'Contraplano' usa o cinema para analisar a vida social

Luiz Zanin Oricchio
19/08/2013 às 10:27.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:06

O que se deve destacar de início no programa Contraplano, comandado por Miguel de Almeida, é sua ambição intelectual. Num momento de estagnação constrangedora da vida cultural do País, o programa simplesmente ousa debater ideias. Apenas isso, ideias. E o faz com o auxílio do cinema, essa área da cultura, ou das artes, já quase completamente submergida na irrelevância dos blockbusters. Pois bem, Contraplano ousa reabilitar o cinema como forma de pensamento que permite lançar luzes sobre determinados desvãos da vida social. Discute como o cinema pode iluminar aspectos da vida como a cultura, o poder, a sociedade e o comportamento ao longo de 49 episódios, exibidos às sextas-feiras, às 22 h, no canal Sesc/TV. Cada um deles terá aproximadamente 52 minutos.

No primeiro, o cineasta Ugo Giorgetti e o psicanalista Tales Ab’Saber discutem o tema do poder com o título Revoluções e Golpes. Abordam os filmes Revolução - A Verdade sobre Fidel Castro, de Victor Pahlen, A Batalha do Chile, de Patricio Guzmán, Condor, de Roberto Mader, e Che, de Steven Soderbergh. Não importa a que conclusões chegam, mas simplesmente como levam à articulação de ideias políticas a partir dos filmes abordados. Por exemplo, A Batalha do Chile, como se sabe, é uma obra-prima do documentário contemporâneo. Tem, para a tragédia sul-americana no período das ditaduras, a mesma importância de Shoah, de Claude Lanzmann, para o esclarecimento do Holocausto.

A perspectiva do cineasta Giorgetti e a do psicanalista Ab’Saber interagem e se completam. Fazem uma troca de ideias em que umas iluminam as outras. Não descartam o caráter especificamente cinematográfico da obra, considerando que A Batalha do Chile não teria a força de persuasão que tem não fosse também um filme extraordinariamente bem pensado e feito. Detalhe: apesar da "autoria" de Guzmán, Batalha do Chile é uma espécie de trabalho coletivo, com imagens coletadas de diversas fontes. Prefigura o golpe por vir, e que encerraria, de maneira trágica a experiência socialista de Salvador Allende e da Unidade Popular.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://www.estadao.com.br

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