(Pedro Gontijo)
Acordar bem cedo será um sacrifício recompensado com muita alegria para pelo menos 1 milhão de foliões a partir de amanhã. Essa é a multidão prevista para madrugar e curtir o maior Carnaval da história de BH apenas em alguns dos mais de 500 blocos que vão sair pelas ruas da metrópole.
A realização dos cortejos logo nas primeiras horas do dia tem se intensificado nos últimos anos. Desde 2012, após o movimento Praia da Estação, que reunia centenas de pessoas no hipercentro, essa tem sido a escolha de muitos grupos.
Para o público, motivos não faltam para pular da cama antes mesmo do sol despontar no horizonte. Dentre os principais, a facilidade de deslocamento no trânsito, que deve ficar tumultuado nos dias de festa, e a garantia de mais segurança, favorecendo a presença de famílias.
Conhecido por tradicionalmente abrir o primeiro dia oficial do Reinado de Momo, no Sábado de Carnaval, o “Então, Brilha!” inicia os trabalhos às 5h, quando cerca de 400 integrantes, incluindo batuqueiros, cantores e dançarinos, se organizam no centro da capital.
“Somos o bloco do sol, da manhã, do dia. É lindo de ver as pessoas saindo cedinho de casa, cheias de purpurina, glitter, pae-tês”, descreve o vocalista, Rubens Aredes. Apesar de não cravar a previsão de foliões, o cantor relembra os números de 2018 e projeta uma ampliação. No ano passado, o público foi de 150 mil, aproximadamente. “Especula-se que seja maior”, diz.
Acordar cedo em dia de festa, principalmente no dia do bloco dourado e rosa, já é comum para a marketóloga Jéssica Martins, de 23 anos. “O horário é mais tranquilo, combina com Carnaval”, afirma a mulher, que ainda acrescenta: “à noite, o Centro começa a ficar perigoso, as pessoas já estão muito loucas, o assédio é maior e as brigas, também”, afirma.
Porta-voz da PM, o major Flávio Santiago explica que no período noturno a falta de visibilidade pode contribuir para a prática de delitos. “Você tem o agente (criminoso) motivado, a vítima em potencial e o local propício”, explica. “Não dá para atrelarmos, mas é claro que na parte da noite existem as pessoas que fizeram uso de bebida alcoólica durante o dia inteiro”, diz o major, que garante um forte patrulhamento durante a festa.
Escolha influenciada
Outra agremiação de muita tradição que vai sair pela manhã é o Chama o Síndico, que sempre desfilou à noite, na quarta-feira que precede a celebração de Momo. A mudança leva em conta a nova data, local e horário. O cortejo acontecerá na Pampulha e deve atrair 150 mil pessoas no Domingo de Carnaval.
No dia seguinte, a energia começa cedo nas escadarias da Igreja São José, no hipercentro, pelos integrantes do Baianas Ozadas. “Vários casais tocam na nossa bateria, os filhos participam na ala infantil”, conta o idealizador e vocalista, Geo Cardoso.
A presença da família na festa fez parte da história de Carina Mendonça, de 34 anos. Em 2016, durante a folia, a arquiteta deu à luz à filha, Sol, justamente no dia do cortejo do Então, Brilha!. Agora, a menina, com 3 anos, já é fã da música baiana, glitter e fantasias.
“É engraçado, pois sempre me perguntam sobre os blocos para crianças, mas a Sol gosta de axé. Então, a gente leva para os blocos de adultos”, comenta Carina, que já se prepara para acompanhar, com a filha, o bloco Daquele Jeito, que sai na segunda-feira pela manhã. “De dia, a gente se sente mais seguro, mais tranquilo. Dá para aproveitar, se acabar, voltar para casa, dormir cedo e estar bem no dia seguinte”.
Quem também diz que a escolha da manhã ajuda curtir mais opções de grupos no mesmo dia é o advogado Daniel de Castro, de 27 anos. Ele irá acompanhar o Alô Abacaxi – grupo que presta homenagem a artistas da Tropicália. “É possível aproveitar o restante do dia em outros blocos”, diz Daniel. Um dos produtores do cortejo afirma que essa é a ideia que move o grupo. “Está no DNA do Abacaxi a promoção da diversidade, o combate ao racismo e ao assédio”, reforça Fernando Salum. Neste ano, 80 mil pessoas são esperadas no desfile que deve sair por volta das 9h na avenida Augusto de Lima, próximo à Barbacena.
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