Resultado apertado

Construção civil evita produção de riqueza negativa no país

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
09/12/2022 às 08:00.
Atualizado em 09/12/2022 às 09:25
O resultado positivo da construção civil é reflexo do aquecimento do setor de compra e venda de imóveis, que acumula alta de 13,5% até agosto deste ano (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O resultado positivo da construção civil é reflexo do aquecimento do setor de compra e venda de imóveis, que acumula alta de 13,5% até agosto deste ano (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O aumento de recursos injetados na economia pelo governo federal, no período que antecedeu as eleições, não foi suficiente para alavancar o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que encerrou o terceiro trimestre praticamente estável, com um aumento de 0,4% em relação aos três meses anteriores.

O crescimento de alguns setores, em especial o da construção civil, com alta de 1,1%, é o que garantiu o resultado apertado, porém positivo, da economia brasileira nesse período. O destaque negativo foi a agricultura, com 0,9% de recuo.

O resultado da construção reflete, entre outras situações, um aquecimento do setor de compra e venda de imóveis e uma manutenção no número de novos empreendimentos.

O número de novos imóveis vendidos no Brasil acumula um crescimento de 13,5% nos oito primeiros meses de 2022, quando comparado com o mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), feito em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). 

Outra entidade do setor, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), mantém um “termômetro” que vem mostrando otimismo. Segundo a entidade, 68% dos empresários estão satisfeitos com os resultados até novembro e 28% das empresas associadas acreditam que dezembro repete o rendimento do ano.

Pior que o esperado
De acordo com o economista e professor da UFMG Mário Rodarte, é importante o desempenho positivo do setor de construção civil, pois “gera muitos empregos e ativa a cadeia produtiva da indústria”. Mas não apaga a decepção de especialistas e do mercado com o rendimento pequeno da economia como um todo.

“Estima-se que o governo tenha colocado aproximadamente R$ 300 bilhões na economia neste período pré-eleitoral. O equivalente a 60% de tudo que foi gasto como ajuda no início da pandemia. Em circunstâncias normais, isso teria um enorme impacto na economia e no desempenho do país, coisa que não aconteceu”, destaca.

Com o crescimento de 0,4% no trimestre, o PIB alcançou R$ 2,544 trilhões. No acumulado nos quatro trimestres, terminados em setembro de 2022, o PIB cresceu 3,0%, frente aos quatro trimestres imediatamente anteriores. O acumulado do ano foi de 3,2% frente ao mesmo período do ano passado.

Buraco
Na avaliação do professor, a explicação para o resultado abaixo do esperado são as dívidas. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que a população brasileira segue em nível elevado de endividamento.
 
Entre as famílias brasileiras, 78,9% dizem estar endividados e 30,4% estão com pagamentos atrasados, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência da CNC. 

“Juros altos, desemprego ainda em alta e endividamento corroem a renda das famílias. Boa parte desse dinheiro disponibilizado como auxílios sociais acabou sendo utilizada para pagar dívidas e não aqueceram a economia”, avalia Rodarte.

A economista da CNC, Izis Ferreira, destaca que o brasileiro está gastando mais para pagar dívidas. “Em média, o brasileiro precisou gastar 30,4% de toda a sua renda apenas para pagar dívidas em novembro, isso sem contar os serviços e as contas de consumo como água, energia, telefone, gás, entre outras. Ou seja, a cada R$ 1.000 do rendimento, em média R$ 304 estão comprometidos com dívidas”, avalia.

Perspectivas
Considerando os dados que já aparecem do quarto trimestre, que encerra a medição anual, o PIB deve ficar abaixo das expectativas e traz desafios para o governo que assume em janeiro, alerta o professor Rodarte.

“Dados da Black Friday e alguns indicativos de vendas para o Natal apontam resultados abaixo do esperado para o período, que normalmente traz aquecimento da economia. Já há elementos para prever que o resultado final do PIB no quarto trimestre voltará a ser pequeno”, destaca.

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