Certificação no Brasil aproxima exportadores dos EUA

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
10/07/2016 às 19:15.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:14
 (Testes fornos Pratica/ DIVULGACAO )

(Testes fornos Pratica/ DIVULGACAO )

Exportar produtos para os Estados Unidos vai se tornar uma tarefa mais rápida e mais barata para empresas brasileiras. Isso porque o processo de certificação que até então acontecia em território americano começou a ser feito há algumas semanas no Brasil. Com a mudança, os prazos deverão ser reduzidos à metade e os custos em até 80%, segundo especialistas do setor. 

 A acordo fechado entre o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e a Câmara de Comércio Brasil-EUA, em Washington, vai trazer laboratórios de certificação americanos para o Brasil e, com isso, o tempo médio demandado para adequar os produtos às normas internacionais poderá cair de um ano para três meses.

 O gerente de negócios no Brasil do laboratório de certificação Intertek, Marcos Zevzikovas, explica que, com a mudança, várias barreiras que dificultavam a certificação serão rompidas. Ele conta que enviar produtos para os Estados Unidos ficava muito caro, sem falar na barreira da língua, que dificultava a comunicação entre as empresas e os laboratórios. 

 “Uma fabricante de fornos elétricos, por exemplo, gastava cerca de US$ 100 mil para fazer a certificação de um produto nos Estados Unidos. Agora, fazendo no Brasil, esse valor cairá para menos de US$ 35 mil”, explica. Frente a recente valorização do dólar neste mês, a expectativa de exportadores brasileiros volta a crescer. Com a redução dos custos de certificação, a competitividade de produtos brasileiros no mercado americano pode aumentar. 

 “Por isso, um forno que custa R$ 20 mil no Brasil pode ser comercializado por cerca de US$ 5 mil e competir na categoria que custa em média US$ 10 mil nos Estados Unidos”, exemplifica Zevzikovas. Uma das empresas que já estão realizando os primeiro testes de certificação em território nacional é a Prática Fornos, situada em Pouso Alegre, no Sul de Minas. O gerente de engenharia da empresa, Pedro Augusto, explica que a experiência vai diminuir os vários riscos do processo de exportação.

 “Tentamos certificar nossos produtos diretamente nos Estados Unidos e tínhamos muitos ruídos de comunicação. O desentendimento gerava a não conformidade dos produtos e isso implicava em pagar novamente os testes. Aqui fica mais fácil pela proximidade, pelo idioma e pela possibilidade de intervenção no processo”, explica.

O alinhamento das normas técnicas brasileiras com as normas americanas também está em estudo por entidades comerciais dos dois países. Um movimento de convergência regulatória já está em andamento entre o setor de cerâmicas e, segundo o MDIC, o mesmo processo será feito para o setor têxtil.

 Os primeiros passos rumo à convergência foram dados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), que já definiu um novo acordo com o Conselho Americano de Cerâmica (TCNA). Ao final do processo de convergência, produtos fabricados e certificados no Brasil terão livre acesso ao mercado americano, sem a necessidade outras certificações locais. 

 “Os EUA passarão a aceitar as certificações brasileiras. Da mesma forma, o Brasil passará a aceitar as certificações norte-americanas. Esse é um processo longo que passa por inúmeras etapas desde conformações e validações laboratoriais até redefinições de sistemas de testes para avaliação das normas vigentes”, explica o superintendente da Anfacer, Antonio Carlos Kieling. 

 Para ele, o processo de convergência regulatório vai permitir que a performance dos exportadores brasileiros nos Estados Unidos melhore consideravelmente. “Os EUA são o maior importador mundial de revestimentos cerâmicos e o segundo destino de nossas exportações”, avalia.

 Custo Brasil é a principal trava da competitividade no exterior

 A possibilidade de certificação dos produtos em território brasileiro e a convergência regulatória não vão resolver por completo as dificuldades vividas pelos exportadores brasileiros para penetrar no mercado americano. A afirmação é do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Mauro Laviola. 

 Ele explica que a penetração do Brasil em mercados internacionais depende de fatores como a melhoria logística, a redução da burocracia e uma reforma tributária que garanta à indústria a possibilidade de se tornar mais competitiva. “São questões cruciais que precisam ser resolvidas de uma vez para que a exportação não dependa apenas de um câmbio favorável”, ressalta Laviola.

 a em que o sucesso for sendo alcançado pelos setores de cerâmica e tecidos, outros tendem a trilhar o mesmo caminho”, avalia. 

 A CEO da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), Deborah Vieitas, explica que a emissão de certificados sanitários e fitossanitários, necessários para exportação de produtos de origem agrícola, também será modernizada. “Em breve haverá um projeto piloto para que esses certificados possam ser feitos em formato eletrônico. Então, à medida que isso acontece, ganha-se muito em agilidade e redução de custo. Isso contribui para a exportação de café, carne bovina e preparados alimentícios”, explica Deborah.
  

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por