Carnaval de prejuízos: sem a festa de Momo, hotéis têm baixa ocupação e apelam para as promoções

Marciano Menezes
mmenezes@hojeemdia.com.br
13/02/2021 às 06:00.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:10
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

O agravamento da pandemia de Covid-19 em todo o Brasil, principalmente após a virada do ano, o que levou à suspensão do ponto facultativo de Carnaval tanto na capital mineira quanto nas principais cidades do país, deve agravar ainda mais a situação dos setores de comércio e serviços que sonhavam com o incremento dos negócios devido à atração de turistas para a festa de Momo. 

Em Belo Horizonte, a ocupação de alguns hotéis está entre 20% e 30%, e os empreendimentos apostam em promoções para tentar atrair a clientela. Os bares e restaurantes, hoje com horários limitados, temem ‘pagar o pato’ com festas clandestinas em residências e sítios. Já a entidade que representa os lojistas lançou campanha para que os empresários abram as portas nesses dias para atender à demanda da população.

O Carnaval do ano passado chegou a arrastar pelas ruas da capital mineira 4,45 milhões de foliões, segundo a Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur). No entanto, a ausência da festa neste ano vai ficar marcada tanto pelos empreendedores quanto pela população e visitantes, que apostavam na expansão da festa de Momo. 

“Em 2019 e 2020, chegamos a ter 100% de ocupação em hotéis de Belo Horizonte, inclusive o nosso. Neste ano, não vamos chegar a 30%. Estamos fazendo promoção, apelando para o pessoal da própria cidade para ter um momento de descanso no hotel. Estamos oferecendo até 25% de desconto para atrair o público da cidade, para tentar minimizar o impacto”, conta Flávia Cristina Trindade Homem, gerente-geral do Nobile Hotel Belo Horizonte, no bairro Itapuã, na região da Pampulha.

Segundo ela, a expectativa era de que o Carnaval deste ano desse um alívio para o setor, que vem sofrendo com os impactos da pandemia desde março do ano passado. “Fizemos uma redução de 60% no quadro de funcionários e o ano vai ser difícil. Mas esperamos que com a vacina o movimento comece a melhorar a partir de julho”, afirma.

Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (ABIH-MG) mostram que no ano passado a taxa média de ocupação dos hotéis em BH ficou em 32,65%, a pior dos últimos 10 anos. Dos 57.409 apartamentos disponíveis na capital mineira, apenas 19.762 foram ocupados e 60% da mão de obra do setor já foi demitida. “Agora, infelizmente, sem o Carnaval a taxa de ocupação vai cair. Estamos esperando 30% no mês de fevereiro”, afirma a diretora-secretária da entidade, Pollyana Mendes, que teme um aumento do número de demissões, já que muitos investidores não têm aguentado mais esse período de crise.

No Hotel Amazonas, no centro da capital, a taxa de ocupação para esse período do Carnaval está em 20%, mas a sócia-proprietária do empreendimento, Patrícia Matos de Azeredo Coutinho, ainda aposta em um incremento de última hora de pessoas que procuram diretamente o hotel. “No meu hotel tem muitas pessoas que não fazem reserva com antecedência e chegam aqui por causa da localização. A g ente ainda aguarda umas reservas de hóspedes de última hora”.

Patrícia Matos avalia que sem nenhum tipo de comemoração neste ano em BH, os hotéis vão sofrer muito, principalmente os de rede. “O setor econômico está muito penalizado. Acho que tinha que ter pensado aí uma fórmula de proteger tanto a vida das pessoas quantos dos negócios”, afirma, lembrando que BH deveria ter aberto mais leitos para a Covid e que o hospital de campanha não deveria também ter sido desativado no Expominas.

  

A Ambev decidiu ajudar os ambulantes. A empresa criou para eles, junto com o app Zé Delivery, um movimento para apoiar com um auxílio financeiro. A expectativa é ajudar cerca de 20 mil trabalhadores, com até R$ 255 para cada um. Para isso, eles devem se cadastrar na plataforma pelo site www.ajudeumambulante.com.br.

 Abrasel teme aglomerações e esclarece horários para o setor

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Matheus Daniel, considera que a restrição imposta aos bares e restaurantes pode prejudicar ainda mais o setor. Ele teme que as pessoas acabem optando por aglomerações em residências ou sítios. “A gente entende que se os bares e restaurantes pudessem ficar abertos no Carnaval, com a mesma regra até as 22 horas, com distanciamento, iria gerar renda para esses empresários e tirar muita gente da clandestinidade. As pessoas não vão deixar de se aglomerar. E isso vai refletir depois em aumento de casos de Covid e quem vai acabar pagando essa conta são os bares e restaurantes. O bar não foi culpado e vai pagar o pato porque não vai poder vender”, lamenta.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Matheus Daniel esclarece que hoje e amanhã os bares e restaurantes não podem atender ninguém dentro do salão, somente delivery e retirada no balcão, independente do horário. Além disso, as músicas continuam proibidas. Já de segunda a quarta-feira, o comércio vai estar aberto, mas o segmento só pode funcionar de 11 às 15 horas, inclusive para a venda de bebida alcoólica. Após esse horário, somente delivery e retida no balcão.

A partir de quinta-feira, os bares e restaurantes vão poder funcionar das 11 às 22 horas vendendo bebida alcoólica. “Ainda não é um horário que atenda às nossas necessidades, mas é preciso que siga as regras. Peço à população, se vai se divertir neste Carnaval, grupos menores, não cause aglomeração, procure usar máscara, higienizar as mãos. A gente conta com vocês para que os bares e restaurantes não sofram mais uma vez como foram nas festas de final de ano”, apela à população o dirigente da Abrasel.

Matheus Daniel avalia que se o setor não conseguir retomar o horário normal de funcionamento, as demissões devem continuar. “Precisamos tirar um pouco dessas restrições, seguindo os protocolos. Mas o vírus é uma questão comportamental. Ele não chega nos bares e restaurantes às 10 horas da noite. Então, precisamos controlar o comportamento das pessoas”, enfatiza.

Antes da pandemia, o setor tinha 12 mil estabelecimentos que geravam 72 mil empregos. Atualmente, segundo a Abrasel, 3.500 já fecharam as portas e 30 mil postos de trabalho foram cortados.

 CDL incentiva abertura normal do comércio na capital mineira

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) está incentivando os estabelecimentos comerciais da capital mineira a abrir as portas normalmente nesses dias para atender à demanda da população. “Acho que BH vai ter um grande público. Muita gente não vai viajar e as lojas vão estar abertas atendendo essas pessoas, com os devidos cuidados com os protocolos de higiene”, afirma Marcelo de Souza e Silva, presidente da entidade.

Ele avalia que o comércio não vai ter o mesmo giro econômico de anos anteriores, mas que terá pelo menos um movimento mínimo, com as pessoas tendo mais dias para fazer as compras, sem se aglomerar. 

Marcelo de Souza e Silva considera que em breve serão necessários a realização de eventos de negócios e outras festas na capital mineira para tentar minimizar o impacto negativo como na rede hoteleira e no segmento de eventos, por exemplo.

“O que sugerimos para a hotelaria, é fazer um preço diferenciado para quem estiver em Belo Horizonte. Quem sabe a pessoa não sai de casa, vai lá, se hospeda, faz uma refeição diferenciada no próprio hotel”, afirma.

 ALÉM DISSO:

Os espaços culturais da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) estarão abertos à visitação durante o Carnaval, mas seguindo todos os protocolos de segurança estabelecidos pelo Minas Consciente. Entre os dias 15 e 17 de fevereiro, equipamentos culturais sob gestão da Secult, além de outros que integram o Circuito Liberdade, bem como espaços que fazem parte do Sistema Estadual de Cultura e Turismo, seguem abertos. 

No Circuito Liberdade, em Belo Horizonte, o Museu Mineiro, o Museu dos Militares Mineiros e o Centro de Arte Popular estarão abertos de acordo com as programações vigentes. A exceção é para as galerias de arte da Fundação Clóvis Salgado – complexo cultural do Palácio das Artes e a CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, que estarão fechados de 15 a 17/2. 

Em Tiradentes, há a promoção online do concurso de marchinhas e a criação do Circuito Gastronômico de Carnaval, em que 34 restaurantes prestam homenagens a blocos carnavalescos, sem gerar aglomeração. Com o tema “Beleza Pura”, Ouro Preto também investe no Carnaval virtual, com exposições e lives, entre outras atrações.

  

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