Entre 100 jovens paulistanos, 28 estão desempregados – considerando esse percentual, são 411.473 moradores da capital paulista na faixa de 16 a 24 anos que estão sem trabalho. A taxa entre os jovens é superior à da população em geral – toda a população economicamente ativa – que corresponde a 15% no município, o equivalente a 1.469.545 pessoas desempregadas.
Para o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, trata-se de "um fato muito grave", porque, se o jovem não consegue uma oportunidade de trabalho, o primeiro emprego, ele pode acabar "sendo capturado por áreas ilegais, segmentos ilegais, e depois é muito difícil (...) trazê-lo de novo para uma área do mercado tradicional de trabalho”.
Os dados são da pesquisa Trabalho e Renda, divulgados hoje (19) pela Rede Nossa São Paulo (RNSP) e pelo Ibope Inteligência. Para a pesquisa, foram entrevistados 800 moradores da cidade de São Paulo, de 16 anos ou mais, no período de 4 a 21 de dezembro do ano passado. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados totais.
Para Abrahão, o maior índice de desemprego entre os jovens, demonstrado na pesquisa, é um dado muito importante para que o Poder Público pense em políticas eficazes, que avancem na questão.
“Nós temos até legislação, por exemplo, do aprendiz, que pressupõe um percentual [de contratações de jovens] pelas empresas em relação ao número de funcionários. Nós nunca conseguimos colocar direito, implementar essa legislação”, disse Abrahão. Ele acrescenta que é necessário também estimular o empreendedorismo, o microcrédito, além de desenvolver opções de cultura e esporte. “Muitas vezes, essa juventude, sobretudo a mais carente, que está nas periferias, precisa ter algumas oportunidades [como cultura e esporte.”
Na comparação com a pesquisa anterior, em 2017, a taxa de desemprego geral teve queda de 3 pontos percentuais. No ano passado, 18% dos paulistanos estavam sem emprego. “Por mais que a pesquisa revele redução no número de desempregados, de 18% para 15%, a diminuição ficou dentro da margem de erro, que é de 3%”, explicou a Rede.
No entanto, houve aumento da população empregada, com ou sem registro em carteira, que subiu 5 pontos percentuais em relação ao ano passado, passando de 29% para 34%. Quanto ao perfil da população desempregada, 56% são homens (800 mil) e 44% são mulheres (600 mil); 55% se autodeclaram pretos e pardos (800 mil) e 45% brancos (600 mil).
Abrahão ressalta a situação dos idosos, que também têm índice de desemprego maior que a taxa geral. “É interessante ver que o outro extremo, dos idosos, também está com 30% de desemprego. Uma questão que tem que ser discutida é que existe uma riqueza muito grande quando você tem dentro de um determinado espaço, dentro de uma empresa, uma questão intergeracional”, disse.
Alimentação
A pesquisa mostrou ainda que, para 43% dos paulistanos, a alimentação é o item que mais tem impacto no orçamento doméstico; 23% apontam o aluguel ou a moradia como principal despesa e 15% disseram que é a saúde (remédios, exames, convênio). Para 6% da população, o transporte é o item que mais pesa no orçamento e 5% aponta a educação.
“Chama a atenção o fato de uma questão básica e importante para a sobrevivência [alimentação] pesar tanto no salário das pessoas, ela pesa mais do que o aluguel”, destacou Jorge Abrahão.
Uma solução, segundo ele, seria pensar em reduzir a tributação de alimentos. “Se você consegue reduzir tributos de segmentos de alimentação que pesam muito no orçamento das famílias, consegue reduzir esse impacto [no orçamento] e distribuir renda de alguma maneira”, disse.
Deslocamento
O tempo médio de deslocamento dos paulistanos na ida e volta ao local de trabalho é de 1h43min. Apenas 7% deles levam até 30 minutos; 11%, de 30 minutos a 1 hora; 28%, de 1 hora a 1h30min; 13%, de 1h30min a 2h; e 22%, mais de 2 horas. Outros 15% afirmam trabalhar em casa e, portanto, não precisam fazer esse deslocamento. Ou seja, 63% dos paulistanos gastam mais de 1 hora no trajeto casa-trabalho-casa.
A pesquisa também revelou que metade dos paulistanos (48%) diz que não existem oportunidades de emprego na região onde moram. Para 42% dos entrevistados, há algumas oportunidades de trabalho perto da própria casa, e para somente 4% dos paulistanos existem muitas oportunidades.
Abrahão destaca a baixa distribuição de emprego na cidade de São Paulo e que este é um modelo existente em muitas outras cidades, concentrando a possibilidade de emprego em uma determinada zona. “Aqui no caso de São Paulo, é no centro expandido. E você faz com que as pessoas tenham que se deslocar muito, então a prefeitura refletir sobre a geração mais distribuída de oportunidades vai fazer com que as pessoas consigam também ter uma maior qualidade de vida”, acrescentou.
Mulheres e mercado de trabalho
Para a Rede Nossa São Paulo, a pesquisa demonstra que os paulistanos têm uma visão bastante diferente quando o assunto é oportunidade de trabalho para as mulheres.
Sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho, a maioria da população relativa (47%) acredita que elas têm menos oportunidades do que os homens. Para 34%, elas têm as mesmas oportunidades de trabalho que os homens e, para 14%, mais oportunidades de trabalho do que eles.
Quando se analisa por gênero, há diferença no resultado. Enquanto 20% dos homens afirmam que as mulheres têm mais oportunidades de trabalho do que eles, o percentual cai para 9% entre elas. Da mesma forma, enquanto 41% dos homens afirmam que as mulheres têm as mesmas oportunidades que eles, o percentual é de 27% entre elas.
E, quando 33% dos homens respondem que as mulheres têm menos oportunidades de trabalho que eles, o percentual sobe para 60% entre elas.