Chegada do período das chuvas acende alerta para tragédias, como desabamentos e alagamentos, diz presidente do colegiado
Pelo menos metade dos imóveis no estado está em situação irregular, segundo dados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Minas Gerais. O alto percentual de propriedades fora da conformidade legal acende um alerta para os riscos associados à segurança e à estabilidade dessas construções, principalmente no período de chuvas que trazem riscos de desabamentos, segundo a presidente da Comissão Estadual de Direito Imobiliário da Ordem, Eliza Novaes. A advogada destaca que a situação é especialmente crítica em áreas de risco, como morros e encostas.
"A irregularidade de imóveis em regiões vulneráveis pode aumentar a exposição das construções a deslizamentos e outros problemas estruturais, especialmente durante o período de chuvas", afirma a especialista, ressaltando a necessidade de uma atuação mais efetiva para garantir a segurança das famílias.
O motivo principal de tantos imóveis em situação irregular é a falta de documentação adequada e o descumprimento das normas urbanísticas. "A construção sem alvará ou a ocupação de áreas não previstas para moradia são algumas das irregularidades mais comuns", explica a presidente da comissão. Em muitas situações, diz ela, esses imóveis não possuem escritura, registro em cartório ou não cumprem as normas ambientais e de segurança estabelecidas pela legislação, quadro que deixa esses imóveis mais vulneráveis a diversos problemas legais e financeiros.
Frequentemente localizadas em regiões de risco, as moradias sofrem mais com impactos das chuvas intensas, como a que afeta diversas regiões da capital mineira nesta quarta-feira. "No período chuvoso os problemas construtivos se tornam mais evidentes e as falhas nas fundações ou nas construções precárias podem resultar em acidentes graves", alerta Eliza Novaes.
As consequências para quem possui um imóvel irregular em Minas são severas, alerta a OAB. Há risco de multas, embargo da obra, demolição, dificuldades de financiamento, aumento do IPTU, desvalorização do imóvel e até a perda da propriedade. O embargo da obra é uma medida frequentemente adotada pelas autoridades para impedir que o imóvel continue em construção ou ocupação sem as devidas licenças. Em casos mais extremos, quando a irregularidade compromete a segurança, o imóvel pode ser demolido, trazendo um prejuízo financeiro significativo ao proprietário.
"Em razão da falta de regularização, é muito difícil para esses imóveis obterem financiamento bancário ou seguros, o que limita a negociação e venda", explica a advogada. O valor do IPTU também pode ser elevado quando a propriedade é classificada como irregular, o que representa um custo adicional para o proprietário. Não menos importante, a desvalorização do imóvel pode superar 30%, o que afeta diretamente o patrimônio dos donos e prejudica a possibilidade de revenda ou aluguel.
Outro problema que surge com as irregularidades é o risco de contestações legais. Imóveis em situação irregular estão sujeitos a disputas judiciais, litígios entre vizinhos ou até mesmo a perda da propriedade por meio de processos de usucapião.
Usucapião pode ser uma alternativa de regularização
A presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG ressalta que existem formas de regularização, como a usucapião, que pode ser uma solução para quem possui imóveis sem documentação formal, especialmente em situações de posse prolongada. "A usucapião é uma alternativa legal, especialmente em casos de heranças ou ocupações contínuas. No entanto, é importante que as famílias entendam os requisitos legais e tenham a documentação necessária para comprovar a posse", explica, destacando que o desconhecimento sobre o processo tem causado dificuldades, já que muitas vezes os herdeiros ou ocupantes não possuem os documentos necessários ou enfrentam conflitos internos sobre a destinação do imóvel.
A advogada também alerta para a complexidade do processo de usucapião em imóveis herdados, onde é comum que o imóvel tenha mais de um herdeiro e surjam disputas sobre a titularidade. "Em muitos casos, não há consenso entre os herdeiros, o que dificulta a regularização. Além disso, a falta de documentação de melhorias feitas no imóvel, como reformas e benfeitorias, pode tornar o processo de usucapião ainda mais desafiador", afirma Eliza.
Para a advogada, a atuação conjunta da advocacia, do setor público e da sociedade é essencial para que o Estado possa avançar na regularização de imóveis, garantindo maior segurança e estabilidade para todos os envolvidos. "É fundamental que os profissionais da área, juntamente com as autoridades competentes, ofereçam orientações claras e ações eficazes para minimizar os danos e promover a regularização dos imóveis no Estado".
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