(REPRODUÇÃO / GOOGLE STREET VIEW)
Diante do risco iminente de rompimento de um talude que pode desencadear o colapso de uma barragem de rejeitos de minério em Barão de Cocais, na região Central do Estado, os Correios e pelo menos três agências bancárias do município já foram fechadas temporariamente, prejudicando os mais de 32 mil habitantes do município, que já sofrem com a espera pela tragédia. Entre segunda-feira (20) e esta quinta-feira (23), terão deixado de funcionar, além do serviço postal, os bancos Itaú, Bradesco e Caixa Econômica Federal da cidade.
A informação foi repassada para o Hoje em Dia pelo prefeito Décio Geraldo dos Santos (PV), que está indignado com a debandada dos bancos. "Nesse momento tão difícil eles são os primeiros a virarem as costas. A Caixa, por exemplo, nem sequer está na rota da lama. Aí o morador precisa pagar um boleto, uma conta ou sacar o dinheiro, e precisa ir até em Santa Bárbara. São cerca de 15 minutos até lá de carro, mas e quem não tem um veículo? É um descaso com a população", aponta.
Para o chefe do Executivo, a saída das empresas não faz sentido, uma vez que já existe um treinamento e sabe-se que a lama levará mais de 1h para chegar até o centro do município. "Eu inclusive já acionei o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para tratar sobre essa questão, pois não existe motivo para isso. O Banco do Brasil vai se reunir com a gente amanhã (quinta), mas até agora continua funcionando. Além deles, só resta a Sicoob na cidade", completa o prefeito.
Ainda de acordo com Santos, no último sábado (18) aconteceu uma reunião com os gerentes das agências bancárias e a Defesa Civil para tentar tranquilizá-los e manter o funcionamento dos bancos. "A maioria dos gerentes estão tranquilos, queriam continuar, mas afirmam que a ordem vem de cima. Isso não é decisão a ser tomada por quem está em Brasília, mas pelas pessoas que vivem aqui", finaliza.
Moradores percorrem quase 15 km até bancos
Para chegar até a cidade vizinha de Santa Bárbara, onde as agências estão funcionando normalmente, a população precisa percorrer cerca de 15 km passando pela MG-129 rodovia que, por sinal, está dentro da zona de inundação em caso de rompimento da barragem da Vale. Para ir e voltar até os bancos, o tempo gasto pelos moradores é de cerca de 40 minutos.
O líder comunitário e morador de Barão de Cocais Maxwell Andrade, de 31 anos, confirma que as agências foram fechadas e aponta que o Banco do Brasil estaria funcionando somente com os caixas eletrônicos. "É uma via de mão dupla, ao mesmo tempo que sinto um incômodo muito grande com essa situação, como por exemplo por ter tido que ir até Santa Bárbara para fazer um depósito, vejo também que é uma ação preventiva, visando a segurança dos usuários e funcionários", pontua.
Para ele, a medida adotada pelos bancos mostra uma das incoerências a que os moradores são submetidos. "Dizem que o tempo até a lama chegar é suficiente para todos saírem tranquilamente, mas os estabelecimentos grandes como os bancos, o Fórum, não estão mais funcionando na cidade. Enfim, acabamos desacreditando se realmente teremos tempo suficiente para deixar nossas casas", contesta Andrade.
Dona de uma loja de confecções na área de risco de Barão de Cocais há 38 anos, Edna Maria da Cruz Silva, de 66 anos, reclama que o fechamento dos bancos está dificultando ainda mais a vida dos moradores. "A minha loja está dentro da mancha, perto dos Correios, e ela e todo o comércio da região continuam funcionando normalmente. Por que os bancos também não vão funcionar?", indaga a moradora.
Posicionamento
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa dos Correios confirmou que a agência da cidade está fechada temporariamente desde segunda-feira (20), mas que as entregas continuam funcionando normalmente para os moradores do município.
"É com pesar que confirmamos o fato. A previsão é que nessa semana a unidade continue fechada e, na próxima segunda-feira (27), tenhamos uma nova avaliação da Defesa Civil sobre o assunto, para verificar se podemos reativar as unidades", completou o texto. Ainda segundo o serviço postal, o atendimento ao público foi deslocado para a agência de Correios de Santa Bárbara, localizada na rua Antonio Pereira Rocha 140, Centro.
Já o Itaú informou que a medida foi adotada prezando pela segurança dos clientes e colaboradores. A agência permanecerá fechada "até a normalização da situação da barragem da cidade. Os clientes atendidos na unidade serão direcionados para a agência 4255, na Praça Dr. Marcio Pessoa Faria, 107-A – Centro, Santa Barbara", diz.
A assessoria do Bradesco informou que a decisão foi tomada seguindo uma orientação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). "Estamos direcionando os atendimentos para a agência mais próxima e os clientes continuam contando com os canais digitais do Bradesco. Sobre o fechamento, não podemos nos posicionar por ter sido uma orientação da federação", concluiu.
Já a assessoria da Caixa Econômica Federal (CEF) disse que após o comunicado de alerta de risco de rompimento da barragem em Barão de Cocais, a CEF optou por fechar a agência para preservar a segurança dos clientes e funcionários e que aguarda novas informações dos órgãos de segurança.