Daniel Burman conclui o longa "O Mistério da Felicidade"

Luiz Carlos Merten
09/09/2013 às 14:18.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:48

Sexta-feira da semana passada foi um dia especial para o argentino Daniel Burman. O diretor de "Abraço Partido" e "A Sorte em Suas Mãos" - em exibição na cidade - terminou de filmar no Rio a parte brasileira (e a filmagem toda) de seu novo longa, uma parceria com a Total Entertainment. Chama-se "El Misterio de la Felicidade" e esse mistério da felicidade é o enigma que dois amigos se propõem a decifrar. Burman resume o longa: "É sobre dois amigos (argentinos) que regressam ao Brasil por causa de uma aposta que fizeram quando jovens. Ela envolve uma mulher, e foi um prazer imenso filmar com Claudia Ohana."

Os atores argentinos são Guillermo Francella e Fabián Arenillas, pouco conhecidos por aqui - o espectador brasileiro tende a reduzir os astros argentinos a um só, Ricardo Darín -, mas que o diretor garante serem ótimos. Na história, mais que amigos, são sócios. E um dia um deles desaparece. O outro, acompanhado pela mulher, inicia uma busca, mas o casal percebe, lá pelas tantas, que não quer mais encontrá-lo. Por quê? É um filme de amor - mais um do diretor de "A Sorte em Suas Mãos" -, mas que procura ir além. Transpõe limites, aborda temas como amizade, fidelidade e traição. E não deixa de ter um componente geracional, na linha "o que restou dos nossos sonhos?". A atriz argentina que faz a mulher é Inés Estévez.

Burman adorou trabalhar com a equipe brasileira. "Achei que poderia ter problemas, até por causa da língua, mas foram todos muito eficientes e afetivos." Só isso já poderia fazer com que Burman se sentisse pleno, mas no último dia da filmagem de "El Misterio de la Felicidade" a equipe ainda cantou "Parabéns a Você" para ele. Burman, nascido em 1973, havia feito 40 anos no dia anterior, 29 de agosto. 40! Um virgem de 40 anos, o repórter brinca. E acrescenta que, agora que Burman entrou nos 'enta', nunca mais vai sair. Qual é a sensação? "Não sei se tem a ver com idade, mas antes, quando comecei a fazer cinema, tinha muito mais certezas sobre tudo - a arte, a vida, os filmes que queria fazer. Hoje, me indago muito mais. Tenho dúvidas. Acho que isso se chama amadurecer."

É um diretor muito ligado a temas como família, amizade. A condição judaica é essencial, mas Burman não faz filmes para reafirmar sua identidade. "É uma coisa que está muito entranhada em mim. O que há de judaísmo nos meus filmes é uma consciência de ser que me acompanha na vida, mas não preciso chegar nos lugares e dizer 'Olá, sou Daniel, sou judeu'. Nos filmes também é assim." Considerando que a Argentina é um país que possui um componente antissemita - Burman participou com um episódio do filme coletivo 18-J, sobre o ataque a uma sinagoga de Buenos Aires -, ele diz que pode se sentir privilegiado. "Nunca fizeram com que me sentisse diferente." Mas Burman concorda que a questão 'judia' está no centro de "A Sorte em Suas Mãos". O judeu ligado em jogo busca um rabino para legitimar sua preferência pelos jogos de azar. Isso é tão importante quanto a história de amor ou a decisão do protagonista de fazer vasectomia.

É um recurso dramatúrgico que Burman não pretende aplicar em sua vida. Ele adora a prole - trouxe os filhos para comemorar o aniversário com ele. Na manhã do dia seguinte, passeou na praia com a caçula. A vida lhe parece boa. Faz os filmes que quer, as histórias que deseja contar. Precisa vestir o terno e provar que é um sujeito confiável, mas não tem tido muitas dificuldades para obter financiamento. Até os críticos lhe são simpáticos, quando não francamente elogioso. Sua fama é de 'Woody Allen latino-americano', mas ele não a leva muito a sério, e não porque não aprecie o humor sofisticado de Woody. É verdade que "A Sorte em Suas Mãos" colheu algumas críticas negativas no Brasil - a Jorge Drexler, que faz o protagonista, principalmente. Cantor e compositor - ganhou o Oscar da categoria com a canção de "Diários de Motocicleta", de Walter Salles -, ele não seria, ou não é, um ator e o filme se ressente disso.

Foi o que andaram escrevendo, mas Burman se permite discordar. "Certas reticências que tenho visto em relação a Jorge são, na verdade, elogios, pelo menos para mim. As pessoas falam dos defeitos do ator, mas são defeitos do personagem, de seu comportamento, que Jorge cria muito bem."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://www.estadao.com.br

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