Começa duplicação da BR-116 na Serra do Cafezal

José Maria Tomazela
11/04/2013 às 20:06.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:45

A duplicação da Serra do Cafezal, último trecho de pista simples da rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que liga São Paulo ao sul do País, começou para valer sem nenhum alarde. Nesta quinta-feira (11), motosserras de uma contratada faziam a abertura da mata espessa para a entrada de máquinas e equipamentos. A limpeza do traçado teve início na altura do km 334, no bairro do Cafezal, divisa de Juquitiba com Miracatu. A duplicação de 19 quilômetros no trecho central da serra, do km 344 ao km 363, deve ser concluída apenas em 2017. O trecho é recordista em acidentes nos 402,6 quilômetros entre São Paulo e Curitiba, por isso a estrada ficou conhecida como "rodovia da morte".

A empresa informou ter cumprido as condicionantes ambientais para a duplicação, previstas na licença concedida em janeiro, e que a supressão vegetal é preparatória para as obras de engenharia.

Paralelamente à retirada da mata, a empresa realiza o resgate de flora e fauna ameaçada de extinção. O projeto prevê quatro túneis e 36 pontes e viadutos para reduzir o impacto na Mata Atlântica que recobre a serra. Ao todo, serão oito quilômetros de pista aérea e dois de subterrânea. Na subida, sentido São Paulo, a rodovia terá três faixas e estrutura para receber, no futuro, uma quarta faixa. Na descida, sentido Curitiba, serão duas faixas, com base para a terceira.

Para diminuir o impacto ambiental, a segunda pista terá cinco quilômetros fora do eixo da estrada atual. O traçado vai contornar um maciço de serra e mata que faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar. O desvio, do km 358 ao km 363, vai formar uma "ilha" de mata, cercada pelas duas estradas, mas os viadutos sobre pilares elevados evitarão o confinamento da fauna. O material retirado de 1,8 km de túneis será usado em aterros. As obras consumirão 130 mil m3 de concreto. A pista antiga será restaurada e ganhará reforço com concreto asfáltico. Alguns trechos serão refeitos para redução de curvas e declives. A obra tem custo estimado de R$ 700 milhões.

A duplicação implicará na supressão de 113,8 hectares de floresta, dos quais 34 em Área de Proteção Ambiental (APP), mas está prevista a recuperação de matas degradadas na mesma região. Entidades do meio ambiente contestam o projeto. A SOS Manancial encaminhou documento ao Ibama comparando a duplicação da Régis à construção da nova pista na Rodovia dos Imigrantes. Para a entidade, o projeto de Imigrantes adotou 100% de obras de arte para preservar a mata, enquanto na Régis o índice de obras de arte é inferior a 50%, aumentando os cortes e aterros na região serrana.

Inaugurada em 1961, no governo de Juscelino Kubitschek, com pista simples, a Régis foi quase toda duplicada até o final da década de 1990. A duplicação da serra é reivindicada há mais de 20 anos. O afunilamento no tráfego causa perda de tempo e acidentes. Em 2012, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ocorreram 410 acidentes - mais de um por dia - com 13 mortes. Os congestionamentos geram outro tipo de prejuízo para os usuários: quadrilhas aproveitam o trânsito parado e saqueiam as cargas dos caminhões ou ameaçam motoristas de automóveis, furtando dinheiro e objetos de valor. O começo e o fim de serra já tiveram obras de duplicação: o trecho inicial, do km 334 ao 337 já foi aberto ao tráfego; o final, entre o 363 e o 367, será entregue em agosto.
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