Crise alimentar ainda assusta

Jornal O Norte
14/08/2008 às 16:28.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:41

Em recentes palestras em São Paulo e Lavras, MG, Pedro Sanchéz, um dos mais respeitados estudiosos sobre a produção de alimentos e coordenador de programas mundiais de erradicação da fome, afirmou para as platéias - que somadas chegaram a  mais de 1500 pessoas - que a crise mundial dos alimentos tem solução.

- Uma série de fatores conjunturais foi responsável por essa crise, explicou Sanchéz. Entre eles estão: os altos preços dos fertilizantes e do petróleo, a seca na Austrália que prejudicou a produção de trigo, as enchentes no meio-oeste dos Estados Unidos que afetaram as plantações de milho e soja, os índices de preços mundiais de alimentos que cresceram 40% em 2007 e continuam em alta neste ano e a alta demanda por grãos.

Outro fator que influencia a crise, segundo Sanchéz, é o uso de alimentos para a fabricação de combustível. - Nos Estados Unidos, o etanol de milho representa 30% da produção total do País, calculou. O produto poderia estar sendo utilizado no combate à fome ao invés de ser destinado à fabricação de combustível. Existem outros produtos, como a cana-de-açúcar, que podem ser utilizados para esse fim, complementa.

Como resposta para a crise, Sanchéz explicou que há algumas medidas que deveriam ser tomadas, como por exemplo, a redução das tarifas de importação e da exportação desenfreada de alimentos, o aumento da produção de alimentos e dar prioridade à agricultura tropical. - Com essas ações seria possível minimizá-la, ressaltou.


 


FOME NA ÁFRICA


 


Um dos projetos que mais obtiveram resultados para a erradicação da miséria e pobreza na África foi o Projeto Millenium – uma junta consultiva das Nações Unidas, que desenvolve ações práticas para redução da fome e erradicação da pobreza rural absoluta em várias partes do mundo.

Segundo o cubano Pedro Sanchéz, um dos coordenadores do projeto, há mais de 80 Vilas Millennium espalhadas pelo continente africano. - Foram escolhidos locais em que haviam sido identificadas condições extremas de miséria e pobreza a fim de erradicá-las, disse. -Em todas elas, foram fornecidas condições para o desenvolvimento social e econômico da vila e das pessoas, explicou.

O primeiro passo foi combater à fome, a falta de água potável e as doenças. Houve um estímulo ao aumento de produção de alimentos na comunidade por meio de práticas de fertilização de sementes híbridas, disse Sanchéz. No caso das doenças, em todas as vilas foram construídas clínicas médicas e foram doados mais de 100 mil mosquiteiros para erradicar a malária.

Em seguida, de acordo com Sanchéz, inicia-se a etapa dois do processo que é a entrada no mercado comercial para sair da pobreza, ou seja, a geração de dinheiro com o excesso de produção. Para isso, foram criados bancos de cereais a fim de que as vendas fossem realizadas no melhor período, evitando a perda de competitividade com o baixo preço, disse. Isso acarretou em desenvolvimento da infra-estrutura local, com a adoção de máquinas e equipamentos agrícolas, estradas de acesso, meios de transporte, eletricidade e, por fim, no surgimento dos pequenos agricultores, finalizou.


 


REVOLUÇÃO VERDE



 


Considerado em 2005, pelo FMI- Fundo Monetário Internacional, como o país mais pobre do mundo, com cerca de 80% da população vivendo na miséria, Malaui foi o primeiro Estado africano a adotar a revolução verde.

Segundo Pedro Sanchéz, diretor do Programa de Agricultura e Meio Ambiente Rural da Universidade de Colúmbia, o país decidiu implantar um programa de subsídios que ofertava sementes híbridas de milho e fertilizantes nitrogenados. - Em 2005, havia um déficit de 44% na produção de milho, o que acarretava em cerca de 5 milhões de pessoas passando fome, explicou. A produção média por hectare era de 0,8 tonelada.

Em 2006, o número passou para um superávit de 18% na produção e, em 2007, superou a casa dos 57%, chegando a produzir 2,04 tonelada por hectare. Malaui conseguiu suprir a necessidade de alimentos da população e, ao mesmo tempo, iniciou a exportação de milho para outros países, disse Sanchéz. O custo total do governo com o programa de subsídios, iniciado na safra 2005/2006, foi de US$ 72 milhões e os benefícios ultrapassaram a casa dos US$ 688 milhões.

Pedro Sanchéz esteve em São Paulo a convite da ANDA - Associação Nacional para Difusão de Adubos, quando falou para empresários do setor na sede da Fiesp, e em Lavras, na Unilavras, participando das festividades do centenário de fundação daquela tradicional instituição de ensino da Agronomia. (B.A)

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