Conselho Gestor vive últimos dias jogando pressão nos próximos presidentes do Cruzeiro e do Conselho

Alexandre Simões e Guilherme Piu
@oalexsimoes e @guilhermepiu
08/05/2020 às 12:38.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:27
 (Marcelo Jabulas)

(Marcelo Jabulas)

O Núcleo Dirigente Transitório do Cruzeiro vive a sua reta final à frente do clube, pois em 1º de junho o novo presidente tomará posse, e nessas últimas semanas, firme à proposta de moralização, tomou várias atitudes que pressionam o próximo mandatário da Raposa e também aquele que comandará o Conselho Deliberativo, em eleição dupla que acontecerá no próximo dia 21 de maio.Marcelo Jabulas

As irregularidades da gestão Wagner Pires de Sá revoltaram a torcida cruzeirense, que fez vários protestos na sede do clube desde o ano passado, mas segue refém de um Estatuto ultrapassado

O desejo do Conselho Gestor cruzeirense era comandar o clube até o final de 2020. Desta forma, imaginava que poderia limpar a casa e colocar as coisas nos trilhos. O grupo inclusive chegou a lançar a candidatura de um dos seus integrantes, o empresário Emílio Brandi, à presidência, mas ela foi retirada a partir do momento que foi percebida a possibilidade de uma disputa política.

Com o projeto de certa forma abreviado, oficialmente ou não, muitas ações foram feitas nas últimas semanas com o objetivo de moralizar o clube, mas todas elas pressionam os próximos presidentes do Cruzeiro e do seu Conselho Deliberativo.

Expulsões

Em 20 de abril, o Hoje em Dia revelou em primeira mão que o presidente José Dalai Rocha assinou o ato de expulsão de 30 conselheiros que prestaram serviço remunerado ao clube na gestão Wagner Pires de Sá. Isso é proibido pelo Estatuto, aprovado em 2015, e o processo foi conduzido pela Comissão de Ética do Conselho Deliberativo, sem a sua participação. Ele apenas referendou o que o grupo decidiu.

Em 22 de abril, o Hoje em Dia também anunciou que o ex-presidente Wagner Pires de Sá e seu primeiro vice, Hermínio Lemos, poderiam ser expulsos do Conselho Deliberativo por terem deixado de pagar, por mais de 90 dias, direitos trabalhistas dos atletas profissionais, o que acarretou na perda de direitos econômicos de vários jogadores. O prejuízo calculado pelo Conselho Gestor é de pelo menos R$ 60 milhões.

Vazamentos

Em 23 de abril, os portais UOL, Superesportes e Deus me Dibre começaram uma série de matérias, baseadas em dados vazados por um integrante do Conselho Gestor, em que mostravam gastos pessoais com o cartão corporativo do Cruzeiro na gestão Wagner Pires de Sá.

O maior alvo foi o ex-presidente, que pagou viagem de férias ao Sul da Bahia, conta em restaurantes badalados e roupas em lojas de marca, usando o cartão do Cruzeiro. Seu primeiro vice, Hermínio Lemos, também teve gastos denunciados em viagens, principalmente com o time ao exterior.

Os fatos revoltaram o torcedor cruzeirense. Mais do que isso, deixaram Pires de Sá e Lemos em situação complicada, pois foram escancarados fatos imorais cometidos por eles, sendo que principalmente o ex-presidente garante que não há ilegalidade nos atos.

Estatuto

Dentro do movimento de pressão aos futuros presidentes do clube e do Conselho Deliberativo, foi divulgado na última quinta-feira (7) um estudo do novo estatuto cruzeirense.

São várias medidas propostas, que colocariam o Cruzeiro dentro de uma nova realidade administrativa, com o presidente ficando impedido de fazer, por exemplo, as loucuras financeiras praticadas por Wagner Pires de Sá e Gilvan de Pinho Tavares. Com eles, a dívida cruzeirense fugiu do controle e saltou de pouco mais de R$ 100 milhões, em 2011, para quase R$ 1 bilhão neste momento.

Confira as principais propostas do Conselho Gestor para o novo estatuto do Cruzeiro:

- Criação de um programa de cargos e salários, algo inexistente no Cruzeiro, em que a remuneração dos colaboradores deverá seguir os parâmetros praticados no mercado, não podendo superar o teto do funcionalismo público federal. Este documento deverá ser apresentado e aprovado pelo Conselho Deliberativo;

- No caso de salários de atletas e comissão técnica e de outras contratações que ultrapassem mil salários mínimos, os casos deverão ser apresentados e aprovados pelo Conselho de Administração;

- Obrigatoriedade de apresentação de proposta orçamentária anual do Clube por parte do presidente;

- Exigência de formação superior em Administração, Ciências Contábeis, Direito, Economia ou Engenharia para integrar o Conselho Fiscal;

- Regras mais rígidas para a punição de dirigentes que descumprirem o Estatuto;

- Regras mais claras para demonstrações contábeis, seguindo padrões de transparência e regras do PROFUT;
- Obrigatoriedade de contratação anual de auditoria independente, com registro na CVM (Comissão de Valores Mobiliários);

- Responsabilização de dirigentes na gestão dos orçamentos anuais. O limite de gastos é até 5% acima do valor previsto no ano;

- Inclusão do Conselho de Notáveis, que prestará auxílio consultivo, e do Conselho de Administração, que terá envolvimento direto na gestão do Clube. Ambos terão a participação de conselheiros independentes.

Polícia Civil e Kroll

Para a próxima semana, o Conselho Gestor aguarda aquele que pode ser o passo mais importante no objetivo de moralizar o Cruzeiro. O grupo carrega a expectativa de que a Polícia Civil divulgue as primeiras conclusões sobre a investigação que faz da gestão Wagner Pires de Sá há quase um ano, após denúncias no programa Fantástico, da Rede Globo, em 26 de maio do ano passado.Maurício Vieira

Em julho do ano passsado, numa ação na sede administrativa do Cruzeiro, a Polícia Civil recolheu documentos e computadores para investigação

Outro ponto importante é a possibilidade de entrega do relatório da Kroll, empresa multinacional e referência em investigação, due diligence, compliance, segurança cibernética e gestão de riscos de segurança, que foi contratada pelo Conselho Gestor para detalhar o período de Pires de Sá no comando da Raposa.

Este relatório é importante em dois sentidos. Primeiro, porque dependendo das conclusões, vai deixar em situação complicada no que se refere à permanência no Conselho Deliberativo outros integrantes da última diretoria cruzeirense, além dos 30 já expulsos. O dano não é só moral, mas também criminal. Isso porque, dependendo do que for apurado, o clube poderá ir à Justiça para pedir o ressarcimento de valores que foram gastos ou recebidos por dirigentes de forma indevida.

Há ainda outro aspecto em relação ao relatório da Kroll e às investigações da Polícia Civil. O Cruzeiro trabalha para receber um seguro por gestão temerária de R$ 20 milhões. E as duas conclusões serão importantes neste processo.

Assim vai vivendo o Conselho Gestor nos seus últimos momentos à frente do Cruzeiro. E a aposta é que a pressa pode ser amiga da perfeição, pois o tempo é curto, mas as imoralidades e irregularidades são muitas dentro do clube.

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