A mulher que matou a mãe, de 67 anos, e a filha, de 10, no começo de março, no Piratininga, região de Venda Nova, em BH, não teve surto psicótico e cometeu os assassinatos porque a idosa parou de repassar dinheiro para ela.
O inquérito foi concluído na última sexta-feira (24) e as informações foram repassadas pela Polícia Civil em coletiva na manhã desta segunda-feira (27).
(Pedro Faria/Hoje em Dia)
Vítima da própria filha, a idosa seria a responsável por sustentar a casa. Aos 67 anos, ela trabalhava como faxineira em dois períodos e também recebia uma aposentadoria fixa. De acordo com as investigações, a mãe descobriu que a filha usava o dinheiro que recebia para comprar drogas. Originalmente, os valores seriam destinados à quitação do apartamento da família, mas ele já estava pago desde novembro.
Para a delegada Iara França, a autora era uma pessoa muito fria e calculista. “É uma pessoa que cresceu de forma muito egoísta, possessiva e controladora. Todos relatam que ela também era muito manipuladora. Sempre tentava se ajeitar nas situações para sair como vítima. Com essa forma controladora, sabendo que seria presa, resolveu levar a criança também para que a guarda não fosse repassada para a família paterna”, contou a delegada.
A mulher também controlava tudo que acontecia na casa. Ela cortou o contato da filha com a família do pai, após a criança perder o progenitor em 2018, assassinado por envolvimento com o tráfico. "Ela não aceitava que a família paterna tivesse muito contato com a filha, apesar dela não nutrir muito afeto com a criança. Quem cuidava era a avó”, explicou Uara França.
Na época do crime, a autora disse que “sentiu uma vontade sobrenatural” e acabou por cometer os homicídios. A suspeita era de que teria entrado em surto psicótico. A hipótese foi descartada após o término do inquérito.
“Qualquer pessoa que cometa um crime de tamanha barbárie vai alegar uma imputabilidade. É importante dizer que o fato de a pessoa ter algum distúrbio não necessariamente a liga ao fato de ser imputável. Se ficar comprovado que durante o ato entendia tudo que estava fazendo, fica bem evidenciado. Ela até usou artifícios para disfarçar o cheiro do corpo da mãe. Isso tudo indica que sabia muito bem o que estava fazendo. Ela é uma pessoa sã e imputável”, explicou o delegado Frederico Abelha, na mesma coletiva.
A mulher chegou a ser presa e encaminhada para um presídio. Depois, foi levada para uma clínica para realizar exames. A reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) para saber se a acusada voltou para a prisão e aguarda retorno.
Relembre o caso
A criança de 10 anos e a idosa, de 67, foram encontradas mortas em uma casa no Piratininga, região de Venda Nova, em BH, na tarde de quarta-feira (15). Havia vazamento de gás no local, segundo a Polícia Civil. A suspeita foi encontrada desacordada em cima do fogão da casa.
À polícia, a autora disse que a criança chegou a fazer um pedido de socorro pouco antes de morrer. A menina teria dito que procuraria "alguém de confiança" ou a PM após saber da morte da avó, ocorrida na segunda-feira (13). A mãe, porém, ignorou a filha e provocou o vazamento do gás de cozinha.
Essas informações constam do boletim de ocorrência da Polícia Militar. Nele, a mulher narra que estava "brincando" com a idosa no quarto. Foi quando teria passado o braço ao redor do pescoço da vítima e a estrangulado.
À polícia, a mulher contou que tentou cortar os pulsos da filha, mas "a faca era ruim e a menina sentia dor". Além disso, iria matar a garota da mesma forma que matou a idosa.
No entanto, ao aplicar o mata-leão, a criança resistiu, segurando o braço da mãe durante o golpe. Nesse momento, a mulher optou por amarrar os braços da criança com uma calça para concluir o crime. A suspeita chegou a tomar medicamentos para tentar suicidar. Como não conseguiu, voltou ao local na quarta (15) e resolveu provocar o vazamento de gás.
O forte cheiro, no entanto, fez com que os vizinhos acionassem a Polícia e o Corpo de Bombeiros. Ela foi encontrada inconsciente no apartamento e socorrida até o hospital João XXIII.
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