Num ato declarado de sabotagem, cerca de 500 manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) - na maioria mulheres, encapuzados e munidos de foices, invadiram nesta quinta-feira a Fazenda Aliança, uma propriedade produtiva da família da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) e destruíram o canteiro de mudas de eucaliptos. Intimidados, os seguranças e empregados da fazenda recolheram-se aos alojamentos e não houve confronto.
O MST afirmou que a sabotagem visava marcar posição política contra o agronegócio e em defesa da reforma agrária."A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas. Por isso estamos realizando esse ato político e simbólico em sua propriedade", explicou Mariana Silva, dirigente do movimento no Tocantins. "Nosso objetivo foi sabotar o modelo de monocultura e mostrar a essa senadora que em vez de destruir o meio ambiente o melhor caminho é diversificar a produção de alimentos para o povo", explicou Mariana.
A invasão da propriedade da senadora foi o ponto alto da jornada nacional de lutas das mulheres camponesas, desencadeada desde segunda-feira em 22 Estados e no Distrito Federal. Trata-se do maior protesto realizado até agora contra o governo Dilma Rousseff. As ações, que lembram o Abril Vermelho que o MST costumava desencadear no governo Fernando Henrique Cardoso, tiveram a coparticipação da Via Campesina e do Movimento Camponês Popular (MCP).
A ocupação da fazenda, registrada no nome do filho da senadora, deputado federal Irajá Abreu (PSD-TO), durou cerca de uma hora. No lugar do canteiro de eucaliptos, os ativistas deixaram sementes de arroz, feijão e mudas de outros alimentos.
Mariana justificou a sabotagem com o argumento de que a fazenda foi multada duas vezes por crimes ambientais pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O órgão confirmou ter adotado as punições em 2011 e 2012 por desmatamento em área de preservação permanente.
A maior parte das ações da jornada, porém, não se relacionou com reforma agrária e teve como objetivo marcar posição política contra o capitalismo e a suposta opção do governo pelo agronegócio. Elas foram organizadas a partir do acampamento central dos manifestantes, instalado na Esplanada dos Ministérios e batizado de 'Hugo Chávez', em homenagem ao líder socialista bolivariano da Venezuela, morto na terça-feira (5). Cerca de 30 mil pessoas, na grande maioria mulheres, estiveram mobilizadas nos protestos por todo o País.
Assustada com a ocupação, a senadora agora vai contratar segurança armada para proteger sua fazenda e manter eventuais invasores longe de sua propriedade. "Eu, que sempre dormi sozinha na fazenda com meus filhos pequenos, sem nunca andar armada, agora não vou deixar meus filhos e meus funcionários correndo risco de vida. Imagine se resolvessem colocar fogo nas dezenas de máquinas que tenho lá?". A integrante da bancada ruralista no Senado diz que a ação dos sem-terra tratou-se claramente de um ato político para tentar coibir sua atuação como defensora do direito à propriedade privada e porque, segundo ela, é uma "combatente dos crimes de invasão".
Apesar dos danos materiais e dos transtornos à população causados em vários atos, o Ministério da Justiça considerou que a apuração dos eventuais excessos é de responsabilidade das polícias civil e militar de cada unidade da federação, não justificando o acionamento de aparato federal para intervir. A Polícia Federal informou que acionou o setor de inteligência para acompanhar o movimento, mas não interveio diretamente em nenhum dos protestos.
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