Tema polêmico no país, a batalha para o reconhecimento da aplicação de ozônio com finalidade terapêutica ganha novo capítulo com a criação da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica (Sobom). O órgão quer ampliar a divulgação da técnica que, segundo especialistas adeptos do método, são eficazes graças aos poderes anti-inflamatórios e antimicrobianos atribuídos à molécula. O Conselho Federal de Medicina (CFM), porém, não reconhece a prática.
Quem é submetido à técnica garante melhora em sintomas de doenças. É o caso do consultor de finanças pessoais Diogo Gonçalves, de 37 anos. Em 2017, ele foi atrás de um tratamento para acabar com as crises de sinusite e gripe. Seis meses depois, começou a aplicação de ozonioterapia. “Nunca tinha ouvido falar, e tive preconceito, achei que não iria melhorar. Mas, me surpreendi. Há oito meses não tenho crise de sinusite e a baixa imunidade, que me deixava resfriado, acabou”, conta.
A técnica consiste em administrar uma mistura de gases ozônio (5%) e oxigênio (95%) no organismo para combater infecções e aliviar dores, explica o nutrólogo Adriano Faustino, diretor-científico da Sobom e que trabalha com a terapia desde 2012. Também é usada para reduzir efeitos colaterais do tratamento de câncer e amenizar a hérnia de disco.
A aplicação é rápida e feita em locais específicos, principalmente onde há dores. No corpo, a combinação aumenta a oxigenação celular, facilitando a circulação sanguínea e destruindo bactérias, o que aumenta a resistência imunológica. “Há efeitos anti-inflamatórios, analgésicos, germicidas”, frisa a presidente da Sobom, Maria Emília Gadelha Serra. A molécula também teria poder antioxidante, revertendo o grau de envelhecimento de órgãos e tecidos e prevenindo doenças degenerativas, como Alzheimer.
Bucal
Tantas propriedades atribuídas à terapia levaram a molécula a ganhar espaço até na cadeira do dentista. Em 2015, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) regulamentou a aplicação do ozônio como prática integrativa e complementar ao tratamento dentário. Nesses casos, a ação é local, explica Maria Virgínia Cerqueira, presidente da Comissão de Práticas Complementares e Integrativas (PICs) do Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG).
A especialista afirma que o ozônio não tem efeito colateral, não provoca dor e apresenta resposta rápida ao tratamento. “Quando entra no corpo é difundido para todos os tecidos, trazendo sensação de bem-estar”.
Na odontologia, a terapêutica é indicada para antes, durante e depois de cirurgias, para reduzir o perigo de infecção e inflamação. “Até para tratar canal cuja infecção não foi controlada, e o local está cheio de bactérias”, explica Maria Virgínia. Entretanto, os médicos alertam: o procedimento não cura doenças. “Não se pode falar nisso, mas contribui para uma boa qualidade de vida, melhora a condição do paciente”, ressalta o nutrólogo Adriano Faustino.
Segundo especialistas, pessoas de todas as idades podem ser tratadas. A contraindicação é para quem tem deficiência da enzima G6PD, que causa alergias mais severas. Nesses casos, um exame de sangue pode ser pedido pelo médico
Reconhecimento da prática será analisada no Congresso
A ozonioterapia é aplicada há mais de cem anos na Alemanha. Países, como Itália e Portugal, já incluíram o procedimento em hospitais públicos. Porém, no Brasil, o CFM proibiu a aplicação em julho de 2018. Conforme a entidade, médicos só podem adotar o recurso em caráter experimental.
O órgão alega faltar comprovação científica, o que pode colocar a vida do paciente em risco. Segundo Leonardo Luz, relator da portaria, a maioria dos mais de 26 mil estudos sobre o tema, em todo o mundo, “são apenas relatos de casos”. “O que mais nos preocupa é a embolia gasosa (obstrução de artérias por gás), que pode entrar na corrente sanguínea e matar. Ainda não se sabe quanto e por qual via aplicar o ozônio”.
Entretanto, o médico afirma, não ter chegado ao CFM, até o momento, queixas de brasileiros cujos tratamentos com a terapia deram errado. Desde que é utilizada, há sete óbitos relatados no mundo.
Lei
Presidente da Sobom, Maria Emília Gadelha acredita que o cenário pode mudar. Em 2018, o Senado aprovou projeto de lei que reconhece a ozonioterapia no país. Agora, a proposta está na Câmara dos Deputados.
Há duas semanas, parlamentares foram a Portugal conhecer a prescrição do método. Defensores da técnica afirmam que as informações colhidas no país lusitano vão resultar no reconhecimento da prática. “É extremamente seguro, só há risco se inalar o gás. Porém, os equipamentos de hoje oferecem segurança para evitar isso”, reforça Maria Virgínia Cerqueira, presidente da Comissão de Práticas Complementares e Integrativas do CRO-MG.