(GEORGE FREY / AFP)
Os Estados Unidos não vão cumprir seu compromisso de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, estabelecidas pelo Acordo de Paris sobre o clima, indica um relatório divulgado neste sábado (11) durante as negociações da ONU em Bonn.
Um aumento dos esforços em nível subnacional para reduzir a pegada de carbono do país não compensará a decisão do presidente americano, Donald Trump, de abandonar as políticas de seu predecessor e promover o uso das energias fósseis, adverte o documento.
"Tendo em conta as políticas da administração atual dos Estados Unidos, os comprometidos esforços não federais não bastam para que sejam cumpridos os compromissos dos Estados Unidos no Acordo de Paris", estabelece a análise, de 120 páginas, chamada "O compromisso da América".
O governador da Califórnia, Jerry Brown, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg revelaram o relatório em Bonn, junto com a chefe da ONU para o clima, Patricia Espinosa, e o primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, que preside os encontros.
No acordo assinado por 196 países na capital francesa em 2015, os Estados Unidos se comprometeram voluntariamente a reduzir as emissões de seu país em 26-28% até 2025.
Apesar da falta de compromisso em nível federal, uma série de ações contra as mudanças climáticas farão com que a tendência das emissões se mantenha em baixa nos Estados Unidos, indica o relatório, também apresentado pelo World Resources Institute e pelo Rocky Mountain Institute.
"Estados, cidades e empresas emergiram como a nova cara da liderança americana para as mudanças climáticas, e ganham força com compromissos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa", afirmaram em um comunicado.
"Se esses atores não federais fossem um país, sua economia seria a terceira maior do mundo".
Vinte estados americanos, 110 cidades e mais de 1.400 empresas operativas nos Estados Unidos fixaram objetivos para reduzir as emissões desses gases nocivos, segundo o relatório.
Coletivamente, eles representam US$ 25 trilhões em capitalização de mercado e quase um bilhão de toneladas de emissões de gases de efeito estufa por ano.
Tendência clara
A Califórnia foi o Estado que adotou os objetivos mais ambiciosos, com a ideia de que as emissões de gases do efeito estufa diminuam ao menos 40% até 2030, quando os níveis deveriam ser inferiores aos de 1990.
Desde que assumiu o cargo, Trump cumpriu duas promessas de campanha: retirar seu país do Acordo de Paris e revogar o plano de Barack Obama que impulsava as energias renováveis e buscava cortar as emissões de usinas de energia dos Estados Unidos pela primeira vez.
Mas sua promessa de revitalizar a indústria do carvão dos Estados Unidos - debilitada pela queda dos preços do gás natural - será difícil de cumprir, advertem especialistas.
"A tendência está muito clara", afirmou Alden Meyer, encarregado de política e estratégia na União dos Cientistas Preocupados (UCS, sigla em inglês) em Washington.
"Os investimentos e o desenvolvimento das energias renováveis e das energias eficientes continuaram crescendo".
O emprego na indústria da energia solar cresceu 24,5% em 2016 em comparação com o ano anterior, dando trabalho a quase 374.000 pessoas, segundo o departamento de Energia dos Estados Unidos.
Mais de 100.000 pessoas trabalhavam no setor da energia eólica no final do ano passado nos Estados Unidos.
Em comparação, as energias fósseis tradicionais - incluindo gás e petróleo - empregavam 187.000 pessoas.