SÃO PAULO - Uma comissão que avalia o banco do Vaticano fez um relato sobre as suas conclusões ao papa e a cardeais nesta terça-feira (18), antes que o papa decida o que fazer com a instituição que, nos últimos anos, teve escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro. A comissão, formada pelo papa Francisco em junho, fez um relato de três horas ao papa e aos oito cardeais do conselho que o assessora na reforma da administração do Vaticano. Depois da reunião, o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, afirmou que não havia sido tomada nenhuma decisão sobre o futuro do banco, cujo nome oficial é Instituto para as Obras de Religião (IOR). O papa não descartou simplesmente fechar o banco se ele não puder ser reformado e disse querer que o Vaticano siga o padrão internacional de transparência financeira. Fala-se que um novo ministério poderia ser criado no Vaticano para lidar com temas financeiros, que atualmente estão sob a responsabilidade do banco e de outros departamentos. Lombardi disse que a comissão fez um relato "amplo e detalhado" da história e da situação atual do banco, além de oferecer "possíveis indicações" sobre o futuro da instituição. Participou das reuniões o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, que receberá o título de cardeal no sábado, juntamente com outros 18 cardeais, dos quais seis latino-americanos. As sessões de trabalho, descritas como "intensas" pelo porta-voz papal, têm se concentrado na análise da complexa situação da Cúria Romana um órgão que reúne 2 mil pessoas e cerca de 20 ministérios, com base em "relatórios, ideias e propostas". A comissão é composta por quatro religiosos e uma professora de direito de Harvard, Mary Ann Glendon. Amanhã, o papa e seus assessores se reunirão à tarde com o Conselho dos 15, o corpo criado por João Paulo II para que as igrejas locais tivessem mais controle sobre as contas do Vaticano. Reforma A reforma das finanças do Vaticano é um dos maiores desafios para o papa argentino, que prometeu organizar o IOR, criando controles mais estritos sobre esta instituição marcada na Itália por seu envolvimento em escândalos de lavagem de dinheiro. Um dos passos para mudança foi tomado em janeiro, quando o papa Francisco trocou quatro dos cinco cardeais da comissão que supervisiona o banco. Entre os substituídos está o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer. Em novembro, Francisco nomeou seu secretário pessoal, o maltês Alfred Xuereb, supervisor das atividades do banco, responsável por informá-lo dos trabalhos no IOR. O papa também escolheu recentemente o industrial alemão Ernst von Freyberg como o primeiro presidente não italiano do banco, com o objetivo de adequar a administração interna às normas internacionais. Reclamação O jornal italiano "Il Messaggero" citou hoje uma carta de janeiro escrita pelos diretores da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano (AIF) ao secretário de Estado do Vaticano, na qual reclamam de não terem informações sobre as investigações do órgão acerca de transações financeiras suspeitas na Santa Sé. Em janeiro, o papa aceitou a demissão do cardeal Atillio Nicora como presidente da AIF. A carta dizia que a decadência começou com a chegada à diretoria do perito contra a lavagem de dinheiro, o suíço René Bruelhart. A diretoria é composta de italianos que têm laços estreitos com instituições financeiras do país, que sempre tiveram uma relação conflituosa com a Santa Sé.