O set tem câmeras e policiais do Bope de fuzis nas mãos, mas as balas não são de festim nem isso é "Tropa de Elite". O que parece ficção é, na verdade, a vida real da sexta temporada de "Conexões Urbanas", programa comandado por José Junior. Ameaçado de morte e escoltado por policiais durante 24 horas, Junior é o coordenador do Afro Reggae, movimento social que mexeu com o poder do tráfico no Rio.
Com direção do premiado cineasta Jeferson De, a nova safra estreia neste domingo (27), às 22h30, no Multishow. E já que a rotina vivida por Júnior afeta todas as suas atividades, a temporada reserva um inevitável caráter de reality - sem show -, especialmente nos dois primeiros dos 15 novos episódios.
Em conversa com a reportagem por telefone, Júnior contou que o plano inicial previa gravações em São Paulo, Minas, Pará, Amazonas, Bahia e Pernambuco. Mas a situação de quem é jurado de morte forçou uma reforma no roteiro e a equipe quase não saiu do Rio. A exceção é o episódio Alcatraz Mineiro, gravado no presídio privado de Ribeirão das Neves.
"A confusão do ataque ao Afro Reggae começou no primeiro dia de gravação", ele lembra. "Isso foi dia 9 de julho. No dia 11 de julho, meu pai faleceu e duas semanas depois, minha filha nasceu." Foram dias intensos.
O momento mais tenso foi o nascimento da filha. A mulher sentiu as dores do parto à noite, quando ele já havia dispensado a escolta que o acompanha - em casa, o plantão policial é de 24 horas. Teve de esperar pela volta da escolta para seguir até o hospital. Lá pelas 6h da manhã, quando levou o bebê até a vitrine onde o pai costuma apresentar o recém-nascido a familiares e amigos, encontrou dois policiais do Bope a lhe sorrir.
Durante as gravações, um episódio marcante foi a visita a um menino com câncer, em casa. "Ele morava perto de uma favela e, no meio da entrevista, um dos policiais que trabalham comigo, que estava fora da casa, entrou e começou a me olhar nos olhos. Perguntei: Aconteceu alguma coisa?E ele: Aconteceu. Você vai ter que ir embora agora. Teve um tiro aqui atrás. Eu perguntei: Mas foi por minha causa? Ele falou: a gente não sabe ainda. Na hora ele não sabia." À tarde, Júnior viu na internet que os tiros vinham de uma operação policial.
"O garoto estava debilitado. Eu olhava para o policial e olhava para o garoto. E se eu não fosse embora? Se o tiro fosse por minha causa, eu teria colocado aquela família em risco. Quando fui embora e cheguei no escritório, chorei, fiquei mal por causa do garoto. Ele estava feliz porque eu estava lá, ele estava debilitado e estava me contando a história dele."
Uma compensação foi encontrar gente de diferentes níveis sociais e idades manifestando apoio e solidariedade à sua causa e ao Afro Reggae. "O público que não dialogava antes, as pessoas mais velhas, todos começaram a dar apoio, a querer estar perto, a proteger." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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