Bady Curi Neto
“Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio?”. As frases reproduzidas fazem parte do discurso proferido pelo Cônsul Romano Marco Túlio Cícero contra o senador Catilina no templo de Júpiter, no monte Capitólio de Roma, em 8 de novembro de 63 a.c.
O início do célebre discurso, de um dos maiores oradores de todos os tempos, parece não ter ficado para a história, podendo ser repetido nos dias de hoje, mudando apenas o acusado para a pessoa do ex-presidente Lula e alguns de seus companheiros.
A fala de Lula e seus asseclas do Senado, aquele condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro e réu em vários outros processos criminais, e estes, quase todos, envolvidos em processos ou investigações por desvios de conduta, parecem zombar de nós.
No início das investigações, o ex-presidente atacou a Polícia Federal, dizendo que as denúncias contra ele e o Partido dos Trabalhadores (PT) eram boatos e afirmou que a mídia queria criminalizar o PT.
No decorrer do processo, seu tom voltou para o autoelogio: “... não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja católica, nem dentro da igreja evangélica”.
Com a condenação de primeiro grau disse: “se alguém tiver uma prova contra mim, por favor, diga. Mande para a Justiça, mande para a suprema corte, mande para a imprensa. Eu ficaria mais feliz se fosse condenado por conta de uma prova”, afirmando: “nós vamos recorrer em todas as instâncias de todas as arbitrariedades. (...). É preciso fazer processo contra quem mentir, contra quem não disser a verdade nesse país”.
A senadora Gleise Hoffmann também partiu para agressão pessoal: “a sentença de Moro é um acinte contra a democracia e o estado de direito”. “ ....você foi covarde, Moro. Você foi instrumento daqueles que querem acabar com a democracia e impedir o povo de fazer sua opção nas urnas”.
O assecla de Lula, Lindbergh Farias: “Sérgio Moro, você é um covarde. Ser juiz não é isso. Juiz é imparcial. Sérgio Moro, você é um fantoche da Rede Globo”.
Com a confirmação da condenação e a majoração da pena do ex-presidente pelo TRF da 4ª Região, o discurso foi além dos ataques ao Judiciário, que querem impedir Lula de candidatar-se, novamente, ao cargo de presidente da República.
Esqueceram, apenas, de dizer que o que impede Lula ou qualquer outro candidato a disputar uma eleição é a lei de ficha limpa, que diga-se de passagem, por ironia do destino, foi assinada pelo próprio condenado quando exercia o cargo de presidente da República.
Por último, entre vários outros discursos, Lula volta a carga contra Moro, chamando-o de “analfabeto político” e ironizando o auxílio-moradia.
Há de firmar que Moro pode até ser analfabeto político, o que não acredito, acho que ele desconhece a politicalha. Por outro lado, ironizar o auxílio-moradia, previsto em lei, por alguém condenado, que se locupletou de um apartamento tríplex na praia, isto, sim, é irônico, se não fosse a triste realidade.
Volto ao início do artigo parafraseando Cícero: Até quando, ó Lula, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura?
(*)Bady Curi Neto, advogado fundador do Escritório Bady Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG)