dos golpes e das fraudes acontecem por erros cometidos pelos próprios consumidores ao não verificar as páginas que estão veiculando os produtos, ao não observar o link que se encontra no seu computador, ao responder e-mails de órgãos que não mandam emails, e-mails que não são efetivamente das lojas que vendem produtos pela internet. Por isso, não forneça jamais senhas, os seus dados! — então, as pessoas têm que tomar muito cuidado”, alerta.
O especialista acrescenta que também é importante que os donos dos estabelecimentos estabelecem boas práticas voltadas para a proteção das suas lojas virtuais para garantir uma compra segura e evitar riscos e dores de cabeça dos consumidores.
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