Com 430 leitos fechados e ainda à procura de uma saída para a crise financeira mais profunda desde a inauguração, a Santa Casa de Belo Horizonte iniciou a semana colocando 350 funcionários em férias coletivas por 30 dias.
A ação envolve médicos, enfermeiros, trabalhadores do setor administrativo e até auxiliares de serviços gerais. Desde o início de maio, cerca de 1.400 internações – 40% do volume mensal – já deixaram de ser feitas no hospital devido à redução no atendimento.
De acordo com a diretoria da instituição, o descanso forçado foi a maneira encontrada para economizar recursos em um momento em que os repasses atrasados já estão na casa dos R$ 23 milhões. De acordo com o diretor de finanças do hospital, Gonçalo Barbosa, há dois meses os salários de médicos não são pagos.
“Com as férias vamos diminuir o gasto com vale-refeição e transporte. Além disso, quando o hospital voltar a funcionar com a capacidade total, não vamos precisar contratar profissionais para cobrir férias. Hoje, nossas maiores preocupações são evitar demissões, não atrasar salários e manter a qualidade de assistência para os pacientes”, explica Barbosa.
Demora
Para especialistas em saúde, a situação dramática da Santa Casa tende a piorar à medida em que a espera pelos recursos financeiros aumenta. Para a presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas), Kátia Rocha, se a situação do hospital não for resolvida em caráter emergencial, os danos podem ser irreversíveis.
“Há gente morrendo. As UPAs estão cheias de casos que, por causa da demora, podem chegar muito mais graves ao hospital, precisando de encaminhamento direto para a UTI. Então, mesmo que o dinheiro chegue hoje, a instituição vai ter dificuldade na retomada das atividades”, avalia.
Justiça
Ontem, após reunião entre entidades representativas de hospitais e dos trabalhadores da saúde, na capital, o grupo que articula as negociações entre o Estado e a Santa Casa junto ao Ministério Público decidiu que vai acionar a justiça para resolver a questão.
“Todas as entidades estão com a mesma percepção de gravidade. Vamos solicitar uma reunião com o MP para sabermos o que será feito diante da falta de resolução. Queremos tomar atitudes até de proteção dos nossos profissionais que estão lá na ponta lidando com falta de estrutura no atendimento”, explica Kátia.
Segundo a Federassantas, dados do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/MG) apontam que o Estado deve mais de R$ 1,5 bilhão em repasses aos municípios.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que “reconhece que existem débitos junto aos municípios mineiros, inclusive, alguns advindos dos governos anteriores, porém os valores divulgados pelo Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems) não correspondem à verdade”.
O órgão afirmou, ainda, que “tem trabalhando incessantemente junto à Secretaria de Fazenda para que a situação seja regularizada o quanto antes, considerando a disponibilidade financeira”.
A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e o Ministério da Saúde foram procurados, mas não se manifestaram até o fechamento desta edição.Editoria de Arte