Desculpe, mas ‘eu te disse’

12/05/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:23

Detesto a expressão pretensiosa “eu te disse”. Mas leia o que escrevi numa coluna do início de fevereiro deste ano:

“A presidente Dilma Rousseff prefere compor a radicalizar, mesmo que isso signifique empurrar a economia ladeira abaixo. Ao invés de ouvir seu próprio partido, opta por uma política econômica conservadora e recessiva, muito ao gosto de seus adversários. Acredita que conseguirá, assim, salvar seu mandato, enquanto na verdade o efeito será o oposto”.

Agora, leia de novo, mas conjugando os verbos no passado... Não é que o texto se manteve atual? A seguir, no mesmo artigo, escrevi o seguinte:

“Dilma só terá forças para enfrentar o impeachment se a economia reagir. E o receituário para tal está esboçado no Programa Nacional de Emergência, elaborado por petistas descontentes que tentam forçar uma guinada à esquerda na política econômica. Se assim o fizer, Dilma talvez salve seu mandato, afastando o baixo-astral da recessão e injetando algum otimismo nos empresários e trabalhadores. Se cair, pelo menos cairá de pé, praticando uma coerente política econômica desenvolvimentista e não ortodoxa. Mas se cair da maneira como está, de joelhos para o mercado financeiro, será melancólico”.

O que propunham os descontentes de esquerda? Em linhas gerais, a utilização de parte das reservas internacionais (atualmente em cerca de R$ 1,5 trilhão) para a criação de um fundo nacional de desenvolvimento, o aprofundamento dos programas de distribuição de renda, uma forte redução da taxa básica de juros e a volta da CPMF.

Dilma optou por não ouvi-los e por não fazer o que de um governo de esquerda se espera. Não esticou a corda, não confrontou os conservadores, não praticou uma política econômica desenvolvimentista. Teve medo de mexer nas reservas internacionais e, com isso, apressar o fim de seu governo. Acabou perdendo os anéis e os dedos.

A motivação para a derrubada de Dilma não foi econômica, mas sem a crise dificilmente seus adversários teriam força para vencê-la. A verdade é que Dilma caiu porque as classes média e alta acreditam que governo existe unicamente para servi-las. Suportaram a contragosto Lula e Dilma durante os anos de crescimento. Quando a curva se inverteu, passaram o facão e a cabeça de Dilma rolou, para regozijo dos bem-nascidos.

“E a corrupção?”, perguntará alguém. Dilma não foi acusada, ponto.

Banco Central

Vazou ontem que o futuro presidente do Banco Central será Ilan Goldfajn, atualmente economista-chefe do Itaú Unibanco. Será este o homem que dirigirá a política monetária do país que pratica a maior taxa de juro do mundo.

Do Banco Central, todos esperam duas iniciativas urgentes: a retomada firme da trajetória de queda dos juros e uma gradual redução dos depósitos compulsórios, atualmente em cerca de R$ 400 bilhões, volume sem paralelo no mundo (relativamente aos depósitos nos bancos). Podemos esperar que Ilan empreenda nesse sentido? Não.

Ilan foi diretor de Política Monetária do BC durante a gestão de Armínio Fraga, no segundo governo de Fernando Henrique, quando os juros chegaram próximos a 25%. É considerado mais inflexível do que Armínio na condução da política de metas de inflação e de controle da liquidez.

As perspectivas não são boas. Mas Meirelles apresentará publicamente no próximo domingo as diretrizes macroeconômicas do novo governo. Teremos, então, uma visão mais clara do que está por vir.
 

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