Capitão Gildásio Rômulo: Integração é a maior arma da polícia para combater a criminalidade

Jornal O Norte
28/09/2007 às 17:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:18

Hélen Santos


Repórter


onorte@onorte.net

Montes Claros saltou nos dois últimos anos do 11° para o 3° lugar no ranking de crimes violentos de Minas Gerais. O problema é tão sério que na área central, conhecida pela polícia como zona quente de criminalidade, ocorre nada menos do que 42% dos crimes violentos, especialmente assalto a mão armada e homicídio. E, como se não bastasse, até sexta-feira a PM já havia registrado 59 assassinatos na cidade, batendo a marca alcançada em 2007.




Capitão Gildásio Rômulo: - A PM não consegue estar presente em todos os lugares, o tempo inteiro. Onipresença só de Deus, mas o Olho Vivo vai conseguir estar presente 24 horas na área monitorada.


(foto: arquivo/ Manoel Freitas)

Para saber como a PM tem procurado agir para conter a onda de violência, O Norte entrevistou o capitão Gildásio Rômulo, comandante da 66ª companhia de polícia. O oficial, considerado pelo comando da 3ª Região de Polícia Militar como um dos mais completos de sés quadros, falou, entre outras coisas, sobre a implantação de um novo modelo de segurança pública.

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- A AISP – área integrada de segurança pública caminha na direção de ser uma realidade?

A 98ª AISP será implantada em Montes Claros, especificamente no atual prédio da sexagésima sexta companhia, à Rua Camilo Prates, nº. 348, Centro. O local está sendo reformado e adaptado para que receber uma delegacia distrital. A PM e a polícia civil, juntas, trabalhando com segurança territorial numa mesma área de responsabilidade, é que se dá a denominação de Área Integrada de Segurança Pública.

- Quais são os objetivos dessa junção em nome da segurança?

E necessário a gente falar que a Área Integrada de Segurança Pública é uma nova estratégia da polícia militar e da policia civil no combate à criminalidade e à violência. Até então, a PC vinha funcionando em delegacias especializadas, como por exemplo a delegacia de homicídios, da mulher, do menor infrator, dentre outras. A PM sempre trabalhou com responsabilidade territorial. Montes Claros é dividida pela PM em quatro partes. Em cada área dessas, tem uma companhia da corporação, que tem a responsabilidade sobre essa área, atendendo praticamente todos os crimes que ocorrem na área. O que vai acontecer é que a polícia civil vai adotar a mesma área de responsabilidade da PM, ou seja, na área que tiver uma companhia da PM, haverá uma delegacia distrital.

- Procuramos trabalhar sempre de fardas, para que a população veja que existe um bom contingente policial, gerando tranqüilidade nas pessoas de bem e intranqüilidade aos infratores...

- Quais serão os profissionais responsáveis pela coordenação dessa unidade?

Um capitão da PM e um delegado da PC, que ficarão responsáveis por uma área específica da cidade. Nesta AISP do Norte de Minas, denominada Área de segurança Integrada de nº. 98, vão atuar eu, Capitão Rômulo, representando a PM, e o delegado Carlos Alexandre, pela PC. Determinados crimes específicos, a PC que vai definir quais, serão investigados por uma única delegacia especializada. Assim como na PM temos ainda frações que cuidam dos Crimes Ambientais e de Trânsito.

- A ação da AISP será preventiva ou repressiva?

A função primeira da PM, a maior ênfase de nossa atuação, é na ação preventiva. A repressão existe quando há alguma impossibilidade de prevenir o crime. Daí, PM faz um serviço ostensivo, procurando trabalhar sempre de fardas, para que a população veja que existe um bom contingente policial, gerando tranqüilidade nas pessoas de bem e intranqüilidade aos infratores. Tentamos prevenir, mas quando precisamos fazer repressões, são qualificadas e, com essa integração, a repressão será mais bem embasada, vamos ter certeza que o serviço feito pela PM terá continuidade e a conclusão do inquérito feita pela PC, ou seja, a PM tem a incumbência de fazer o policiamento ostensivo, de fazer o primeiro rastreamento, e a PC, através do relatório do boletim de ocorrência, continua a investigação. Então, pelo fato de estarmos trabalhando aqui no mesmo prédio, mais próximos, isso vai facilitar os nossos contatos, o círculo policial será completado.

- O senhor é o coordenador do projeto Olho Vivo. Ele também estará inserido nessa integração?

O projeto olho vivo consiste num vídeo-monitoramento feito com câmaras. Esse projeto é uma ação à parte da AISP, mas é também uma ferramenta que a PM tem e pode usar na segurança integrada. Há muito estamos com esse projeto em andamento e somente agora conseguimos implantá-lo. Inicialmente, a proposta feita pela PM foi a de que participasse a polícia, a prefeitura e os lojistas. Tivemos uma boa aceitação da CDL, a prefeitura tem sido uma grande parceira, mas não conseguimos a adesão dos lojistas. Eles não concordaram em assumir parte do custeio dos equipamentos. Então, o projeto será inaugurado apenas com recursos do governo federal, que já têm ótimas referências desse projeto em outras cidades, como Belo Horizonte, onde reduziu a criminalidade em até 50%. Fizemos um teste no Carnamontes e na Expomontes do ano passado. Nesses eventos, trabalhamos somente com duas câmaras de monitoramento, quando foi comprovada sua eficácia. Numa parte da região central da cidade, o projeto conta com vinte e sete câmaras. Para cobrir todo o centro, seria necessário cerca de quarenta e oito desses aparelhos, que são os mais modernos existentes no mercado, equipados com zoom de mais de 230 vezes, visão noturna, um raio de trezentos e sessenta graus, além de estarem ligados por fibra ótica. Essas câmaras estarão ligadas a uma central de monitoramento, onde ficarão policiais militares e funcionários da prefeitura, provavelmente da guarda municipal, durante 24 horas, feriados, todos os dias. A câmara é uma ação preventiva. Qualquer atitude suspeita é repassada da central de monitoramento direto para as patrulhas, que vão ao local averiguar.

- O zoom do olho vivo é de mais de 230 vezes, possibilita visão noturna e cobre um raio de trezentos e sessenta graus...

- Por que o crime é tão difícil de ser combatido?

Para a ocorrência do crime, existe a teoria em cima de uma trilogia. Consiste é um agente motivado, alvo disponível e ausência ou deficiência na vigilância. É bom ressaltar que PM não consegue estar presente em todos os lugares, o tempo inteiro. Onipresença só de Deus, mas o Olho Vivo vai conseguir estar presente 24 horas na área monitorada. Então, são medidas tomadas para melhor combater a criminalidade. Se os lojistas tiverem interesse, nada impede que esse projeto seja ampliado posteriormente, com a colocação de mais câmaras na região central da cidade. O medo que a gente tem é que o infrator procure as áreas que não vão ser monitoradas, fugindo de um possível flagrante.

- A região estava carente dessa integração das policias, vai ser um passo importante para Montes Claros?

Vai ser bom. Nós temos certeza de que vai nos ajudar no combate à criminalidade e na redução da violência. Vamos ter a PM e a PC mais próximas e conversando, dialogando, se entendendo, todas duas sendo responsáveis, não trabalhando de maneira isolada, não vai acontecer mais de, às vezes, uma até fazendo trabalho da outra. Nós estaremos direcionando a força para objetivos únicos. Por mais que uma pessoa seja muito boa naquilo que faz, com certeza duas podem fazer melhor ainda. Duas cabeças pensam melhor que uma. Com duas instituições unidas com os relacionamentos estreitados e trabalhando de maneira coordenada e integrada, nós temos certeza que com isso a sociedade vai ganhar.

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