Dilma diz que vai lutar até o fim contra processo

Rachel Gamarski, Carla Araújo, Igor Gadelha, André Magnabosco e Mateus Fagundes
12/05/2016 às 13:15.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:24

Numa fala emocionada e ao lado dos ministros de seu governo, a presidente afastada Dilma Rousseff afirmou que seu afastamento após a abertura do processo de impeachment no Senado ameaça levar a democracia e as conquistas que a população alcançou nas ultimas décadas. "Tenho sido uma fiadora zelosa do Estado Democrático de Direito", disse.

A presidente se dirigiu à população e afirmou que o País e disse que "o golpe não visa apenas a destituir uma presidente eleita pelo voto", mas a "impedir a execução do programa que foi escolhido pelos votos majoritários dos 54 milhões de brasileiros". "O maior risco para o País neste momento é ser dirigido por um governo dos sem voto, que não foi eleito pelo voto direito. Um governo que não terá a legitimidade para propor e implementar soluções para os desafios do Brasil e que pode se ver tentado a reprimir os que protestam contra ele", disse.

Dilma lembrou que, durante as manifestações populares, seu governo não cometeu nenhum ato contra manifestantes de qualquer posição política.

A presidente afirmou que exerceu seu mandato de forma digna e honesta e que honrou os votos que recebeu. "Em nome desses votos vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para exercer meu mandato até o fim, até 31 de dezembro de 2018", afirmou.

Emocionada, Dilma afirmou que, no espelho, "o mais importante é que pode ver a face de alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem força para defender suas ideias e seus direitos". "Nunca imaginei que seria necessário lutar de novo contra um golpe no meu País, nossa democracia é jovem, feita de lutas, sacrifícios e mortes não merece isso", disse.

A presidente pediu que os que são a favor de seu governo continuem lutando. "A luta pela democracia não tem data para terminar. É longa, e pode ser vencida e nós vamos vencer", disse antes de fazer um chamado para que todos "mantenham-se mobilizados, unidos e em paz".

Ao lados de ministros, a presidente afirmou que, "a história é feita de luta e sempre vale a pena lutar pela democracia". "A democracia é o lado certo da história. Jamais vamos desistir, jamais vou desistir de lutar", finalizou.

Manifestantes

Do lado de fora do Planalto, Diolma disse que hoje é um dia muito triste. "Vivemos uma hora triste para a democracia brasileira. A jovem democracia brasileira está sendo vítima de um golpe daqueles que perderam as eleições e tentam agora chegar ao poder", afirmou.

Enquanto se preparava para falar à militância, Dilma perguntou a assessores "onde está o Lula?". O ex-presidente se posicionou atrás da presidente afastada enquanto ela falava, mas não discursou.

A petista repetiu os termos do pronunciamento feito minutos antes dentro do Palácio do Planalto. Ela afirmou que tem orgulho de ter sido a primeira mulher a ser eleita para o cargo de presidente e argumentou que os atos pelos quais está sendo afastada eram "corriqueiros" de outros governos. "Este golpe está baseado em razões levianas e injustificáveis", afirmou.

Dilma também disse que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), somente aceitou o seu pedido de impeachment por "vingança". "Eu não sou mulher de aceitar este tipo de chantagem", disse, em referência ao processo contra o peemedebista que tramita no Conselho de Ética da Câmara.

Ao final, em mais um ataque aos "golpistas", Dilma disse que foi vítima de traição e injustiça. "Hoje é um dia triste, mas agradeço alegria e o calor das pessoas que vieram aqui para me cumprimentar", disse.

Em diversos momentos, a presidente foi interrompida por gritos dos manifestantes. Os apoiadores gritaram palavras de ordem contra Temer e favoráveis à presidente.

Após cumprimentar a militância, Dilma saiu de carro em direção ao Palácio da Alvorada.

Confusão

Militantes localizados em frente ao Palácio do Planalto agrediram uma equipe da GloboNews que filmava a saída da presidente afastada do Planalto. O incidente aconteceu quando o cinegrafista Wesley Araruna e o repórter Marcelo Cosme gravavam o momento em que Dilma se dirigia ao pé da rampa para fazer seu discurso.

Mulheres com camisas do PT e de outros movimentos sociais gritaram com o repórter e com o cinegrafista, chamando a TV Globo de "golpista". Quando os ânimos estavam exaltados, alguns militantes empurraram o repórter e o cinegrafista, no momento em que gravavam, pedindo que eles se retirassem do local.

Alguns militantes tentaram puxar o microfone do repórter, para tentar impedi-lo de gravar. Os dois tiveram de deixar o local próximo de onde Dilma falou e se dirigiram para uma área mais reservada.
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