Conceição do Mato Dentro sob a ameaça da mineração

Hoje em Dia
29/11/2013 às 07:11.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:27

O drama vivido pelos moradores de Conceição do Mato Dentro, exposto nas duas últimas edições do Hoje em Dia, pode estar apenas começando. Os problemas devem se acentuar, quando estiver operando o mineroduto que está sendo construído para levar o minério de ferro até o litoral do Rio de Janeiro, para ser exportado.

Pois, junto com o minério, a tubulação de aço estará levando água doce que já não é abundante nessa região, apesar de suas famosas cachoeiras.

Esse fato motivou ambientalistas a se manifestarem contra esse empreendimento bilionário, na época em que se discutia a concessão de licença ambiental e de instalação da mina e do mineroduto. O governo não lhes deu a devida atenção. Conceição do Mato Dentro poderá ter o mesmo destino de outras cidades históricas mineiras, mais castigadas, no decorrer do tempo, do que beneficiadas pela riqueza que se escondia em suas terras.

Mineradoras poderosas, como a Anglo American, chegam nesses rincões com promessas de progresso. E vão embora, depois que o minério se esgota, deixando para trás terras e pessoas devastadas.

É irônico que um dos mais famosos conterrâneos dos que padecem hoje em Conceição do Mato Dentro, José Aparecido de Oliveira, tenha sido ministro da Cultura no governo Sarney, depois de ter sido o fundador da Secretaria da Cultura e da TV Cultura – hoje TV Minas –, quando Tancredo Neves era o governador. Pois, em sua terra, é a cultura de toda uma gente que a mineração vai aos poucos destruindo, juntamente com outros bens.

A reportagem observou a brutal transformação de uma comunidade de 18 mil moradores, depois da chegada, sem medidas de mitigação, de 8 mil operários de várias regiões do país, para as obras da Anglo American.

A empresa não construiu casas para abrigar os operários. Não era sua obrigação, pois “a implantação de alojamentos para peões na cidade não estava no licenciamento”, justificou o secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Ricardo Guerra. “Sem essa previsão, não houve medida mitigadora dos impactos”, acrescentou.

Assim, a chegada de tantos novos moradores desestruturou toda a cidade, hoje ameaçada pela violência. Teria sido melhor se tivesse investido no ecoturismo.

Com tais precedentes, é de se comemorar o resultado do leilão feito ontem pela Agência Nacional do Petróleo. Nesta 12ª rodada de licitações, foram ofertados 240 blocos para exploração de gás, mas apenas 72 foram arrematados. A ANP arrecadou R$ 165 milhões em bônus de assinatura.

Ninguém se interessou pelos blocos da bacia do São Francisco. Assim, pelo menos por enquanto, essa bacia não será degradada com a possível exploração do gás de xisto, com a tecnologia usada nos Estados Unidos, mas proibida na França, pois representa grande ameaça às reservas de água do subsolo. 

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