(BBC)
Pelo menos 300 mil transplantes de órgãos serão realizados na China este ano, conforme o governo do país. Entretanto, organizações de saúde estimam que 300 mil pessoas estão na fila de espera. A grande demanda acaba contribuindo para a criação de um mercado negro de órgãos humanos.
Nesta semana, o caso de um jovem de 21 anos que teria vendido um rim para pagar dívidas de jogos acabou causando grande repercussão nas redes sociais.
Sem se identificar, o rapaz concedeu uma entrevista para a agência de notícias BBC, onde revelou que vendeu um rim por cerca de 4 mil libras – aproximadamente R$ 22 mil – para pagar dívidas de jogo.
Segundo ele, a venda do órgão teria sido combinada pela internet. "No início fui levado para um hospital, onde tiraram amostras de sangue e fizeram exames. Depois esperei em um hotel por várias semanas até que os traficantes de órgãos acharam uma pessoa compatível. Um dia, um carro veio me buscar. O motorista disse para eu colocar uma venda nas olhos. Dirigimos por cerca de meia hora por uma rua esburacada", revela.
Conforme o jovem, quando tirou a venda percebeu que estava em uma fazenda. Dentro havia toda uma estrutura de hospital montada. Médicos e enfermeiras usavam uniformes.
"A mulher que recebeu o órgão também estava lá com sua família. Não nos falamos. A compradora queria vida e eu, dinheiro, afirmou o rapaz para a BBC.
Menor taxa de doação
Há tempos a China enfrenta problemas com relação a doação de órgãos. O país montou um banco nacional de órgãos que, em tese, deveria distribuir órgãos para aqueles que são mais compatíveis e precisam mais. No entanto há muitas críticas com relação ao sistema, que seria susceptível a fraude.
Além disso, outra situação que contribui para o mau funcionamento seria a de convencer possíveis doadores, uma vez que, por conta de sua tradição e cultura, muitos chineses acreditam que o corpo é sagrado e deve ser enterrado intacto em sinal de respeito aos ancestrais.
Sendo assim, as taxas de doação do país estão entre as menores do mundo, em 0,6 doação por milhão de pessoas. Na Espanha, por exemplo, são 37 por milhão.
No Brasil, no ano passado, foram 14,2 doadores por milhão, de acordo com a ABTO (Associação Brasil de Transplantes de Órgãos).