Editoria de Arte
Minas Gerais desperdiçou, em 2016, 5,6 mil gigawatt-hora (GWh) de energia, 10% do que os clientes da Cemig consumiram. O volume é suficiente para iluminar por um ano a cidade de Santos Dumont, na Zona da Mata, e demandou gasto desnecessário de R$ 2,4 bilhões. Em todo o Brasil, 47 mil GWh foram jogados no lixo no ano passado, ao custo de R$ 20,4 bilhões. O volume daria para abastecer Ribeirão das Neves e Jaíba por 12 meses.
Ações simples, como tirar o carregador de celular da tomada quando o aparelho não estiver em uso, podem fazer diferença não só para os reservatórios, que amargam queda devido ao período seco, mas para reduzir a conta de luz, que está sobretaxada com a bandeira vermelha.
Os números foram levantados pela Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). Ainda conforme o estudo, nos últimos três anos o país dilapidou 143 mil GWh, o que daria para clarear Juiz de Fora por um mês inteiro. O volume custou R$ 61,71 bilhões aos brasileiros.O desperdício em casa é mais voraz. Em 2016, as residências gastaram, sem necessidade, 15% da energia consumida. O comércio aparece em segundo lugar, desperdiçando 11%, seguido pelas indústrias, com 6%. Na média, os brasileiros gastam 10,3% da eletricidade gerada.
Dois lados
O avanço da tecnologia atua como faca de dois gumes quando o assunto é economia. Enquanto novos equipamentos são lançados diariamente para reduzir o consumo de energia, o uso paulatino dos aparelhos faz com que o gasto seja maior.
“As TVs de LED surgiram como uma opção de queda no gasto energético na comparação com as de tubo. O problema é que antes as TVs eram de 29 polegadas. Hoje, elas são de, no mínimo, 40 polegadas. Ou seja, é uma tecnologia que gasta menos, mas o tamanho do equipamento faz com ele acabe gastando bem mais”, pondera o presidente da Abesco, Alexandre Moana. Ainda segundo ele, o uso moderado poderia refletir diretamente na conta de luz, puxando a tarifa para baixo.
Atualmente, a energia está sobretaxada devido à redução dos níveis dos reservatórios. Com as térmicas acionadas para completar a geração, as contas sofrem um impacto para cima. A cada 100 quilowatts-hora (KWh) gastos, o consumidor paga R$ 3 extras para arcar com o combustível usado pelas térmicas, mais caro do que a água das hidrelétricas. “Se o desperdício não fosse tão alto, talvez não fosse preciso acionar as térmicas. Ou demoraria mais para acioná-las”, diz Moama.
Economia poderia iluminar cidade de 50 mil habitantes
Minas possui 8,5 milhões de residências clientes da Cemig. Se cada uma delas economizasse 1 quilowatt-hora (KWh) por mês, os mineiros deixariam de gastar 8,5 mil megawatt-hora (MWh) mensalmente, o suficiente para iluminar uma cidade de 50 mil habitantes, como Itabirito, na Região Central do Estado.
Para saber se o consumo de energia de uma casa é exagerado, basta entender a conta de luz. Segundo o engenheiro de Soluções Energéticas da Cemig, Luciano Barreto, em média, uma família de quatro pessoas consome 120 KWh por mês, o equivalente a 30 KWh por pessoa no mês e a 1 KWh por dia. “Todas essas informações são impressas na conta, inclusive o consumo diário. O problema é que as pessoas não têm o hábito de conferi-la”, afirma.
Barreto ressalta que nas residências em que moram menos pessoas o gasto per capita será maior. Afinal, o consumo de eletrodomésticos que não são desligados, como a geladeira, não serão divididos. Mesmo assim, o gasto individual não deve ultrapassar os 50 KWh. “Se passar, há desperdício”, diz.
Segundo o especialista, existem duas formas de reduzir a conta: ou pela potência dos equipamentos ou pelo tempo de uso deles. O primeiro passo é verificar o selo Procel do aparelho. O selo classifica objetos por letras. Aqueles que recebem a classificação ‘A’ gastam menos luz.
“Existem chuveiros de 5 mil watts e de 3 mil watts. Dê preferência ao menos potentes. Também é importante não colocar alimentos quentes na geladeira, pois ela vai precisar gastar mais energia para resfriar. Trocar as lâmpadas por LED também é uma ótima opção”, diz.
O policial rodoviário federal Cristian Coimbra foi por essa linha. Ele trocou as lâmpadas antigas pelas LED e sempre que pode dá preferência à iluminação natural. Além disso, o chuveiro escolhido por Coimbra é mais econômico. “Vivemos em uma era muito tecnológica. Tendemos a gastar cada vez mais ao consumirmos tanta tecnologia. O que podemos fazer é dar prioridade aos aparelhos de menor voltagem”, diz.
A educadora física Patrícia Lessa também economiza o quanto pode. “Não só desligo os aparelhos como tiro os fios das tomadas”, afirma.
ALÉM DISSO
A Efficientia, braço da Cemig, inaugurou, ontem, uma usina solar fotovoltaica na Fapemig, região Nordeste de Belo Horizonte. Com investimento de aproximadamente R$ 1 milhão e potência instalada de 157 kWp (quilowatt-pico), a usina vai proporcionar à instituição de pesquisa uma economia anual de R$ 125 mil na conta de energia.
Os recursos utilizados para a instalação da usina fotovoltaica na Fapemig são provenientes do Programa de Eficiência Energética da Cemig e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Além desse empreendimento, a Efficientia, em parceira com a Alsol, foi responsável pela engenharia da usina solar fotovoltaica implantada, recentemente, no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec). O sistema instalado na BHTec teve investimento de cerca de R$ 800 mil e conta com potência elétrica de 107 kWp. A instituição deve economizar quase R$ 70 mil por ano graças a esse empreendimento. A usina está em operação desde o mês passado.
De acordo com o diretor-presidente da Efficientia, Alexandre Heringer Lisboa, a instalação das usinas vai contribuir para a redução da carga do Sistema Integrado Nacional (SIN). “Imagine se todas as grandes empresas pudessem gerar parte da energia que consomem. Isso traria grandes benefícios para todo o sistema elétrico”, avalia.
O engenheiro de tecnologia e normalização da Efficientia, Márcio Eli Moreira de Souza, destaca o potencial solar de Minas para a instalação das usinas solares e os incentivos do Estado para essa modalidade de geração, como isenção de ICMS para geração distribuída.