Não é possível ensinar alguém a ser empreendedor, mas é possível aprender, porque ele aprende por tentativa e erro – e fazendo. É o que afirmou na entrevista de segunda-feira do Hoje em Dia o consultor e professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Fernando Dolabela.
Segundo ele, o empreendedor é um ser absolutamente normal, usual, corriqueiro. Sendo assim, era de se esperar que seu número fosse bem maior neste país de 200 milhões de pessoas. Uma das razões para isso estaria na educação básica brasileira, na qual a palavra empresa não é ouvida. “É um termo maldito”, lamenta o professor.
A escola, em todos os níveis, tem preparado o aluno para ter um emprego. Nosso sistema educacional não considera a criatividade, a emoção, a inovação, não aborda a tolerância à incerteza. São estes os pontos fundamentais na formação de um empreendedor, tanto quanto a descoberta do próprio talento e de um sonho a se tornar realidade.
E qual seria a função do governo, que tanto fala em desenvolver o empreendedorismo, como uma forma de garantir empregos em novas empresas? Na opinião de Dolabela, cabe ao Estado criar a infraestrutura, a exemplo dos sistemas tributário e trabalhista e da oferta de crédito. Mas, sobretudo, sinalizar para uma mudança cultural. Hoje, o bom é ser empregado, de preferência no serviço público, que não gera riqueza. Com a nova cultura, o bom é empreender.
E será melhor ainda quando o país puder contar com mais empreendedorismo de alta tecnologia, de alto impacto, “que são as empresas onde há inovação gerando valor”.
Não é realmente difícil. Minas possui muitas dessas empresas. Na última sexta-feira, o HD publicou excelente exemplo, ao relatar o caso da Vilma Alimentos, que no ano passado lançou cerca de 30 produtos. Entre eles, uma linha de massas destinada às crianças. O mais notável é que tal inovação se registra numa empresa que começou há quase 90 anos em Minas com pequena produção artesanal de massas feita pelo imigrante italiano Domingos Costa e sua mulher, Josefina, e que, controlada hoje pela quarta geração da família, se destaca entre as maiores indústrias alimentícias brasileiras.
A atual presidente, Patrícia Costa, bisneta dos fundadores, assumiu o cargo aos 33 anos, depois que o pai e um irmão morreram num acidente de avião, juntamente com quatro executivos da empresa, numa viagem de negócios. A tragédia foi uma surpresa, mas não a sucessão, pois Patrícia vinha se preparando para o cargo. Graduada em Administração, fez pós-graduação em Finanças na FDC e MBA em Marketing no Ibmec, e trabalhava na empresa desde os 20 anos.
O caso dela mostra que é possível, de fato, aprender a ser um bom empreendedor, se não teve o azar de frequentar escolas que matam a criatividade dos alunos, ensinando apenas como operar as coisas.