‘Cofrinho’ decadente: poupança faz 159 anos sem o prestígio de outros tempos

Paulo Henrique Lobato
phlobato@hojeemdia.com.br
10/01/2020 às 21:17.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:15
 ( MAURÍCIO VIEIRA)

( MAURÍCIO VIEIRA)

Criada por Dom Pedro II (1825/1891) em 12 de janeiro de 1861 para estimular a população a guardar periodicamente uma quantia em dinheiro, a caderneta de poupança completa 159 anos, neste domingo, com a imagem desgastada. A centenária modalidade de investimento, agora, cresce num percentual abaixo do índice da inflação. Em outras palavras, quem tem toda a economia depositada na caderneta perde, a cada dia, um pouco do patrimônio. Mas há alternativas para mudar o jogo.

A caderneta de poupança em 2019 rendeu 3,15%. Já a inflação no país foi de 4,31%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A poupança rendeu menos porque a Selic, a taxa que dita a política de juros no Brasil, atingiu em dezembro passado o patamar de 4,5%, o menor percentual da série histórica. O jeito, agora, é procurar diversificar os investimentos para rentabilizar melhor as economias.

“O Brasil sempre foi um país rentista. O investidor não precisava correr tanto risco quando os juros estavam em patamares mais altos. Atualmente, quem aplica apenas na poupança está perdendo poder de compra. O ideal é procurar especialistas que irão avaliar o perfil de investidor e buscar a melhor forma de diversificar seu patrimônio”, disse João Pedro Malaquias, assessor de investimentos da Nex Invest.

A título de comparação, ele mostra que, enquanto a caderneta de poupança fechou o ano com rendimento em torno de 3,5% (abaixo da inflação), o IFIX, o índice de Fundos Imobiliários (como se fosse a referência do Ibovespa no mercado de ações), avançou mais de 30% de janeiro a dezembro de 2019.

“Mas é preciso avaliar bem o perfil do investidor, pois este tipo de investimento tem uma volatilidade maior, mas ainda menor quando se comparado à bolsa de valores. Os investimentos em Fundos Imobiliários são cotados na bolsa. A pessoa pode aplicar o valor mínimo de 1 cota. Não paga Imposto de Renda sobre os dividendos (mensalmente), paga imposto somente sobre o ganho de capital (valorização das cotas), sendo tributado 20% sobre o ganho. “Este tipo de investimento subiu muito devido ao reaquecimento da economia e a queda da taxa Selic”, explicou Malaquias.

A tendência é que esta modalidade continue em ascensão, pois a expectativa é que o percentual de crescimento do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) seja o dobro do de 2019. Puxado, por exemplo, pela construção civil, um dos termômetros da economia nacional. Da mesma forma, o mercado sinaliza que a taxa de juros continuará baixa, mantendo a poupança pequenina.   

Poupar é o primeiro passo da educação financeira

Assim como a maioria dos brasileiros, a aposentada Marilene Teixeira não domina o mercado de investimentos, mas ela foi alertada por um parente especialista no assunto que está perdendo dinheiro ao deixar toda sua economia na caderneta de poupança: “Meu sobrinho virá aqui em casa me ajudar a aplicar melhor o dinheiro que economizei ao longo da vida”.

Embora ela esteja perdendo rendimento, quando comparada a correção da poupança com a inflação divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE, dona Marilene consegue, ao menos, poupar. 

Essa opção, dizem especialistas, é um importante motor para a educação financeira. “O primeiro passo é economizar. É um hábito que não faz parte da vida da maioria dos brasileiros. Já o segundo passo é saber onde aplicar, qual investimento é melhor para a pessoa”, explica o educador financeiro Carlos Eduardo Costa.

Ele usa uma metáfora para reforçar a importância de o brasileiro economizar e saber onde melhor investir o que poupou: “O investimento é como uma ponte que une o seu presente ao seu futuro. Há várias pontes e você precisa saber qual delas é melhor para a sua travessia”. Costa destaca, por exemplo, que os grandes bancos não oferecem todas as modalidades de investimentos, porque, devido à estrutura imensa que têm, conseguem captar milhares de clientes. 

Já bancos menores, com menos clientes, oferecem por meio de corretores maiores prêmios como estratégia para atrair mais investidores. Dessa forma, o ideal é que a pessoa faça como dona Marilene: consulte um especialista – ou mais de um – para saber como maximizar o rendimento.

 O ideal, diz Costa, é diversificar aplicações. “O investidor terá de analisar qual risco está disposto a correr e quando será o resgate. A bolsa, por exemplo, apresenta alto risco em curto prazo. Se a pessoa topar prazo mais longo, também há os títulos do governo, com rendimento de 2% a 2,5% acima da inflação anual”, explicou o professor, que coordena o curso de Administração do Ibmec.

Saiba como diversificar aplicações: 

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