Candidatos usam último debate na TV para atacar Bolsonaro, a polarização e buscar votos para domingo

Da Redação
05/10/2018 às 01:09.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:48
 (Reprodução/Globo)

(Reprodução/Globo)

Sete candidatos à Presidência da República participaram, na noite desta quinta-feira (4), do último debate em TV aberta antes das eleições do próximo domingo (7). No embate da Rede Globo, comandado pelo jornalista William Bonner, que teve quatro blocos, os presidenciáveis se revezaram nos ataques, mas sempre com foco nos candidatos que dominam as pesquisas. Participaram do programa Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (Psol), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede). O candidato Jair Bolsonaro (PSL) também foi convidado, mas em recuperação do atentado sofrido em Juiz de Fora, foi recomendado pelos médicos a não participar.

Já no início, Ciro Gomes e Marina Silva repetiram a "dobradinha" do último debate presidencial e aproveitaram a primeira pergunta para criticar a polarização entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), sugerindo um novo caminho. "Não acredito que, a permanecer essa polarização, se tenha possibilidade de governar o Brasil", respondeu Marina a Ciro, o primeiro a fazer pergunta no debate.

"As palavras de Marina são sábias e o brasileiro que está ouvindo que ainda não decidiu seu voto, deve ouvi-las. O que está em jogo aqui não é paixão partidária nem o ódio, mas milhões de desempregados", disse Ciro, para quem a eleição deste ano caminha para repetir a trajetória de ódio que marcou o período após a eleição de 2014, que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e a chegada ao poder do vice, Michel Temer (MDB).

Na sequência, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, fez uma crítica aos governos do PT em sua pergunta, dizendo que eles foram responsáveis pela "grande crise" por que passa o País. Em resposta, Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (Psol), que fez a pergunta seguinte, tentaram ligar o PSDB ao governo do presidente Michel Temer.

"Quero saber se o candidato vai manter o modo de governar do PT", questionou o tucano a Haddad. Em sua resposta, o petista lembrou que o governo Fernando Henrique Cardoso aumentou a carga tributária e teve, ao mesmo tempo, alta da relação dívida/PIB. Para o petista, os responsáveis pela crise foram o PSDB e a oposição ao segundo governo de Dilma Rousseff, que agiram para aprovar pautas bombas e acelerar o processo de impeachment. "Isso que levou país a crise, não a política responsável da Dilma", disse o petista, lembrando que o PSDB teve quatro ministros no governo do emedebista.

"O PT terceiriza a responsabilidade. O PSDB está fora do governo há 16 anos, o que FHC tem a ver com isso?", retrucou Alckmin. "Quem quebrou o Brasil foi o PT e Dilma, quando disse que ia fazer o diabo para ganhar eleição. Nem PT nem Bolsonaro vão tirar o Brasil da crise", defendeu.

Na pergunta seguinte, Boulos também relacionou o PSDB ao governo Temer, lembrando que o partido apoiou a reforma trabalhista. Em sua resposta, Alckmin disse que direitos não foram tirados. "É uma Inverdade o que está colocado. O que fizemos foi acabar com 17 mil sindicatos mamando no imposto sindical", disse. O ex-governador aproveitou ainda para retrucar Haddad: "quem escolheu o Temer foi o PT, duas vezes." 

Psol x PSDB

Em sua segunda pergunta a Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, voltou a relacioná-lo com o governo do presidente Michel Temer (MDB) ao abordar o presidenciável sobre custo-Brasil. O psolista questionou o conceito lembrando que existem muitos incentivos fiscais a grandes empresários concedidos pelo governo federal e afirmou que apenas o governo de São Paulo concedeu R$ 15 bilhões em "bolsa-empresário" no Estado, mais do que se gasta com as universidades estaduais.

Em sua resposta, Alckmin reiterou que a reforma trabalhista não retira direitos do trabalhador e disse que vai trabalhar pela reforma tributária, que pode ajudar a mitigar o problema do custo-Brasil e lembrou que seu governo em São Paulo teve superávit fiscal investindo em obras e até reduzindo tributos sobre produtos como o ICMS do pão, macarrão e bolachas sem recheio. O tucano disse ainda que vai caminhar com novas estatizações e lembrou que apenas o PT criou 43 estatais.

"Vou trabalhar para não eleger nem o PT nem o Bolsonaro. Nenhum dos dois vai resolver a crise ou o custo-Brasil", disse Alckmin.

Momento quente

Os candidatos Alvaro Dias (Podemos) e Fernando Haddad (PT) protagonizaram um debate bastentes ríspido. O ex-governador do Paraná brincou que quer entregar, através do ex-prefeito, uma pergunta ao "verdadeiro candidato do PT", o ex-presidente Lula. Dias disse ainda que o partido roubou dinheiro público utilizando, para isso, estatais como a Petrobras.

Em sua resposta, o Haddad pediu "mais compostura" a Dias, que tem extrapolado os tempos destinados a suas falas no programa, e fez um discurso voltado à economia. O petista disse que pretende retomar o crescimento econômico diminuindo o fardo sobre os mais pobres e incentivando o consumo. Haddad prometeu ainda "enquadrar os bancos, que cobram juros extorsivos".

Provocado novamente por Dias em sua réplica, Haddad disse ainda que o valor de mercado da Petrobras passou US$ 15 bilhões para US$ 80 bilhões durante a gestão petista. "Vou retomar o petróleo da Petrobras para investir em saúde e educação. Você votou uma lei para alienar aos americanos o que é do brasileiro", retrucou o petista.

Foco no Bolsonaro

Os candidatos Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) aproveitaram uma pergunta sobre meio ambiente para fazer uma "parceria" e tecer críticas a Jair Bolsonaro (PSL), que não participou do debate por orientação médica.
Haddad, que comentava sobre desenvolvimento sustentável, disse que o capitão reformado do Exército é apoiado por "ruralistas arcaicos", que estão querendo retroceder com o Brasil."

Ciro, além de criticar o candidato do PSL, utilizou a deixa para criticar a polarização que o PT ajudou a introduzir no País. Para ele, o partido perdeu a condição política de reunir a população brasileira. "Boas ideias necessitam de ambiente político para enfrentar o fascismo e a radicalização estúpida que Bolsonaro representa", afirmou.

Marina ataca polarização

A candidata Marina Silva (Rede) voltou a criticar a polarização entre as candidaturas de Jair Bolsonaro (PSL) e o PT nas eleições deste ano. Se voltando a um dos polos desse embate, a ex-senadora disse que o Partido dos Trabalhadores ainda não fez uma autocrítica e perguntou se Fernando Haddad (PT) pode fazê-lo.
"Bolsonaro amarelou, deu entrevista para a TV Record e não quis vir aqui", comentou Marina antes de questionar o ex-prefeito de São Paulo.

Em sua resposta, Haddad disse que é candidato porque o ex-presidente Lula foi injustamente condenado e que o projeto petista de governo deu, sim, certo. "Falam que Lula é radical, mas o ex-presidente abriu as portas do Palácio do Planalto a todos, do servente de pedreiro ao banqueiro. E governou olhando para os mais pobres", defendeu.

Marina disse que lamentava a falta de autocrítica petista e atacou o "bolsa-empresário" que foi gestado nos governos petistas. Haddad, na tréplica, disse que ela estava sendo injusta. "Dei muitas entrevistas reconhecendo erros que foram cometidos. Mas não vou jogar a criança com a água do banho", disse, lembrando de conquistas do período, como um saldo de 20 milhões de empregos.

Teto de gastos

O candidato Ciro Gomes (PDT) voltou a defender a revogação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 95, conhecida também como PEC do teto. Para o pedetista, a emenda impede crescimento dos gastos em saúde, educação e segurança.

O ex-governador do Ceará, que fez pergunta a Henrique Meirelles (MDB), aproveitou ainda para criticar o candidato Jair Bolsonaro (PSL), dizendo que gostaria de dirigir perguntas a ele, mas este "fugiu" do debate e preferiu conceder entrevista a uma outra emissora.

Esta é a quarta vez que o pedetista e o emedebista perguntam um ao outro. Em todas, houve críticas ao capitão reformado do Exército. Entretanto, Meirelles, que foi ministro da Fazenda quando a PEC 95 foi aprovada, disse ser uma "má informação" a ideia de que a emenda impede crescimento dos gastos em saúde e educação.

"O que tem é piso, teto é só para os privilégios, que serão combatidos com as reformas", defendeu.

Considerações contra a polarização

À exceção de Alvaro Dias (Podemos), que preferiu centrar seu discurso sobre o combate à corrupção, e de Fernando Haddad (PT), os demais candidatos à Presidência que participaram do debate da TV Globo pediram que o eleitor não leve o ódio para as urnas e vote contra a polarização que tomou conta da corrida eleitoral deste ano.

Geraldo Alckmin (PSDB), que iniciou os comentários finais, disse que o "radicalismo, o ódio e o preconceito não vão levar a nada". "20% do voto se decide nos últimos dias, peço o seu voto", disse o tucano.

Ciro Gomes, do PDT, disse que o Brasil viveu quatro anos de ódio e esse filme "parece que está querendo se repetir". "O que temos hoje é um empate entre Haddad e Bolsonaro. Aprofundar essa divisão não permite conciliar Brasil. Estou ali, no terceiro lugar. Ganho de Haddad e de Bolsonaro no segundo turno com grande folga", disse o pedetista.

"Ódio não gera emprego, vingança não cria segurança ou corrupção", disse Henrique Meirelles (MDB). "Estou aqui porque sou uma pacificadora, que é muitas vezes mal compreendida. Esse País não tá precisando de força física. Precisa de força moral, de respeito, com seu dinheiro, com a Constituição, com a diversidade", argumentou Marina Silva (Rede).

"Domingo é dia de barrar atraso. Não vote com ódio nem com medo. Só vamos mudar Brasil enfrentando de verdade os privilégios", pregou Guilherme Boulos (PSOL).

Um dos polos dessa polarização, Haddad (PT) buscou mostrar sua biografia e oferecer uma esperança ao eleitor. "Sou neto de um líder religioso, filho de agricultor familiar. Eles me ensinaram que é preciso ter trabalho e educação. Aprendi com Lula que é possível ter essa possibilidade para todos. Vou trabalhar para dar isso a todos".

Segundo um integrante de Marina Silva, os candidatos não foram autorizados a usar adesivos com seu número no debate desta quinta-feira, como aconteceu no debate anterior, da Record. Para driblar essa restrição, Haddad, Dias e Boulos citaram seus números.

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