(Arquivo Pessoal)
O drama de pessoas que podem ter sido intoxicadas por dietilenoglicol ao consumirem cervejas contaminadas em Belo Horizonte parece não ter fim. Com sequelas da suposta contaminação e após dias internadas na terapia intensiva, pelo menos três se expõem ao risco aumentado de infecção por Covid devido às saídas frequentes para tratamento das doenças adquiridas após a síndrome nefroneural.
Pela idade ou por outras comorbidades, como diabetes, esses pacientes já integravam o grupo de risco do novo coronavírus, mas se tornaram mais vulneráveis porque desenvolveram problemas renais crônicos. A nova enfermidade exige idas e vindas às clínicas onde fazem hemodiálise, impossibilitando o isolamento social que poderia protegê-los.
Três vezes por semana, Clóvis Artur Reis, de 69 anos, é levado de carro, junto ao agora inseparável balão de oxigênio, para sessões de filtragem do sangue. Cada uma dura quatro horas.
Quem o leva são os dois filhos, que largaram os empregos para ajudar a mãe, Valéria Drumond Andreazzi Reis, de 57, a cuidar do marido. Asmática, o que também a coloca no grupo de risco para Covid, ela não sai de casa. “Meu marido é hipertenso e, agora, traqueostomizado e tem o pulmão bem debilitado. A fisioterapeuta não pode parar de vir, pois, se ele fica sem a assistência, não dorme. Nossa preocupação é enorme”, conta Valéria.
Mesmo drama vive Aline Valadão de Oliveira, esposa de Vanderlei de Paula Oliveira, de 38 anos. Segundo ela, o marido manifestou sintomas da intoxicação por dietilenoglicol em fevereiro de 2019, mas só em 2020 veio a suspeita de ter sido pela ingestão de cerveja.
Após várias internações, ele precisa de sessões de diálise. Antes, ela contava com a ajuda dos pais, que ficavam com as filhas do casal, de 2 e 6 anos, e acompanhava o esposo na clínica.
Hoje, os idosos seguem a quarentena, e as crianças são levadas no carro quando o marido vai para a hemodiálise. “Ele já ficou muitos meses na terapia intensiva, teve pneumonia e até infecção. A luta é muito grande”, desabafa Aline.
Riscos
Nefrologista da Unimed-BH, Fernando das Mercês de Lucas Júnior explica que tanto a Covid-19 quanto a doença renal compartilham os mesmos fatores de risco, como hipertensão e diabetes. Além disso, a população idosa é a mais acometida com problemas nos rins.
“Por si só, a doença renal crônica é considerada de risco para Covid-19. Mesmo assim, tem as doenças associadas, como hipertensão e diabetes, o que agrava a situação”, complementa a nefrologista Maria Eugênia Canziani, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo ela, pacientes com insuficiência renal, além de não conseguirem filtra o sangue, deixam de produzir hormônios importantes, como a eritropoetina, levando a um quadro de anemia, e o calcitriol, relacionado à imunidade do organismo.