A costureira Cristina de Freitas, de 42 anos, levou um susto quando pagou a passagem de ônibus na manhã desta segunda-feira em Campinas. A tarifa de ônibus na maior cidade do interior de São Paulo passou a ser a mais cara do Brasil neste domingo (02). O preço subiu de R$ 3,00 para R$ 3,30 - acima até mesmo do valor pago nas maiores capitais brasileiras.
Em São Paulo, por exemplo, a passagem de ônibus custa R$ 3,00, no Rio de Janeiro, R$ 2,75, em Belo Horizonte, R$ 2,65. A prefeitura de Campinas concedeu reajuste de 10% para as empresas de ônibus, além de aumentar o subsídio pago às operadores do sistema, de R$ 28 milhões para R$ 40 milhões.
"Acho um absurdo um preço desse. Assim, logo vai ser mais vantagem a gente pagar táxi na cidade, do que andar de ônibus", disse a costureira, pega de surpresa pelo aumento. As empresas de ônibus apresentaram uma proposta para a prefeitura para que a tarifa fosse reajustada para R$ 3,80 - o equivalente a 27% de aumento.
O prefeito de Campinas, Pedro Serafim (PDT), autorizou o aumento e ressaltou, em nota, que o porcentual é inferior à alta no custo de operação do sistema. Segundo a Empresa de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), esse custo operacional teria avançado 12,39% no período. A prefeitura ressalta ainda que foram considerados os aumentos dos insumos, como os salários dos motoristas (11,73%).
Circulam pelo sistema de ônibus de Campinas cerca de 600 mil passageiros por dia. A Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas (Transurc) alegou que a necessidade de aumento se deve ao equilíbrio econômico e financeiro do contrato.
"Entre vários fatores, o índice de pessoas que não pagam passagem em Campinas é alto. Cerca de 28% das pessoas que andam de ônibus não pagam passagem na cidade, por causa das gratuidades, com idosos, deficientes e estudantes, e principalmente pelo sistema de integração do bilhete único", explicou o diretor de Comunicação da Transurc, Paulo Barddal.
As empresas de ônibus, que têm cerca de 1 mil veículos dos cerca de 1,3 mil que compõem o sistema, atribuem, entre outros fatores, o alto custo das despesas com salários para justificar o preço. Cerca de 50% da composição de gastos na planilha que calcula o valor a ser cobrado na tarifa, são dos salários, encargos e benefícios.
Em Campinas, um motorista recebe um salário de R$ 1.728,40. Em São Paulo, o salário é de R$ 1.776,60, no Rio, R$ 1.618,06, e em Belo Horizonte, R$ 1.481,48, segundo dados da Transurc. Outro fator que diferencia o valor da tarifa local da de São Paulo são os subsídios.
"Desde 2010, o subsídio pago pela prefeitura é de R$ 28 milhões. Em São Paulo, era de R$ 400 milhões e este ano foi de R$ 880 milhões", explicou o diretor.
"Em Campinas, ao longo dos anos, tem crescido a integração, mas o número de passageiros pagantes tem permanecido estagnado. Quem paga a passagem, vai pagar mais caro, porque muita gente fica fora do cômputo na hora do cálculo. Tudo isso influencia no custo da passagem", afirmou Barddal.
Para o aposentado Pedro Dório Santos, de 54 anos, por esse preço, os serviços deveriam ser de primeiro mundo, ironiza. "Pagamos um preço que não se justifica. O transporte tem que ser público, acessível ao público. Não algo para poucos", criticou.
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