Criado há 15 anos no governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e continuado nos governos petistas que se seguiram, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem neste ano número recorde de inscrições. É um sucesso, a demonstrar que o país ganha quando uma boa ideia tem continuidade, independentemente do partido político no governo.
A ideia do Enem foi concebida pelo economista gaúcho Paulo Renato Souza, ministro da Educação durante os oito anos do governo FHC – o segundo maior tempo de alguém nessa pasta. O maior é o do advogado mineiro Gustavo Capanema, que foi ministro do governo Getúlio Vargas entre 1934 e 1945. Os dois promoveram grandes mudanças no sistema educacional brasileiro e concluíram a carreira, um como senador, outro como deputado federal.
Educação e política sempre andaram juntas no Brasil, mas nem sempre com resultados positivos para o país. De qualquer forma, com altos e baixos, o ensino vem avançando. Há cinco anos, participando de um encontro de empresários promovido pela Fundação Dom Cabral, Paulo Renato Souza, que viria a morrer três anos depois de ataque cardíaco, disse que fazia falta ainda, ao país, a melhoria da qualidade do ensino. Estudo feito na época mostrou que nem 10% dos alunos tinham índices de aprendizagem compatíveis com a série que frequentavam.
A próxima prova do Enem, a ser realizada em outubro, deve avaliar o nível de conhecimento de 7,17 milhões de estudantes inscritos em busca de uma vaga nos cursos superiores. O número do ano passado, de 5,97 milhões, tinha sido também recorde. A diferença entre um e outro revela como cresce significativamente o número dos que estão concluindo o segundo grau e querem prosseguir nos estudos.
Continuam os problemas na área da educação, como má formação e má remuneração dos professores, mas são indiscutíveis os avanços. Como lembrou em 2008 o ex-ministro Paulo Renato Souza, o ensino vem se democratizando a cada ano. “Todos nós temos saudades das escolas públicas dos anos 60”, ele admitiu em sua palestra a empresários, “mas 40% das crianças estavam fora da escola”.
Para fazer a prova do Enem, o Ministério da Educação cobra taxa de inscrição de R$ 35, mas estão isentos mais de 1,31 milhão de inscritos. São aqueles matriculados em escolas públicas cadastradas no censo escolar. Outros 3,93 milhões farão o Enem de graça, porque a renda de suas famílias vai até 1,5 salário mínimo. Não há razão para ter saudades dos anos 60.