A comercialização de linhas cortantes, como cerol ou linha chilena é proibida pela lei 23.515/2019, com multas de R$ 3.590 a R$ 179 mil em casos de reincidência (Hoje em Dia)
Somente nos quatro primeiros meses deste ano, o cerol - mistura de vidro e cola - utilizado nas linhas de pipas e papagaios deixaram 52 mil famílias sem energia elétrica na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo a Cemig. O levantamento da Companhia aponta que, entre janeiro e abril, aconteceram 172 cortes em fios de energia que tiveram contato com cerol.
Como a mesma estrutura elétrica atende diversas casas e estabelecimentos comerciais, foram contabilizados mais de 52 mil pontos sem luz na Grande BH. Isso significa que o problema afetou 433 famílias por dia ao longo de quatro meses.
Em todo o Estado, este número chega a dobrar, já que três interrupções de energia são registradas diariamente em Minas, com 300 cabos arrebentados somente nos quatro primeiros meses do ano. De acordo com a Cemig, o tempo de espera para que o abastecimento seja restabelecido é de, no mínimo, duas horas e meia.
Somente no ano passado, foram 2.202 ocorrências na rede elétrica nos municípios atendido pela Cemig em Minas, prejudicando 750 mil unidades consumidoras, residenciais e comerciais.
Crime
A lei estadual 14.349/2002 proíbe o uso de cerol ou de qualquer outro tipo de material cortante nas linhas de pipas, papagaios e artefatos semelhantes. Quem é flagrado utilizando o cerol está sujeito ao pagamento de multa, que varia de R$ 100 a R$ 1,5 mil.
Mas apesar de ser crime, a ausência de chuva somada às férias escolares fazem desta época do ano o período com maior número de crianças e adolescentes que realizam competições no céu utilizando a mistura. Além de transtorno, essa prática também pode acabar em acidente.
Perigo
A mistura de cola de madeira e pó de vidro aplicada nos barbantes de pipas e papagaios pode ser incrementada, ainda, com uma mistura decompostos que são condutores de radiação, como o pó de alumínio e ferro. Com isso, o toque nos cabos pode provocar choques.
“O contato dos elementos com a rede elétrica faz com que o brinquedo fique energizado. Dependendo da descarga, pode ser fatal”, ressalta o engenheiro de Segurança do Trabalho da Cemig, Demétrio Aguiar.
Com o rompimento do cabo de energia, o chão e as imediações do lugar em que o fio toca também podem ficar fortificados, resultando em descargas elétricas. “No momento em que se rompe, o cabo pode atingir alguém e até ferir. Mesmo que isso não aconteça, o perigo está instalado e a concessionária de eletricidade deve ser acionada”, orienta o tenente do Corpo de Bombeiros Militar, Pedro Aihara.
Segundo ele, acidentes também acontecem quando a linha do papagaio se enrosca nos cabos e a meninada tenta retirar com pedaços de madeira e barras metálicas. “O objeto não deve ser resgatado, então o melhor é empinar pipa em lugar aberto e longe de fiação”.
Apesar dos perigos com a rede elétrica, os principais índices de acidentes estão relacionados a lesões no pescoço de motociclistas. “É importante que estes condutores utilizem os equipamentos de proteção, principalmente o colar cervical e as antenas corta pipa. Ferimentos na cervical são graves e podem ser fatais”, conclui o militar.
No último mês, 13 pessoas ficaram feridas desta forma e foram encaminhadas para o Hospital Pronto Socorro João XXIII.