Adrielly dos Santos Vieira, de 10 anos, atingida na cabeça por uma bala perdida por volta de 0h15 do dia 25 de dezembro, no bairro de Piedade, na zona norte do Rio, e operada apenas oito horas depois, por falta de médico neurocirurgião no Hospital Municipal Salgado Filho, no Meier (zona norte), teve morte cerebral no domingo (30) à noite. Ela estava internada no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro, para onde foi transferida no dia 27.
"O médico falou que ela está morta. Disse que o coração ainda está batendo, mas o cérebro parou de funcionar", afirmou o pai da menina, Marco Antonio Vieira. A Secretaria Municipal da Saúde confirmou a morte cerebral. Segundo a família, Adrielly foi ferida quando brincava na porta de casa com a boneca que havia acabado de ganhar. A polícia investiga a origem do tiro, que pode ter partido de traficantes da Favela Urubuzinho, que, segundo testemunhas, comemoravam o Natal com disparos para o alto. Adrielly mora com a família em uma casa entre as Favelas Urubu e Urubuzinho.
A menina foi levada ao hospital e chegou à 0h30, mas não havia neurocirurgião de plantão. O médico escalado para o plantão noturno de Natal do Hospital Salgado Filho era Adão Orlando Crespo Gonçalves. Em depoimento à polícia, ele afirmou que faltava aos plantões há mais de um mês por discordar das condições de trabalho no hospital. O médico alegou que uma resolução do Conselho Regional de Medicina determina que cada plantão tenha pelo menos dois médicos neurocirurgiões. Crespo seria o único na especialidade a trabalhar na noite do dia 25 de dezembro.
Segundo o médico, a determinação do Conselho não era cumprida no Salgado Filho, onde a garota foi atendida. Em depoimento à Polícia Civil, o médico disse ter comunicado sua decisão de não trabalhar no plantão ao chefe do setor de neurocirurgia do hospital. Crespo foi afastado da função e pode ser indiciado por omissão de socorro.
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