(Divulgação / Acervo Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil)
Ouro Preto, Congonhas e Conselheiro Lafaiete, na Central mineira, recebem, nesta semana, três exposições temáticas de Arte Naïf - obras produzidas por artistas autodidatas, que não tiveram acesso ao ensino formal de arte.
As exposições serão simultâneas nas três cidades e acontecem nesta quinta (2), sexta (3) e sábado (4). O objetivo é disseminar o conceito da Arte Naïf para espaços fora do eixo Rio - São Paulo.
De acordo com a produção do evento, as mostras trazem obras do Museu Internacional de Arte Naïf, que abrigava o maior acervo do gênero no mundo, mas teve suas atividades encerradas em 2016 no Rio de Janeiro, por falta de financiamento.
A coleção faz parte do projeto ‘Arte nas Estações’, idealizado pelo colecionador e gestor cultural carioca Fabio Szwarcwald, com curadoria de Ulisses Carrilho.
(Divulgação / Acervo Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil)
Para Szwarcwald, diretor executivo do projeto, é um “sonho” levar o acervo a lugares que, muitas vezes, não têm oportunidade de receber exposições por falta de investimento.
“A itinerância é rara nesses territórios e a gente quer ultrapassar essa concentração cultural nas capitais. É muito interessante levar artistas naïf às suas cidades natais, onde nunca chegaram a expor, dando a eles o merecido reconhecimento”.
Já Carrilho observa que a arte Naïf se trata de um termo questionável. “Essas exposições são sobre saberes que precisam ser respeitados e que não fazem parte de uma norma. Vamos levar estas obras a lugares onde ainda não chegaram, bem como aprenderemos com os saberes locais em cada parada que fizermos”.
Szwarcwald também revela que o objetivo da exposição é utilizar a arte e o trabalho dos artistas como uma plataforma de educação, criando oportunidade para os espectadores terem uma visão ampliada sobre o mundo.
(Divulgação / Acervo Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil)
Arte nas Estações
Em Ouro Preto, no Paço da Misericórdia (antiga Santa Casa), “Sofrência” fala sobre apaixonamento e separação por meio de uma narrativa com início, meio e fim. Inspirada nas novelas, essa história apresenta ao público cenas de convívio social, flerte, festas e jogos de sedução, permeadas por poesias e poemas populares.
“Olhar para essas obras faz lembrar como é político você dizer que ama alguém e manifestar o seu desejo”, reforça Carrilho.
A Estação ferroviária de Conselheiro Lafaiete, a 96 km de BH, dá lugar à exposição “A Ferro e Fogo”. Nela, artistas populares abordam uma relação integrada entre as questões naturais e políticas. Manifestações e rebeliões são representadas nas obras que trazem cenas de luta pela preservação das espécies: uma mata exuberante, uma terra fértil, um povo nutrido de um forte desejo de construir.
Por fim, o Museu de Congonhas recebe “Entre o Céu e a Terra”, que aborda as fés – sempre no plural. Crenças, manifestações religiosas e crendices populares aparecem em cenas noturnas, céus estrelados, aparições, graças alcançadas, súplicas fervorosas e seres fantásticos do folclore brasileiro.
A exposição conta ainda com um núcleo em que estadistas são retratados, como José Sarney e Getúlio Vargas, trazendo para a discussão a necessidade de acreditar numa ideia de Brasil também por meio da política.
(Divulgação / Acervo Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil)
A expografia, criada por Janine Marques, tem como objetivo reforçar a temática explorada em cada exposição e faz uso de elementos regionais para valorizar a cultura local, criando vínculos de identificação com o público. “Cada espaço vai ser travestido três vezes, de três temas diferentes”, destaca o curador.
Para Carrilho, o projeto contribui para a valorização da arte popular, dando seguimento a uma espécie de revisão do que vem sendo considerado arte no Brasil. “Poder olhar para essa coleção com apreço pelo popular já é um fenômeno”, comemora.
Educação nas escolas
Para além das obras naïf, cada exposição conta ainda com 'Soledad', de Juliana Notari, 'O levante', de Jonathas Andrade, e 'Nada é', de Yuri Firmeza, que vão funcionar como dispositivos pedagógicos.
O foco do trabalho com alunos das escolas de cada região é reforçar o diálogo das mostras com as questões da contemporaneidade, abordando o papel do artista, a função social da arte e a aproximação com seus públicos.