Dilemas brasileiros após a divulgação do PIB em baixa

Hoje em Dia
04/12/2013 às 07:22.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:33

Quem gosta de más notícias se dá por satisfeito nesta semana. Primeiro, o noticiário destacou a redução de 1,7% do valor do benefício de quem vai se aposentar, e não a boa notícia: a expectativa média de vida do brasileiro aumentou para 74,6 anos. Em seguida, a queda do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre. O PIB caiu 0,5% em relação ao segundo semestre.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, se apressou a justificar o percentual divulgado na manhã de terça-feira (3) pelo IBGE: a base de comparação fica mais difícil após um bom trimestre. No segundo trimestre, o PIB crescera 1,8% sobre o primeiro.

Ele poderia também lembrar que, no terceiro trimestre, foi noticiado com alarde sucessivas elevações das taxas de juros, desestimulando os investimentos e o consumo das famílias. Estas, corretamente, preferem poupar para pagar suas dívidas e escapar do garrote dos juros altos.

O ministro acabou apimentando o noticiário, ao informar que, entre as 20 nações que fazem parte do grupo dos países mais desenvolvidos, o Brasil foi o que menos cresceu no último trimestre. A par disso, verificava-se que essa era a primeira queda do PIB desde o começo 2009, auge da crise financeira internacional iniciada no ano anterior.

Uma boa notícia: o PIB do terceiro trimestre deste ano, comparado com igual período de 2012, cresceu 2,2%. E o próprio PIB de todo o ano passado, depois de revisado pelo IBGE, apresentou crescimento de 1% sobre o ano de 2011 – e não de 0,9%, o menor em três anos.

Talvez a imprensa tivesse dado atenção à boa notícia, se a presidente Dilma Rousseff não houvesse afirmado recentemente, em entrevista ao jornal espanhol “El País”, que o PIB havia sido revisado para 1,5%. Do mesmo modo, se Mantega não tivesse previsto, na véspera do anúncio do IBGE, que na comparação com o terceiro trimestre do ano passado o PIB aumentou 2,5%. Tais equívocos, partidos de autoridades importantes, acabam excitando o noticiário. Mas sinalizam também o empenho do governo de produzir as condições, até mesmo psicológicas, para o maior desenvolvimento econômico do país.

Daí a ênfase que o IBGE procurou dar ao crescimento de 2,4% do PIB nos primeiros nove meses deste ano, com destaque para a agropecuária, que aumentou 8,1%, enquanto a indústria cresceu 1,2% e os serviços, 2,1%.

O problema é que, no terceiro trimestre, a formação bruta de capital fixo diminuiu 2,2%. Este é um indicador dos investimentos que as empresas fazem de olho numa demanda maior.

Obrigado a pagar mais juros de sua dívida, a partir da escalada da Taxa Selic, o governo enfrenta ainda elevação de 1,2% no consumo da administração pública, no terceiro trimestre. Enquanto isso, o PIB sobe pouco, reduzindo a expectativa de arrecadar mais impostos para investir e impulsionar a economia num ano eleitoral.  

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