TÚNIS, Tunísia - Cerca de 15 mil simpatizantes do Ennahda, atualmente no poder, organizaram uma manifestação neste sábado (23) no centro de Tunis para defender o direito do partido de comandar o país, que atravessa sua pior crise política desde a revolução de janeiro de 2011. Essa manifestação, a maior organizada pelos islamitas desde sua chegada ao poder, há 14 meses, acontece no momento em que o número dois do partido, o primeiro-ministro Hamadi Jebali, anunciou na sexta-feira a formação de um gabinete de tecnocrata rejeitado pelo Ennahda. A manifestação, porém, é pequena se comparada às revoltas que ocorreram durante o funeral do líder da oposição Chokri Belaid, assassinado em 6 de fevereiro, que reuniram dezenas de milhares de opositores anti-islamitas. "Deus é o maior", "Com legitimidade e pela união nacional", "O povo quer o Ennahda mais uma vez", cantava o povo neste sábado na avenida central Habib Bourguiba, palco da revolução que derrubou o regime de Zine El Abidine Ben Ali. Os manifestantes também denunciavam a França, regularmente acusada de ingerência. "Precisamos de uma união nacional, de todos e sem exceções, tirando os que se opõe à revolução", disse Habib Ellouze, um dos líderes da ala mais dura do Ennahda. "Estamos aqui para mostrar que apoiamos a legitimidade do Ennahda e das urnas", explicou Mohamed Beji, um manifestante. O assassinato de Chokri Belaid provocou uma nova onda de violência e agravou a crise política, o que obrigou Jebali a propor um governo apolítico. Seu partido pede um gabinete que alie políticos e tecnocratas. Depois de desistir da data-limite que havia fixado para este sábado para anunciar um novo governo ou para renunciar caso não conseguisse, Jabali anunciou novas negociações para segunda-feira. O Ennahda, fundado em junho de 1981 pelo líder histórico Rached Ghannouchi, foi por muito tempo reprimido na Tunísia antes de se impor, após a revolução e as primeiras eleições livres, como o principal partido do país. O movimento dispõe de 89 dos 217 assentos na Assembleia Nacional e formou uma coalizão com dois partidos laicos de centro-esquerda, incluindo o do presidente Moncef Marzouki. O Ennahda também trava uma luta interna constante entre os mais radicais, representados por Ghannouchi, e os moderados, liderados por Jabali. Os parentes de Chokri Belaid organizam neste sábado duas cerimônias em sua memória, uma em Tunis e outra em Jendouba (noroeste). Até o momento, nenhum avanço foi feito na investigação para encontrar os culpados pela morte do líder da oposição. Os parentes de Belaid acusam os islamitas de serem os responsáveis por sua morte