Briga no Ibram

16/11/2016 às 15:41.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:40

Ao contrário de outras entidades de representação empresarial, o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) nunca foi palco de grandes disputas políticas. Por conta da preponderância da Vale na mineração brasileira, a empresa sempre deu as cartas na entidade, apesar de seu estatuto prever rotatividade entre os associados na Presidência do Conselho Diretor. Mas, desde o acidente da Samarco, o clima mudou.

De acordo com uma fonte de dentro do Ibram, existe uma insatisfação crescente entre os diretores em relação à postura da Vale de tentar se desvincular do acidente de Mariana, mesmo sendo dona de metade da Samarco (a outra metade é da gigante australiana BHP Billiton). E, ainda maior, de a Vale tentar impor a mesma conduta ao Ibram.

Hoje, o presidente do Conselho Diretor do Ibram é Clovis Torres, que ocupa na Vale o portentoso cargo de diretor de Recursos Humanos, Sustentabilidade, Integridade Corporativa e Consultoria Geral. É, na verdade, o braço direito do presidente Murilo Ferreira.

Torres sucedeu Ricardo Vescovi na presidência do Conselho Diretor. Vescovi era o presidente da Samarco por ocasião do acidente de Mariana e deixou a direção da entidade por motivos óbvios.

Demonização
De acordo com a fonte, as demais empresas do setor reclamam da “demonização” da mineração após o acidente da Samarco. A burocracia para se conseguir licenciamento ambiental para projetos tornou-se praticamente intransponível, e ainda pior para implantação ou ampliação de barragens de rejeitos. E o Ibram, que deveria estar liderando um processo de defesa institucional da atividade, teria se recolhido. “Não se reúne com governo, não se reúne com o MP, não defende a atividade na mídia... Continua promovendo almoços e eventos para associados”, disse a fonte.

Pressão
Fora o descontentamento no Ibram, Torres está com o cargo ameaçado na Vale. O PMDB e aliados políticos do presidente Michel Temer fazem forte pressão para a troca de Murilo Ferreira da presidência da Vale, que foi indicado por Dilma. Seu mandato vence em abril do próximo ano, mas a pressão é para que saia antes disso. Se cair, é quase certo que seu braço direito também deixe a empresa.

A favor de Murilo está o mercado financeiro, que aplaude sua gestão à frente da empresa focada na gestão do caixa e corte de custos. No terceiro trimestre, a empresa reverteu o prejuízo para um lucro de R$ 1,8 bilhão, o que foi entendido pelo mercado como superação da crise.

Se cair, será por ingerência política. Mas suas chances de ficar também são grandes. A Vale, como se sabe, é uma empresa privada, mas controlada pela Valepar, que é integrada basicamente por fundos de pensão mais o BNDES. Resta saber para que lado caminharão os fundos, sempre fidelíssimos ao PT, agora com Temer na Presidência.

Coura
Outra mudança no Ibram foi o afastamento temporário de Fernando Coura da presidência executiva da entidade, por 60 dias, anunciada na reunião do Conselho da última terça-feira. O afastamento não tem qualquer relação com disputas internas. Coura pediu licença por motivo de saúde de familiares.

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