Clima de tensão abala mineiros na França, mas não muda intenção de ficar

Germana Delage - Hoje em Dia
10/01/2015 às 09:18.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:37
 (THOMAS SAMSON/AFP)

(THOMAS SAMSON/AFP)

Com o clima de apreensão e medo dominando a França, e principalmente a cidade de Paris, mineiros que escolheram viver nesse país contam o que sentem num momento de tanta incerteza. Existe medo e mudanças na rotina, como andar pelas ruas ou pegar o metrô.
A belo-horizontina Camila Peixoto, de 31 anos, é doutoranda na Universidade Sorbonne e mora em Paris há três anos. Ela relata que, desde o atentado, as pessoas estão mais agitadas e qualquer parada no transporte é motivo de angústia “O metrô e o trem param o tempo todo com suspeita de bomba e todos estão bastante preocupados, inclusive eu, com medo de um novo atentado. As pessoas estão nervosas, com raiva, com um sentimento de revolta. Os comentários nos locais públicos estão cheios de radicalismo e os muçulmanos estão sendo acusados pelo terrorismo. Tenho ficado em casa, com receio de andar pelas ruas ou pegar o metrô”.
Também nascida em Belo Horizonte, Cinthia Fize, de 36 anos, mora na França há quatro anos e é diretora de uma agência de comunicação em Marseille, a cerca 700 quilômetros de Paris. Segundo ela, após o ataque os moradores da cidade viveram três momentos: o choque, a revolta e o alívio com a confirmação da morte dos três terroristas.
“Esta é a segunda maior cidade da França e o clima de medo é muito presente. As ruas e escolas estão patrulhadas e o efetivo policial aumentou em 40% nesses dias, só aqui na cidade”. Depois dessa tragédia, Cinthia acha que dois outros momentos irão se instalar no país. “O primeiro concerne ao real papel da mídia e os limites da liberdade de expressão; o outro será uma reflexão sobre a defesa dos valores de liberdade defendidos pela França”. Apesar desse momento de terror, ela não pensa em deixar o país. “A minha vida é aqui e a França é um país formidável, embora sob ameaça constante”.
Já Patrícia Bressan, de 35 anos, moradora de Paris há sete, diz temer que os atentados se multipliquem. “Queria saber se esse ataque em Vincennes está realmente ligado ao caso da revista – o que significaria que todos os suspeitos estão cercados pela polícia- ou se são casos isolados, se mais pessoas vão aproveitar para fazer outros ataques. Se fosse o primeiro caso ficaria mais tranquila, mas meu medo é que seja o segundo”, disse.
Patrícia vive e trabalha perto de Porte de Vincennes, onde, na última sexta-feira (9), um homem armado invadiu um mercado judaico e fez reféns.
Apesar do clima de tensão na França, o turismo não se abateu e quem já estava de malas prontas seguiu viagem para a cidade mais visitada do mundo. De acordo com a supervisora de vendas da agência Visa Turismo, Flávia Matos, todos os clientes com passagens compradas para a França mantiveram o roteiro. “Não tivemos cancelamentos, solicitações de mudança de data ou alterações de roteiro. Todos embarcaram normalmente nesse período de atentados, a maioria, inclusive, com destino a Paris”.
É o caso da família da aposentada Adriana Soares Moreira, de 53 anos, que em viagem pela França chegou à Paris no dia do atentado. Segundo ela, no primeiro dia todos tiveram receio de sair nas ruas, pois não conseguiram notícias nos jornais locais em virtude da dificuldade com a língua francesa.
“Só conseguíamos acompanhar o noticiário através de sites brasileiros, e mesmo com a má notícia do atentado, decidimos encarar o passeio. Fomos para as ruas, pegamos metrô e tudo fluiu normalmente. O certo é que, nos shoppings existe uma fiscalização rígida, checagem das bagagens com a utilização de sensores de metal. No museu do Louvre, a mesma checagem que já acontece diariamente, agora, com maior grau de rigor”, disse.
“Nosso sentimento aqui é que tem alguma coisa acontecendo, mas não está interferindo, em absoluto, no nosso passeio”, acrescentou.
A historiadora Erika Nahass diz que o atentado em Paris nada tem a ver com o inesquecível 11 de setembro, e que o clima agora é de reafirmação do nacionalismo. “Ao invés do francês ficar com pânico, ele vai às ruas, reafirma os seus direitos e revida aos ataques com atos de coragem e luta pela liberdade”.

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