(Paris Filmes/Divulgação)
Ninguém pode reclamar de quantidade. O ano de 2012 chega ao fim com a exibição de 82 produções nacionais – média de 1,6 filme por semana. E ninguém pode depositar no critério qualidade a justificativa para o segundo recuo consecutivo da participação brasileira no mercado, com apenas 10% da totalidade dos ingressos vendidos no país. Em 2003, o market share foi de 22%.
Foram lançados filmes para todos os gostos, das comédias do tipo "besteirol", propícias para exibição em shoppings, e trabalhos mais elaborados premiados em festivais no Brasil e no exterior, entre eles "Era uma Vez Eu, Verônica", "Febre do Rato", "Girimunho" e "Sudoeste".
Mesmo os longas de cunho mais comercial não alcançaram o sucesso esperado. Somente quatro passaram a casa de um milhão de espectadores – "Até que a Sorte nos Separe" (único a figurar nos dez mais do ano), "E aí, Comeu?", "Gonzaga – De Pai pra Filho" e "Os Penetras". Os nacionais foram vistos por 15,4 milhões de pessoas.
Ocupação
A discussão se volta para a própria configuração do parque exibidor, que cada vez mais tem ocupado o mercado com lançamentos que tomam conta de quase a metade do circuito formado por pouco mais de duas mil salas. "O Hobbit", "Amanhecer – Parte 2" e "Os Vingadores" chegaram a quase mil salas na estreia.
Na Argentina, por exemplo, produções estrangeiras com essa ocupação maciça de telas são taxadas. No Brasil, em favor da livre iniciativa, o governo tem interferido pouco para modificar essa situação, assim como realizadores e associações de classe se mostram desmobilizados politicamente.
Ingressos
Os números atuais só beneficiam os estúdios americanos e os grandes exibidores. O Brasil se consolida como um dos cinco principais mercados. No cômputo geral, o crescimento de público é de cerca de 5% (150 milhões de pagantes) em relação a 2011.
A bilheteria geral deve girar em torno de R$ 1,6 bilhão – aumento de 14% em comparação ao ano passado. Escalada que é justificada, em parte, pela majoração do preço dos ingressos (média de 11,10%) devido ao 3D e salas "premium".
Aposta nos filmes de retorno certo
Super-heróis, vampiros e hobbits: 2012 não foi diferente dos últimos anos, em que os distribuidores norte-americanos apostaram em personagens e franquias com maiores chances de dar grande retorno financeiro.
Com exceção de "O Cavaleiro das Trevas Ressurge", terceiro longa-metragem do reboot promovido pelo diretor Christopher Nolan, que prossegue com o tom sombrio, as outras produções são voltadas para a "família".
Uma palavra politicamente correta que, na verdade, esconde o desejo dos realizadores em ampliar o leque de espectadores e, consequentemente, ampliar a arrecadação.
Família
Em "Os Vingadores", o esperado encontro dos heróis da Marvel, metade da trama é ocupada por brigas quase infantis, enquanto "O Espetacular Homem-Aranha", com Andrew Garfield no lugar de Tobey Maguire, põe o Homem-Aranha como um adolescente que enaltece os valores familiares.
Até mesmo o gênero terror, naturalmente abusado, passou a ser pautado pela correção. Basta ver "Abraham Lincoln – O Caçador de Vampiros", em que a sanguinolenta Guerra Civil Americana é revista, de maneira manipuladora, com os vampiros sendo os responsáveis por tanta mortandade.
O espectador teve que ser ágil para não perder os melhores filmes do ano, já que muitas vezes não passavam de uma semana em cartaz. Foi o caso de "Cosmópolis", de David Cronenberg, que deverá encabeçar a lista de melhores de várias associações e veículos.
Melhores
Wes Anderson compareceu com o estranho "Moonrise Kingdom" e Martin Scorsese fez sua primeira obra em 3D com "A Invenção de Hugo Cabret" – perdeu o Oscar para "O Artista", produção francesa que ousou a ser feito em preto e branco e sem diálogos.