(Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A possibilidade de uma nova greve dos caminhoneiros nesta segunda-feira (10) acende um alerta na população, mas também divide os próprios motoristas de caminhões. Alguns são contra a paralisação por considerarem que uma greve, agora, em período de pouca carga e sem safra, não surtiria muito efeito. Outros defendem que o grupo precisa realizar o ato para não demonstrar fraqueza.
A motivação para uma nova paralisação é uma decisão da última semana do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que suspendeu a aplicação de multas para quem descumprir a tabela de preço mínimo de frete. Logo após a divulgação da decisão, os caminhoneiros voltaram deliberar em grupos de WhatsApp sobre fazer ou não uma greve em resposta à decisão.
Vale lembrar que a paralisação que aconteceu em maio, e gerou grandes consequências no país, teve apoio de parte da população e também das empresas, especialmente do agronegócio e de transportes, devido ao aumento no preço dos combustíveis. Mas é difícil prever como a população reagiria a uma greve neste momento.
Entre os motoristas que são contra uma possível greve nesta segunda, há quem argumente que o país está às vésperas do início da administração de Jair Bolsonaro e deve-se "dar tempo" para o futuro presidente começar os trabalhos e, quem sabe, tomar decisões favoráveis à categoria.
Já entre os caminhoneiros a favor da greve, o argumento é que deixar passar em branco o revés sofrido com a decisão do STF pode demonstrar franqueza do grupo, já que a decisão tem sido vista como uma grande derrota dos motoristas.
Para tentar acalmar os ânimos, o líder dos caminhoneiros Wallace Landim, conhecido como Chorão, postou um áudio do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que será o novo ministro da Cidadania do governo Bolsonaro. Ele afirma que, apesar da decisão de Fux, a lei continua valendo e é ilegal não cumprir a tabela.
O deputado alerta, porém, para os riscos de a categoria perder força com uma paralisação agora. "Greve deve ser uma arma para ser usada em último caso", disse. O fato é que há uma insatisfação muito grande entre os caminhoneiros, que aumentou com a liminar contra as multas.
"A greve não está fora do radar, mas é o último recurso", disse o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer. "O movimento está bem dividido entre os que querem um confronto direto com o STF e os que acham que ainda tem espaço para avançar pela negociação".
Mas a paralisação não está descartada, disse Alexandre Fróes, de Santa Catarina. "Estamos em conversa direta com o futuro ministro (da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas) e com o capitão (o presidente eleito, Jair Bolsonaro)".
Para Litti, há como avançar pela área administrativa. Ele defende que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) acelere os trabalhos para implementar um sistema eletrônico de controle do pagamento do frete. Hoje existe um documento obrigatório para os serviços de transporte por caminhão chamado Código Identificador da Operação de Transporte (Ciot).
A proposta é que ele só seja emitido se o preço do frete estiver de acordo com os pisos mínimos. Assim, não seria mais necessário fiscalizar em rodovias nem aplicar multas.
* Com Estadão Conteúdo
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