Sem fiscalização

'Camelódromos' tomam conta das passarelas do metrô de BH

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 25/03/2023 às 09:40.
Registro de comércio sem fiscalização nas passarelas de BH (Rogério Lima)

Registro de comércio sem fiscalização nas passarelas de BH (Rogério Lima)

As passarelas de acesso às estações do metrô de Belo Horizonte viraram camelódromos, onde é possível encontrar quase todo tipo de produto e serviço –de roupas usadas e sapatos velhos a reparos e conserto de chuveiros. Os espaços públicos são um retrato da alta informalidade (que atinge 42% da população ocupada no Estado) e do desemprego, que chega a 5,8% em Minas.

Na Eldorado, por exemplo, uma violinista se apresenta nos corredores à espera de alguns trocados. A passarela que liga a Gameleira ao caminho para a PUC Minas está sempre “enfeitada” por bolsas e meias. 

Na passarela da estação Lagoinha o movimento é ainda mais intenso. Nesse mercado a céu aberto, o ambulante Pedro tenta convencer quem por ali passa a comprar água, cerveja ou óculos em uma banca improvisada. “Mesmo com o sol quente as pessoas não estão comprando muita água, não. Os negócios estão difíceis. Acho que o comércio tá ruim é pra todo mundo”, lamenta.

Em outro canto, na tarde de ontem um jovem buscava restos de refrigerante nas lixeiras ao mesmo tempo em que vendia sapatos usados e roupas velhas em uma toalha estendida no chão. 

As vendas minguadas dos últimos tempos chegam a ser quase um problema menor no dia a dia de quem precisa recorrer à informalidade para sobreviver. O medo da fiscalização e o risco de perder as mercadorias é constante. Com a privatização do metrô, há agora o temor de perder os pontos de venda com anunciada reestruturação das estações. 

“Durante a greve foi muito difícil; eu parei de vir. Com a história da privati-zação a gente não sabe o que vai acontecer. Se eles começarem a mexer muito aí, tenho certeza que vai aparecer fiscalização pra tirar a gente”, lamentou uma das vendedoras de bolsa que expõe seus produtos na passarela da Gameleira. Ela conta que está há quatro anos no mesmo local e a amiga, com quem divide o espaço, trabalha o dobro do tempo. 

O excesso de bancas, tapetes no chão e o assédio de alguns vendedores não agrada a todo mundo que precisa atravessar as passarelas. Dona Juliana Moura, de 72 anos, diz que às vezes sente medo. “A idade já não ajuda muito pra subir e andar essa distância toda, e ainda fica o pessoal o tempo todo gritando, insistindo, às vezes assusta”, diz, ao caminhar pela Lagoinha.

Responsável pela fiscalização em vias públicas, a Prefeitura de BH disse em nota que a atuação é regular. “A equipe da Subsecretaria de Fiscalização realiza ações de fiscalização de rotina nas atividades dos ambulantes nas passarelas. Irregularidades podem ser denunciadas pelo telefone 156, aplicativo PBH APP ou pelo portal de serviços da PBH”, informa. Não houve respostas sobre a quantidade de ambulantes já retirados dos espaços após as fiscalizações nem qual foi a data da última operação realizada na cidade. 

Lojas

O contrato de concessão do metrô de BH à iniciativa privada foi assinado entre o Governo de Minas e a empresa Comporte, vencedora do leilão de privatização realizado no fim de 2022 na última quinta-feira (23). Nele estão previstos investimentos de R$ 3,7 bilhões, que incluem alterações na estrutura das estações. A assessoria da empresa não soube informar, até o momento, como serão tratados os contratos com comerciantes formais dentro das estações, nem quais serão as intervenções em áreas próximas às unidades, como as passarelas. 

O comerciante Vander Cristiano, que tem uma banca de revistas na estação Lagoinha, disse que ninguém fez nenhum contato ainda para falar de futuro. “Não sabemos de nada. Ninguém fala nada. O que a gente fica sabendo é através da imprensa. Nem os funcionários sabem direito o que vai acontecer”, destaca.

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