De olho em custos, planos de saúde investem em ações para cliente largar o fumo

Janaína Oliveira
joliveira@hojeemdia.com.br
12/02/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:51

Preocupadas com os custos astronômicos de tratamentos de doenças graves causadas pelo cigarro e de olho em gastos futuros, operadoras de planos de saúde vêm ampliando programas antitabagismo para ajudar o fumante a dar adeus ao vício. 

No Brasil, estudos realizados por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estimam que os custos para o sistema de saúde causados pelo tabaco são de aproximadamente R$ 23 bilhões ao ano.

No mundo, o tabagismo custa à economia mais de US$ 1 trilhão por ano em função da diminuição da produtividade, adoecimento e mortes prematuras, conforme aponta estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos publicado neste ano. 

Revisada por mais de 70 especialistas, a pesquisa revela que o número de mortes relacionadas ao cigarro deverá aumentar de cerca de 6 milhões para 8 milhões anualmente até 2030, sendo que mais de 80% delas vão ocorrer em países de baixa e média rendas

Maior operadora da capital e região metropolitana, a Unimed-BH mantém um grupo de cessação do tabagismo desde 2007. Mas foi em 2016 que a empresa colheu os melhores resultados.

Segundo levantamento feito no ano passado, 45,5% dos inscritos relataram ter parado de fumar após um ano no programa. O resultado é superior à meta estabelecida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de 30%.

Foi identificado ainda que dos 300 clientes distintos agendados no grupo, 238 compareceram aos encontros, correspondendo a uma adesão de quase 80%. 

O fumante participa de palestra motivacional, consulta médica e de cinco sessões de terapia cognitiva comportamental em grupo, com intervalos semanais. Lucas Prates / N/A

Após 42 anos de vício, Virgínia Coelho deixou o cigarro e vive mais feliz

Os encontros contam com até 20 participantes e são realizados nos Centros de Promoção da Saúde do Santa Efigênia, Pedro I, Contagem e Betim. A necessidade de uso de medicamentos e o grau de dependência são sempre avaliados. 

“O remédio ajuda, mas não é milagroso. Parar de fumar exige colocar uma meta e atingi-la”, afirma o médico José Francisco Zumpano, clínico geral e atuante no programa da Unimed-BH. 

Segundo ele, o investimento da operadora é alto, mas o retorno também chega pelo lado financeiro, com a economia no tratamento de diversas doenças graves causadas pelo tabaco. 

“Mas não gosto de falar dos males do cigarro. Gosto mesmo de falar o quanto faz bem largar o cigarro. A pessoa melhora o apetite, o paladar e a respiração, tem a expectativa de vida aumentada e fica até mais cheirosa. Nem cachorro gosta de ficar perto de quem fuma por causa do cheiro desagradável”, diz Zumpano. 

Medicamentos para combater o tabagismo custam muito menos do que bancar o vício

O fumante inveterado talvez nunca tenha parado para fazer as contas. Mas um maço por dia pode custar mais de R$ 280 ao final do mês. Em um ano, o vício terá consumido quase R$ 3 mil. 

“É muito mais que o preço do medicamento mais caro, o Champix, cujo kit completo com duração de três meses é vendido por menos de R$ 1 mil”, compara o médico e integrante do programa de cessação do tabagismo da Unimed-BH, José Francisco Zumpano. Há ainda outros medicamentos mais baratos e manipulados, que custam cerca de R$ 150, por mês.

Há hoje 405 programas de prevenção de doenças e promoção da saúde aprovados pela Agência Nacional de Saúde (ANS)

Após 42 anos de vício, a massagista Virgínia Ladeira Coelho conseguiu largar o cigarro depois do suporte recebido no grupo antitabagismo da Unimed-BH. “Um amigo me falou do programa. A princípio, achei que seria difícil. Mas liguei e consegui agendar na hora. Hoje sou outra pessoa”, diz. A receita é seguir o tratamento à risca e ter força de vontade. “Atualmente está muito chato fumar. Além disso, minha casa fedia. Agora recebo minha netinha numa boa”, conta. 

Dono de uma rotina estressante, embalada pela montanha-russa do mercado financeiro, o analista de sistema Sérgio Murilo Costa ainda não conseguiu eliminar completamente o vício.

Mas a participação no programa da Bradesco Saúde o ajudou a cortar o consumo em 60%. “Quando comecei a participar do grupo fumava quase três maços. Hoje, não chega a um”, comemora. O tratamento durou seis meses, mas ele acredita que teria mais progressos se o prazo fosse estendido. 

Dos participantes do programa da Bradesco Saúde, 48% pararam de fumar, enquanto 43% tiveram uma redução considerável na quantidade de cigarros consumidos por dia. A operadora também é beneficiada. O custo médio de tratamento de um paciente com doenças causadas pelo cigarro, como o câncer de pulmão, chega a R$ 400 mil. 

200 mil brasileiros morrem por ano em decorrência de doenças geradas pelo tabagismo, de acordo com dados do Ministério da Saúde

Na SulAmérica, os segurados de Belo Horizonte podem contar com o programa Saúde Ativa. No país, atualmente são 75 mil clientes ativos. O programa parte do mapeamento do estado de saúde, estilo de vida e riscos de cada segurado para determinar o encaminhamento dos beneficiários a programas específicos de estímulo ou mudança de comportamentos.

Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), há atualmente 405 programas de prevenção de doenças e promoção da saúde aprovados pela ANS, que abrigam 683.761 pessoas inscritas. 

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