De volta ao confinamento de gado

Jornal O Norte
21/09/2007 às 11:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:17

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Nessa temporada em que o confinamento do boi é uma atitude dos frigoríficos, os produtores têm ido em busca de melhorias para seu negócio. Conforme o pesquisador da Epamig, Carlos Juliano Brant, o número de produtores que tem seguido a orientação dos frigoríficos quanto a alimentar o rebanho à base de sais minerais e silo é intenso.

Nesse momento, os frigoríficos têm optado por esses animais pela condição de melhor carcaça. Numa consideração ampla, os produtores, segundo especialistas, estão cada vez mais fragilizados na negociação de preço diante da consolidação da indústria de carnes, precisam se tornar mais eficientes para obter rentabilidade. E o confinamento pode ajudá-los nesse sentido. Apesar de exigir um alto investimento inicial, por meio dessa atividade o criador tem um significativo ganho de escala e consegue otimizar o uso de seus ativos, com uma produção maior por área.




A busca dos frigoríficos é por boa carcaça no período de


pouca oferta de boi gordo
(foto: Wilson Medeiros)

O Boletim Agropecuário informou que a busca pelo confinamento como uma ferramenta de gestão, e não somente como uma saída ao avanço da cana sobre a pecuária, enfraquece a tese de que a expansão dos canaviais pode ameaçar o crescimento da produção e das exportações de carne bovina. Os números sugerem, sim, que a cana está tomando lugar dos pastos - entre 2005 e 2006 as lavouras ganharam 585 mil hectares em São Paulo, enquanto a área de pastagem foi reduzida em 308 mil hectares, segundo o IEA- Instituto de Economia Agrícola. Mesmo assim, ainda há muita área disponível para criação de gado no país.

Economistas dizem que em praticamente todo o território nacional há uma forte tendência de o preço da carne vermelha sofrer aumento devido ao período de entressafra, tempo justamente favorável a criação de gado por confinamento.

SORGO ALIADO DA ALIMENTAÇÃO

A cultura do sorgo na região Semi-Árida de Minas Gerais tem grandes perspectivas por apresentar características como a de tolerar estresse hídrico em capacidades superiores a do milho. Em algumas localidades da Índia, o sorgo está para população da mesma forma que o milho está para população dos EUA.

É a cultura mais difundida e mais divulgada segundo o pesquisador Carlos Juliano Brant. No Norte de Minas, tanto o sorgo granífero como o forrageiro dispõe de grande potencial de produção, tendo com base o efetivo de rezes da região que chegam a cerca de 2.700 milhões de cabeças. Com a exigência dos frigoríficos por uma melhor carcaça, são crescentes as criações de gado de corte por confinamento utilizando a silagem de sorgo, já que conforme o pesquisador não é necessário usar a irrigação, o que diminui os custos com a produção.

As pesquisas da Embrapa revelam que a cultura do sorgo, no Brasil, apresentou avanço significativo a partir da década de 70. Nesses poucos mais de 30 anos, a área cultivada tem mostrado flutuações, em decorrência da política econômica, tendo a comercialização como principal fator limitante.

Atualmente, a cultura tem apresentado grande expansão (20% ao ano, a partir de 1995), principalmente, em plantios de sucessão a culturas de verão, com destaque para o estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e região do Triângulo Mineiro, onde se concentram aproximadamente 85% do sorgo granífero plantado no país.

RESPOSTA AO CONFINAMENTO

Mas voltando a falar sobre a volta pujante, o Boletim Agropecuário ainda relatou que a opção pelo confinamento na criação de bovinos deve se intensificar nos próximos anos, em resposta à valorização do preço da terra no Sudeste e, principalmente, ao aumento de produtividade que esse tipo de atividade proporciona tanto ao pecuarista como aos frigoríficos. Além dos criadores, que precisam de ganhos de escala para melhorar a rentabilidade, as indústrias também começam a incluir o confinamento em sua estratégia de negócios, mas com outro objetivo: a garantia de abastecimento na entressafra e a busca pelo fim da ociosidade em períodos de oferta escassa.

Segundo a publicação do boletim, o Friboi já busca a produção própria como meio de proteção. A empresa ingressou na atividade de confinamento de bovinos em junho deste ano, quando comprou, por R$ 30 milhões, uma unidade para capacidade de engorda de 150 mil cabeças por ano. O Marfrig segue caminho semelhante, com o arrendamento de um confinamento para 50 mil animais, no mês passado.

Vale lembrar que foi o frigorífico Bertim, o pioneiro na adoção desse modelo de produção que se prepara para abrir o capital na Bolsa de Valores de São Paulo. O frigorífico desenvolveu a sua primeira unidade de confinamento em 1992, em Lins, no interior paulista. Dez anos depois, construiu uma unidade com capacidade de abate de 100 mil bovinos, em Aruanã, Goiás. O grupo manteve os investimentos e, entre o final de 2007 e o início de 2008, deve inaugurar um novo confinamento para 100 mil bovinos em Sabino, São Paulo. O Bertin ainda estuda a construção de mais um em Campo Grande, onde no início do próximo ano entrará em operação uma unidade industrial.

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