(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)
Enquanto a conta bancária dos brasileiros fica cada vez mais próxima do negativo, os cofres dos bancos seguem na direção contrária. Na lista de dez companhias que mais lucraram no primeiro trimestre deste ano, cinco são instituições financeiras. Como conseguem tal façanha? A resposta é simples, com o seu dinheiro.
Quem aplica R$ 5 mil na poupança, ao final de um ano, tem R$ 5.418,50 de saldo. Se, ao contrário, o correntista fica devendo R$ 5 mil no cheque especial, a dívida chega a R$ 18.541 ao final de 12 meses. Essa diferença entre o que o banco cobra quando empresta e quanto paga quando capta, o chamado spread bancário, é a principal fonte de riqueza dessas instituições.
Se no setor financeiro não há crise, no mundo real os brasileiros convivem com inadimplência, desemprego, empréstimos, cartão de crédito no limite e cheque especial. E é esse descontrole financeiro que faz a mágica da multiplicação do dinheiro acontecer nos bancos.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, explica que ao mesmo tempo em que os bancos têm seus empréstimos lastreados pela Selic, que está em 14,25% ao ano, cobram dos clientes percentuais bem mais altos. Só no cartão de crédito, os juros cobrados chegam a 441,76% ao ano.
Outra forma de rentabilidade é a cobrança de taxas, em trajetória de alta. Oliveira lembra que as taxas e juros tendem a ficar maiores em tempos de crise. “Os bancos deixam de ganhar em escala, porque os financiamentos caem. Em contrapartida, eles passam a ter margens mais altas para cobrir os riscos de perdas”, explica.
Desempenho de mercado
Segundo dados da Economática, bancos como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e BTG apresentaram os melhores desempenhos dentre as empresas de capital aberto do país, com lucros bilionários.
Elas ainda possuem participação acionária em algumas das principais empresas com sede no Brasil. A Vale, por exemplo, que foi a empresa brasileira que mais lucrou no primeiro trimestre deste ano, tem dentre os principais acionistas, o Bradesco, com participação de 21,2% via Bradespar (um dos braços do banco).
Alta da taxa dos juros dificulta a recuperação da economia
A estabilidade da taxa Selic em 14,25%, a maior dos últimos dez anos, desde julho do ano passado, é positiva para os bancos. Além de justificar taxas mais altas, ainda torna investimentos lastreados por ela mais interessantes, ou seja, atrai clientes.
“A alta da Selic favorece a manutenção de uma sociedade que vive mais de rendimentos do que de investimentos reais. É bom para os bancos e ruim para a economia real porque esse recurso poderia ser utilizado para criar empresas e gerar empregos”, avalia o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen.
Além da Selic, a desinfor-mação dos brasileiros é outro ativo importante para os bancos. “Com o discurso de que está do seu lado e que tem o crédito e investimento certo para você, os bancos atraem milhares de desinformados. E ganham muito dinheiro com isso, já que o negócio deles é esse”, afirma a advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim.
Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou que a maior parte do valor gerado pelos bancos se destina a remunerar seus funcionários e a sociedade como um todo, por meio de impostos e contribuições sociais pagos ao governo, sendo distribuído em recursos humanos (41,7% do valor), governo (23,9%) e acionistas (34,4%).
Em nota, o Banco do Brasil informou que “pauta sua política de tarifas de acordo com os normativos do Banco Central e monitora os movimentos do mercado”. Os demais bancos não se manifestaram.Editoria de Arte / N/A
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