Cochilou, o cachimbo cai...

31/03/2017 às 11:41.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:57

Os japoneses podem ser ousados ao desenvolver novas tecnologias, mas costumam ser cautelosos quando se trata de grandes decisões industriais. Preferem sondar o terreno, pesar prós e contras e só então, com o vento a favor, assumir riscos. Que o diga aquela que, até outro dia, era a maior montadora do mundo.

A Toyota levou quatro décadas oferecendo ao mercado brasileiro apenas o Bandeirante, um produto do fim dos anos 50 com mecânica Mercedes, até finalmente resolver diversificar a linha e trazer seu principal sucesso de vendas, o Corolla, inicialmente importado e, a partir de 1998, fabricado em Indaiatuba. O sedã médio chegava credenciado pelo sucesso no resto do mundo e pela reputação da mecânica indestrutível para um segmento que, já então, tinha boas e variadas opções (a começar pelo arqui-rival Civic). E, niponicamente, ocupou o posto de mais vendido de sua classe, caindo no gosto do consumidor.

Felizmente ele não parou no tempo como o veterano Bandeirante e vem passando por sucessivas mudanças de geração ou reestilizações. A última delas acabou de chegar às concessionárias, seguindo o que foi feito na versão europeia. Mudou principalmente o desenho da dianteira (faróis e grade) e, na mecânica, finalmente apareceu o controle de estabilidade, que os adversários já ofereciam. De quebra, retornou a versão XRS, mais bem-resolvida do que a original, que tentava dar um ar esportivo a um “carro de tiozão”, como tem gente que brinca.

A questão é que os japoneses da Toyota optaram pelo conservadorismo, enquanto as demais montadoras começam a ousar. A Chevrolet trouxe para o novo Cruze o mesmo motor 1.5 turbo que equipa a versão norte-americana. E a Honda, na décima geração de seu Civic, resolveu partir de uma folha em branco, desenvolvendo um modelo que não passa despercebido.

Pelo visto, a aposta é na fidelização do consumidor, aquela história do “quem tem não troca”. O que pode ser um risco a médio prazo. Tive a chance de testar a versão Altis 2.0 e, sinceramente, não acho que valha os quase R$ 115 mil pedidos, apesar dos muitos predicados. Mas em pleno 2017 continuar apostando no eixo de torção para a suspensão traseira, usar a mesma alavanca de abertura do tanque de combustível do Etios (pequena e frágil), sem contar alguns pecados num acabamento que sempre foi referência são exemplos de que vale começar a esticar o pescoço para os concorrentes e considerá-los na hora da compra. Reza a sabedoria popular que, “cochilou, o cachimbo cai da boca”. É bom a Toyota ter isso em mente...

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